Como está o panorama do mercado nacional, agora que estamos a cerca de mês e meio do final do ano?
No mês de Outubro de 2019 foram matriculados em Portugal 15.649 automóveis ligeiros de passageiros novos, ou seja, mais 12,2 por cento do que no mês homólogo do ano anterior. Nos dez meses de 2019, as matrículas de veículos ligeiros de passageiros totalizaram 189.673 unidades, o que se traduziu numa variação negativa de 3,5 por cento relativamente a período homólogo de 2018. Podemos afirmar que a variação percentual do mercado registada em Outubro (+12,2%) não reflecte a evolução real do mercado, pois compara com um valor homólogo do ano anterior, anormalmente baixo, devido à introdução do ciclo de ensaios WLTP [Worldwide Harmonized Light Vehicles Test, os novos testes exigidos pela União Europeia para um controlo fidedigno de emissões e de consumos]. Já a variação negativa observada no período acumulado reflecte o verdadeiro momento do mercado e que consiste num abrandamento.
O sector dos moldes e plásticos, um dos mais importantes clusters da indústria nacional, vive um tempo de incerteza semelhante ao que existe no sector automóvel, devido à indefinição sobre o que o futuro será em termos de propulsão eléctrica ou convencional. Fazendo um exercício de “pré-vidência”, acredita que os consumidores vão, a médio prazo, optar por uma das soluções e permitir aos fabricantes ultrapassar esta indefinição?
O Parlamento Europeu e a Comissão aprovaram, no final do ano passado, metas muito ambiciosas para a redução das emissões de dióxido de carbono dos veículos a colocar no mercado em 2030 e 2025. Estas metas levam os construtores a ter, cada vez mais, uma oferta maior de veículos eléctricos ou híbridos plug-in. Mas o mercado continuará a passar pelos motores de combustões internas, de baixas emissões conforme prevêem as normas Euro.
Para onde caminharemos, no futuro, com a adopção de carros autónomos? Para menos automóveis na estrada e maior partilha? Já temos a mentalidade certa para isso?
A Volvo, por exemplo, parece estar já a apostar nesse capítulo. O car-sharing e a condução autónoma poderão transformar radicalmente a forma como o consumidor se relaciona com o automóvel. Por exemplo, neste último caso, existem visões futurísticas que revelam veículos sem condutor, com emissões zero, a efectuar entregas de mercadorias ou a levar pessoas aos seus empregos. Poderemos estar no limiar de uma revolução tecnológica que gerará novos serviços e novas oportunidades de negócio, redefinindo os conceitos de posse e de propriedade de um veículo o que, certamente, conduzirá as empresas do sector a novos desafios. Sem dúvida que o car-sharing e a condução autónoma são dois dos principais impulsionadores tecnológicos da indústria automóvel na próxima década.
A consciência ecológica é algo que está presente na mente dos portugueses, quando adquirem uma nova viatura?
Não existem estudos científicos que nos permitam concluir pela afirmativa, no entanto, nota-se uma tendência crescente da parte dos clientes para se preocuparem com os problemas ambientais.
A conversão e adopção de valências de electrificação nas oficinas e nos serviços de após-venda, afinal, foi fácil?
As oficinas e os serviços após-venda têm vindo, nos últimos anos, a modernizar-se. A generalidade das marcas de automóveis está hoje preparada para a assistência de veículos eléctricos em todo o País. As operações e sistemas logísticos tiveram, igualmente, um desenvolvimento extraordinário, o que permite que as oficinas tenham cada vez menos armazenamento de peças. O cliente deixa o seu carro de manhã na oficina, as peças são colocadas num sistema de encomendas online, o distribuidor entrega-as de manhã e o cliente levanta o carro ao fim da tarde, com o serviço efectuado e as peças incorporadas na sua viatura.
automóvel
nacional já possui
uma idade média
de quase 13 anos,
encontrando-se
bastante
envelhecido
Está cientificamente provado que o gasóleo polui menos do que a gasolina? Por que razão há um estigma tão grande em relação a esta tecnologia?
O que se verifica é que os veículos a diesel emitem menos dióxido de carbono do que os veículos a gasolina. E, desde a assinatura do Protocolo de Quioto e dos Acordos de Paris, que a redução desse gás que provoca o efeito de estufa é o principal objectivo. Na União Europeia, espaço onde estamos integrados, também as metas fixadas, que referi anteriormente referi, são baseadas no dióxido de carono. Neste caso, os veículos a diesel são importantes para o cumprimento daquelas metas, porque emitem menos CO2. Aliás, a recente transferência de vendas dos veículos diesel para os veículos a gasolina tem levado ao aumento das emissões médias de carbono, quer na Europa quer em Portugal.
A ACAP relançou, recentemente, o seu programa de credibilização de veículos usados com o objectivo de “combater a proliferação de práticas ilegais” e de aumentar a segurança de quem compra…
A ACAP relançou o seu Programa Usado a 17 de Outubro, num momento em que as vendas de veículos usados representam cerca de 2,5 vezes do mercado de veículos em Portugal. Com este programa temos captado novos parceiros e oferecido mais vantagens aos clientes destes veículos. O principal objectivo do Programa Usado ACAP é, essencialmente, a necessidade de combater a proliferação de práticas ilegais, de concorrência desleal, que denigrem a imagem pública do comércio profissional e colocam em risco os direitos do consumidor. Sabemos que está a ser muito bem acolhido quer pelas empresas do sector, quer os grupos de retalho automóvel, quer as empresas não integradas em nenhum grupo! Pelo [LER_MAIS]nteresse nele, manifestado diariamente, temos a certeza que constitui uma mais-valia para todos os participantes no mercado automóvel, empresas e consumidores. Verifica-se que as empresas estão muito preocupadas com o cumprimento da legislação em vigor, pelo que adesão ao nosso programa permite-lhes, além do seu cumprimento, também a adopção de um conjunto de boas práticas, que reforçam a confiança dos seus clientes. Assim, quem vende, sabe que vende em conformidade com a legislação e, quem compra, tem a confiança de comprar num estabelecimento certificado e auditado, estando os seus direitos enquanto consumidor, acautelados. Na ACAP, consideramos que, cada vez mais, o veículo automóvel usado é uma opção válida para o consumidor português, constituindo uma decisão importante no seu orçamento familiar. Por este motivo, a credibilização do negócio de usados é, há mais de 20 anos, uma prioridade para nós e para os nossos associados que actuam no mercado com uma postura ética, transparente e em leal concorrência.
Que mais medidas se poderão tomar para insuflar vida no mercado nacional de viaturas novas?
Há, neste momento, uma necessidade premente de renovação de frotas por veículos menos poluentes e mais seguros, pelo que a ACAP defende a reintrodução já em 2020 do programa de incentivos ao abate para a aquisição de veículos novos com reduzidas emissões de CO2 por contrapartida do abate de veículos em fim de vida. Em 2018, foram entregues para abate, na rede Valorcar, veículos com cerca de 22 anos de idade média. Esta média tem vindo a subir e, no período em análise, apenas decresceu em 2009, ou seja, na altura da vigência do pro- grama de incentivos ao abate de veículos em fim de vida. Em 2000- 2011, o último ano em que estas medidas foram aplicadas, o incentivo foi apenas para a aquisição de veículos eléctricos e, precisamente, foi o ano em que foram abatidos mais veículos (41.735). De acordo com os cálculos da ACAP, encontram-se presentemente em circulação em Portugal cerca de um milhão de automóveis ligeiros de passageiros com mais de 20 anos, ou seja, veículos com emissões de dióxido de carbono, pelo menos, 30% mais elevadas do que a meta definida pela Comissão Europeia para 2021. É, pois, necessário actuar com urgência na renovação do parque automóvel nacional para reduzir as emissões poluentes e de gases com efeito de estufa. Entendemos que, as verbas do Fundo Ambiental que, segundo a Comunicação Social, irá aplicar este ano uma verba de 500 milhões de euros, também deverão ser aplicadas na renovação do parque automóvel.
Que idade tem, em média, o parque automóvel nacional?
O parque automóvel nacional já possui uma idade média de quase 13 anos, encontrando-se bastante envelhecido. A Comissão Europeia impõe aos fabricantes de veículos automóveis limites relativamente às emissões poluentes, de que se destacam as partículas e os NOx. Neste momento, os automóveis matriculados pela primeira vez na União Europeia têm de cumprir a norma Euro 6. Todavia, existe um grande número de veículos em circulação que cumprem normas anteriores, apresentando níveis de emissões poluentes muito elevados, designadamente, veículo Euro 2 (1996) e Euro 1 (1992). É pois necessário retirar estes veículos de circulação através da reintrodução do sistema de incentivos ao abate de veículos em fim de vida.