Vitorino e Janita Salomé, Sérgio Godinho, Brigada Victor Jara. E muitos, muitos mais. Ao longo do mês de Abril, em Ourém e de norte a sul do distrito de Leiria, há palco para as palavras, os sons e as imagens que celebram a revolução do pão, da habitação, da saúde e da educação. Vem à memória uma frase batida (a cantiga é uma arma) e recorda-se o caminho da ditadura para a democracia, enquanto, através da arte, se festeja a liberdade conquistada há 50 anos. Com livros e música, mas também com teatro, dança e cinema. Não falta o que escolher, entre centenas de espectáculos, concertos e exposições, nos vários concelhos da região, alguns deles já nos próximos dias.
Em Leiria, foi inaugurada esta quinta-feira, na Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira, a exposição 25 de Abril – 50 Anos, de Alfredo Cunha, que captou em Lisboa os principais momentos do golpe militar de 1974, com 20 anos de idade, em serviço para o jornal O Século, incluindo a icónica fotografia de Salgueiro Maia no Largo do Carmo.
Outro destaque, em Leiria, é a Festa do Povo, de 24 a 28 de Abril, com tasquinhas, artesanato, reconstituições etnográficas, momentos encenados, animação deambulante e concertos de Magma, Banda Kroll, Elsa Gomes, Índios da Meia Praia, David Fonseca, Orquestra Jazz de Leiria com Samuel Úria, o tributo a Zeca Afonso pelo coro Ninfas do Lis, Catraia e Inês Apenas a cantarem Abril, JP Simões e Surma com canções de José Mário Branco e, no contexto do 42.º Festival Música em Leiria, a Orquestra Filarmonia das Beiras com Vitorino e Janita Salomé.
Mas há mais, em Leiria, de cravo ao peito: o espectáculo Ondas da Liberdade pelo Leirena; um concerto para bebés (da companhia Musicalmente, dirigida por Paulo Lameiro) com o tema “Vozes que Libertam”; a recriação A Revolta do Milho, pelo grupo de teatro O Gato; os concertos “Música da Liberdade” por filarmónicas do concelho, em diferentes freguesias; a estreia de filmes alusivos a Octávio Sérgio, António Caseiro e Augusto Mota; a exposição Artistas na Fábrica sobre Tereza Arriaga, Jorge Oliveira e Manuel Filipe.
Brigada Victor Jara na Marinha Grande
Na Marinha Grande, o arranque do programa que comemora os 50 anos do 25 de Abril acontece no próximo domingo, 7 de Abril, pelas 16:30 horas, no Teatro Stephens, com um espectáculo de entrada gratuita, organizado em parceria com a ACR Comeira, que, segundo o Município, procura proporcionar uma “jornada musical emotiva e envolvida em canções de resistência e esperança”, tanto as “que se tornaram hinos” como “as que reflectem as transformações sociais, políticas e culturais que se seguiram à revolução”. Participam Miguel Calhaz, Maiseu, Teatro do Botão, Vira Vadio e Cais da Saudade. Momento alto será, certamente, o concerto da Brigada Victor Jara, na noite de 24 de Abril, na Praça Stephens. Na biblioteca municipal, a Festa da Leitura, que decorre ao longo do mês, também tem como inspiração o 25 de Abril em algumas das acções previstas, que incluem a participação do escritor José Fanha.
Em Alcobaça, a Banda Sinfónica de Alcobaça está a preparar o concerto “Freedom, Libertad, Liberté, Liberdade!” e o espectáculo 25 de Abril Como Eu O Vivi, com produção da Foco Lunar, colocará em palco o autor José Jorge Letria, acompanhado pelos músicos Diogo Oliveira e António Palma e pelo actor Tobias Monteiro, que é natural da Batalha. “A oportunidade de o público ouvir o José Jorge a falar do 25 de Abril” e da “relação dele com o Zeca Afonso”, diz ao JORNAL DE LEIRIA. “O que acho mesmo interessante é conseguirmos na primeira pessoa um dos grandes nomes do movimento artístico associado à revolução”, com “detalhes que as pessoas desconhecem”, por exemplo, a necessidade de “às escondidas, passarem letras uns aos outros”.
A morte de um ditador
Entretanto, na Batalha, e já no sábado, 6 de Abril, pelas 17 horas, as Capelas Imperfeitas do Mosteiro de Santa Maria da Vitória acolhem o concerto “50 Anos a Cantar Liberdade”, com o AdesbaChorus da Barreira, o Grupo Coral do Arrabal e o Grupo Coral Infantil AC Coral Mezzo de Leiria, sob a direcção do maestro Jorge Narciso. Ainda na Batalha, o mês de Abril traz uma conversa com o antigo ministro Álvaro Laborinho Lúcio e o músico Júlio Resende com o espectáculo “Fado Jazz – Filhos da Revolução.”
Uma das propostas mais originais no programa do concelho de Pombal – onde está em agenda o concerto “Liberdade25” de Sérgio Godinho e uma conversa de Fátima Campos Ferreira com o antigo presidente do Conselho da Revolução, e depois Presidente da República, António Ramalho Eanes – é a instalação e performance Death of a Dictator, pelo colectivo Serra, que vai recriar, na Casa Varela, o castigo de ditadores como Benito Mussolini, Adolf Hitler ou António Oliveira Salazar. Quase uma dezena de mortes, que incluem Maria Antonieta na guilhotina e Saddam Hussein na forca. “A morte de um ditador é uma coisa boa? Será que a morte de um indivíduo, seja ele quem for, deve ser celebrada?”, questionam os autores (direcção artística de Leonardo Rito, Pedro Marques e Telmo Soares) no dossiê de divulgação. “Pomos as cartas em cima da mesa e cabe ao espectador decidir”, comenta Leonardo Rito com o JORNAL DE LEIRIA. Sem moralismos, pretendem “abrir espaço para a conversa”, explica Telmo Soares. “Como as imagens são fortíssimas, criam um choque, à partida, e esperamos que o choque leve a alguma reflexão”.
Em Ourém, três destaques: o ciclo de cinema (já a decorrer) subordinado ao tema “Liberdade a Sério”; a peça de teatro Era Uma Vez um País a Preto e Branco, pela companhia Estórias Com Asas; e o concerto de João Afonso com a Big Band da Nazaré.
Na Nazaré, já está patente no centro cultural a exposição Da Escuridão da Ditadura à Luz da Democracia, e, em Caldas da Rainha, no sábado, 6 de Abril, estreia o espectáculo Revolution (Título Provisório), uma cocriação ASTA, Baal17, d’Orfeu AC e Teatrão, com encenação e dramaturgia de Gonçalo Guerreira, e 16 actores e músicos a desafiarem o espectador para uma avaliação do percurso desde 1974 até aos dias de hoje.