Os anos passavam e a época passada já era a terceira de Tomás van Zeller a envergar a camisola dos seniores do Atlético Clube da Sismaria. Era, contudo, consensual que estava a jogar num escalão abaixo daquele onde deveria.
Tinha 21 anos, não queria estagnar e apresentava uma urgência absoluta de encontrar um rumo, porque o andebol era – e é – muito mais do que um hobby.
Depois de concluir a formação no FC Porto, regressou às origens em Leiria e as suas exibições mostravam um nível superlativo, bem acima do gabarito médio da 2.ª Divisão de andebol.
Sabia que podia ir mais além, mas era aquela a sua realidade. Porém, no início desta temporada, tudo mudou.
Tomás viu reconhecido o seu talento de uma forma avassaladora. Ele não teve um convite para jogar na 1.ª Divisão, ele foi logo convidado para ingressar no Sporting, uma das grandes potências nacionais, um facto que lhe abria as portas para grandes jogos, aquém e além-fronteiras.
“Sempre fui da opinião que, por vezes, é necessário dar um passo atrás para poder dar dois para a frente, seja na vida pessoal, profissional ou desportiva. Basta trabalhar e não perder os objectivos de vista”, explica o guarda-redes, que admite ter encarado com “algum nervosismo, mas com muita ambição e orgulho” esta mudança, sem passos intermédios, do pavilhão da Gândara para o João Rocha.
[LER_MAIS]Agora em Lisboa, Tomás tem sido uma aposta regular do técnico francês Thierry Anti para a baliza leonina, equipa que, a par do FC Porto, lidera a 1.ª Divisão, com 13 vitórias e um empate.
Foi chamado a dez jogos do campeonato português e a três da Champions League. E tem a orgulho de partilhar diariamente o balneário com aqueles que, durante anos, foram os seus ídolos, como Carlos Ruesga, como Aljoša Čudič, como Marko Vujin.
“Têm sido meses incríveis. De muita aprendizagem. Diz-se que não se deve conhecer os ídolos pessoalmente, porque estes, por vezes, podem estar aquém das nossas expectativas e tornarem-se uma grande desilusão. No meu caso não se aplica, porque desde que cheguei e os conheci, aqueles que são os meus ídolos só têm conquista ainda mais a minha admiração.”
Tudo corria sobre rodas. Até que, no dia 13 de Novembro, Tomás van Zeller teve a oportunidade de cumprir um daqueles sonhos, uma daquelas ideias fixas em que pensava todos os dias.
Estreou-se na Champions League e logo com um triunfo. O Sporting venceu o Tatran Prešov (22-37), na Eslováquia. A exibição “não foi perfeita”, mas para primeira vez não esta mal”.
Entre emoção e felicidade, o guardião fez uma retrospectiva. Sabia tão bem estar ali, no palco dos palcos, ele que começou lá em baixo e agora estava ali.
“Se me perguntar se me via a realizar este sonho em tão pouco tempo, diria que era impossível, mas sabia que, a médio longo ou prazo, seria sempre algo difícil de concretizar, mas nunca impossível. Jogar na Champions League é tão incrível. É a sensação que qualquer jogador de andebol deseja sentir. Naquele momento, todo o trabalho realizado é recompensado.”
Os 22 anos de Tomás van Zeller não o deixam parar de sonhar e ainda há metas que quer atingir, como “voltar a representar o País”, desta feita pela selecção principal, e “ir jogar para o estrangeiro”.
No entanto, nada disto o faz esquecer de onde vem . “Quando fazemos o que amamos temos de pôr as saudades de lado para que o olhar não se desvie dos objetivos traçados”, diz.
No coração dele vai estar sempre a Sismaria, o clube que lhe deu “uma família”, desde o treinador “Tiago Cotrim”, passando pelos dirigentes “Rui Gonçalo e Jorge Soares”, e acabando nos “colegas” de equipa.
“Levo-os comigo no coração para onde for”, garante, mesmo no dia em que, como almeja, “ganhar a Champions ou títulos pela selecção”. “É como os meus pais sempre me disseram: se é para sonhar, sonha em grande!”