A pandemia forçou uma mudança nas rotinas laborais com a necessidade de manter muitos portugueses em teletrabalho. O Governo já perspectivou que o trabalho à distância pode ter vários benefícios, entre os quais contribuir para o povoamento das regiões do Interior, e acaba de criar uma medida que pretende apoiar empresas do Litoral dispostas a gerar emprego, através de teletrabalho, precisamente nas regiões do Interior do País.
Ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA, residentes e autarcas do Norte do distrito de Leiria reconheceram que este pode ser o incentivo que faltava para gerar dinâmica nos seus concelhos.
Rosa Duarte, de 39 anos, e o marido, Carlos Valente, de 40, deixaram Ansião há cerca de dez anos em busca de realização profissioal em Lisboa. No início de Maio, a professora e o informático decidiram regressar às origens para, uma vez confiados, poderem continuar a trabalhar, em regime de teletrabalho, ao mesmo tempo que proporcionavam à filha, de dois anos, mais seg urança e espaço para brincar. Podendo aproveitar “o apoio da família também residente em Ansião, e garantir à criança um crescimento “mais livre”, o casal aceitariade bom grado transferir-se para o Norte do distrito, onde pudesse continuar a sua actividade, em teletrabalho, ao mesmo tempo que iria beneficiar de serviços e de equipamentos a custo bastante inferior àquele que é praticado na capital. A começar pelo infantário, exemplifica Rosa Duarte.
A pensar em casais como Rosa e Carlos, e inserido no seu Programa de Estabilização Económica e Social, o Governo criou um apoio à contratação em regime de teletrabalho, no âmbito do já existente programa+ CO3SO Emprego . Segundo o documento, publicado em Diário da República no passad o dia 6 , o Governo define umvalor demetade de um IAS – Indexante de Apoios Sociais (438,8 euros) para as empresas do Litoral que criem postos de trabalho no Interior, mas desde que seja em teletrabalho. Um apoio que pode durar 36 meses.
A medida tem um orçamento de 20 milhões de euros. Esta estratégia tem como destinatários os funcionários públicos. Recorde-se que o Governo já tinha fixado que, até ao final da legislatura, pretendia ter em teletrabalho pelo menos 25 % dos trabalhadores, de entre o universo daqueles que exercem funções compatíveis com esta modalidade de trabalho. Funcionários públicos, mas não só.
O Governo também pretende apoiar a criação de espaços de coworking, e para isso orçamentou cerca de 4,4 milhões de euros. O Executivo entende que “a implementação destes espaços tenha elevado potencial de captação dos novos nómadas digitais e de millennials, entre outros”. Célia Marques é presidente do Município de Alvaiázere, onde, no passado sábado, foi inaugurada uma segunda incubadora de empresas, que vem gerar mais de 50 postos de trabalho (ver caixa).
Ao nosso jornal, a autarca diz que estas medidas do Governo podem ser “o impulso que faltava”, na medida em queas Câmaras do Norte do distrito de Leiria “já fizeram tudo o que estava ao seu alcance” para incentivar o povoamento destes concelhos, para atrair empresas e melhorar a qualidade de vida dos munícipes. O transporte gratuito dos alunos de Alvaiázere, desde o pré-escolar ao primeiro ciclo, é um desses incentivos, exemplifica a autarca.
Mas a estes apoios, aponta a presidente, tem de ser adicionada uma intervenção estatal, junto de empresas privadas [LER_MAIS]de telecomunicações, para que estas assegurem a cobertura de internet que ainda não se faz correctamente em vários pontos do seu concelho e que é, de resto, um “problema transversal para todo este território de Interior”.
A cobertura da internet, que não chega a todos os locais do concelho, é um entrave também observado por Alda Carvalho, presidente de Câmara de Castanheira de Pera, um problema que urge resolver para tornar o teletrabalho viável. De resto, também esta autarca enfatiza que os Municípios do Interior de tudo têm feito para captar população para os seus concelhos. Um Imposto Municipal sobre Imóveis baixo e que tem em consideração o número de pessoas que compõem o agregado é disso exemplo, aponta a presidente. Nas últimas semanas têm sido muitas as pessoas com e sem ligação a Castanheira de Pera que têm procurado habitação naquele concelho e, nota a presidente, o Município continuará a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para providenciar os equipamentos necessários a quem queira morar e trabalhar naquele território.
Alvaiázere soma segunda incubadora de empresas
Alvaiázere inaugurou no passado sábado, no Dia do Município, a sua segunda incubadora de empresas, uma estrutura que visa travar o despovoamento do concelho, criando agora mais 50 postos de trabalho. Segundo a Câmara Municipal de Alvaiázere, a primeira incubadora de empresas já está lotada. Em quatro anos, a área empresarial do concelho duplicou. “Investimos na qualidade de vida de quem vem para cá trabalhar. A verdade é que está a resultar”, informa a presidente da Câmara Municipal, Célia Marques. A nova incubadora contém laboratórios, salas de formação, de reuniões e de cowork, um auditório e capacidade para acolher cerca de 50 postos de trabalho das empresas que a forem ocupar. Segundo o Município, este pólo tem também uma “característica invulgar”, já que integra uma pequena unidade hoteleira para hospedar investidores ou empresários de passagem pelo concelho, formadores ou investigadores na área das ciências empresariais que queiram fazer em Alvaiázere os seus estudo de caso. São dois quartos duplos, mais duas camaratas de dez pessoas cada, perfazendo um total de 24 camas, salienta a Autarquia