Leia aqui a primeira parte da entrevista
Sem Raul Castro, o PS vai conseguir manter a Câmara de Leiria?
Claro que vai.
Gonçalo Lopes vai conseguir deixar uma marca nestes dois anos?
O Gonçalo está a dar continuidade a um programa, que era liderado pelo Castro, mas que tinha toda uma equipa. O Gonçalo está a mostrar capacidade para dar continuidade ao projecto e não fazia sentido que viesse agora revolucionar tudo, até porque fazia parte dessa equipa. Os cidadãos têm uma enorme dívida de gratidão para com o Castro, que foi capaz de resolver o problema da dívida num curto espaço de tempo. Não havia ninguém com essa capacidade e isso é uma coisa muito importante para os anos que estamos a viver e para o futuro. Hoje começam-se a colocar outras situações e a dívida já não é o principal. Hoje estamos a falar de desenvolvimento, de modernização e de qualidade de vida, que é isso que os cidadãos querem. O Gonçalo, pela idade que tem, aliada a uma enorme experiência, e porque é uma pessoa de diálogo, poderá mostrar-nos um desenvolvimento das freguesias muito mais harmonioso, no sentido de se desenvolverem ainda mais e de pôr toda a equipa de presidentes de junta a funcionar. O PS tem dado um exemplo tremendo, tratando as freguesias do PSD com os mesmos critérios. O projecto não olha a partidos. É um projecto por Leiria e o Gonçalo assume muito isto. Além disso, não é uma pessoa de adiar problemas nem de o empurrar para a frente. As pessoas vão ver a sua grande sinceridade e a sua enorme capacidade de trabalho.
Nunca teve ambições para ser deputado?
Não. Podia ter sido porque fui convidado quando era líder da JS. Mas o projecto Académico não me deixou. O Académico era o projecto da minha vida. A política é uma coisa que aprendi nos tempos de estudante.
A deficiência deu-lhe uma força maior?
Foi. As pessoas nunca me trataram como um coitadinho e essa foi a primeira conquista que fiz na escola primária. Quando às vezes ouço falar em bullying, penso que eu dava porrada em todos e joguei sempre em tomar a iniciativa. Percebi que tomar a iniciativa resulta.
Deficiência não foi limitativa
Nasceu sem braços, mas nunca aceitou que o vissem como coitadinho. “Lembro-me de ter 7 anos e estar no Alcoitão e dizer que queria intervir nas coisas que me diziam respeito. Sempre assumi que não era por não ter braços que ia deixar de fazer coisas.” Aos 13 anos, com alguns amigos, formou o Clube Académico de Leiria, que se tornou uma das principais associações da cidade. A irreverência sempre foi uma marca sua. “Não morri por diversas situações por pura sorte. Uma vez ia caindo por andar em brincadeiras pelo castelo, outra vez ia morrendo afogado, porque não pedia ajuda. Jogava futebol e era dos melhores, ao ponto de uma vez chamarem à minha equipa Pinto e os amigos.” Com 19 anos foi convidado para integrar os quadros da Direcção-Geral de Desportos. Deixou de ser o presidente do Académico, mas integra um grupo de voluntários que ajuda a associação. Aos 58 anos, “29 para os amigos e de espírito”, dedicou a vida ao clube. “Não fui para a universidade nem aceitei o convite para ir trabalhar para a sede do PS no Largo do Rato, porque sabia que o Académico ia morrer.” Mas tudo o que fez, garante, não foi à espera de reconhecimento. “Nunca esperei que as pessoas me agradecessem.” Luís Pinto recorda que nascer deficiente na década de 60 era uma condenação à clandestinidade. Agradece aos pais e a uma tia freira, que insistiram que a escola o recebesse. “A minha mãe agarrou o director pelos colarinhos, quando ele disse que não me podia aceitar.”