Há quatro anos que Dodô não vê a família. Deixou o Mindelo para jogar andebol na Europa e há três anos deixou o norte do País para se fixar em Leiria e na Juve Lis. “No início, faltou o abraço”, diz.
A saudade, tão presente nas mornas que se cantam na cidade onde cresceu, aperta-lhe o coração, mas encontrou uma nova família, que não é de sangue, mas que lhe vai aquecendo alma. “Não substitui, mas dá conforto.”
As redes sociais acabaram por mitigar as distâncias, mas Kivan, que chegou a Leiria dois meses após Dodô, não aguentou as distâncias e passou o último Natal e a passagem de ano na capital da ilha de São Vicente, em Cabo Verde.
No início da temporada, o contingente cabo-verdiano da Juve Lis aumentou para três, com a chegada de Élcio, o único de Santiago, ligado ao FC Porto e a rodar no segundo escalão.
Apesar do frio, que para alguém oriundo das ilhas da morabeza parece polar, sentem-se felizes em Leiria. “Está óptimo. Só colocava a família perto de mim”, admite Kivan. Eles fizeram o que tantos e tantos compatriotas tiveram de fazer e partiram à procura de novas e melhores oportunidades.
A nível andebolístico “foi um salto gigantesco”. “Nada tem que ver.” Estão a cumprir os objectivos e, “apesar de ser difícil”, alimentam o sonho de colocar a equipa de André Afra no patamar mais alto do andebol português.
Por estes dias trocaram o vermelho do clube pelo azul da selecção. Pela primeira vez, o país marca presença na mais importante prova continental da modalidade e a Juve Lis é o clube mais representado entre os convocados da delegação insular.
Após um estágio em Portugal, no Centro de Alto Rendimento do Jamor, o guarda-redes Élcio Fernandes, o pivot Kivan Dongo e o universal Edilson Morais, o tal Dodô, partiram para o local da prova.[LER_MAIS]
É precisamente contra o anfitrião, actual detentor do título e vencedor de dez das 23 edições da prova, que Cabo Verde se estreia, num grupo que integra também Camarões e Costa do Marfim. A Tunísia será um adversário duro de roer, ainda para mais a jogar em casa, mas eles não desarmam.
“Queremos sair do anonimato. Temos bons jogadores em todas as posições e o objectivo é passar à fase seguinte”, avança o pivot, de 23 anos. O “orgulho” de representar os tubarões é enorme. Kivan admite que se arrepia sempre que houve o hino. “Tenho de me conter para não chorar. É uma emoção muito grande.”
Dodô sabe que a “expectativa é elevada” e sublinha o quão importante é ver Portugal a fazer grandes resultados no Europeu. A selecção, orientada por José Tomaz, um histórico do andebol português, só tem um andebolista que joga em Cabo Verde.
A maioria alinha em Portugal, mas também em Espanha, Alemanha e França. “Não vou dizer que somos candidatos, mas vamos ver o que dá. Temos um país inteiro a torcer por nós.” E Leiria também.