Dar abraços e ter força de braços. É este o significado do nome escolhido por Ana Rita Lopes, assistente social e enfermeira, e Maria João Cebola, contabilista com mestrado em ciências da educação e intervenção comunitária, para uma empresa que pretende dar respostas “fora da caixa” a quem sofre de demências, alzheimer ou outro tipo de limitações específicas, sobretudo nos idosos.
Maria João Cebola experienciou o que é ser cuidador informal, quando o seu pai ficou demente, depois de um cancro. Farta dos números confidenciou à amiga Ana Rita Lopes a vontade de mudar. Juntas uniramse para ajudar quem mais precisa. As pessoas são o foco da A_Braços.
“O que se faz tradicionalmente é colocar estas pessoas no lar ou num centro de dia. Tendo em conta o número de utentes, o trabalho que é feito com cada uma acaba por ser quase uma obrigação. O nosso propósito é oferecer estimulação cognitiva, mas com tarefas que sejam os utentes a escolher e que lhes dêem prazer”, explica Maria João Cebola.
Segundo Ana Rita Lopes, a A_Braços procura “dar respostas mantendo as pessoas na sua casa, com qualidade de vida, com a cabeça activa com a estimulação cognitiva e física necessária e adequada a cada um”.
“Sabemos que as famílias não têm tempo e que os trabalhos são exigentes. Somos os cuidadores informais destas pessoas. Se elas querem sair, acompanhamo-las onde mais gostam, como a um jardim, às compras ou ao café. E vamos fazendo a estimulação com pequenas coisas do dia-a-dia, sudoku, jogos de palavras…”, acrescenta Maria João Cebola.
Fora de questão está criar uma “obrigação”. “Se a pessoa prefere números , por que razão vamos insistir para fazer palavras cruzadas?” Daí que o serviço que disponibilizam “não tenha uma resposta igual para todos”.
A resposta social é adaptada a cada um. “Vamos ao encontro das pessoas e todo o trabalho que realizamos é direccionado ao seu espaço e à sua vontade. Por isso, não quisemos ter um espaço físico.
“Temos um escritório porque fomos obrigados pela Segurança Social, mas não vamos levar para lá os utentes. Isso é contrário ao que defendemos.”
Não se enquadrando em nenhum dos serviços tradicionais, a A_Braços procura fazer um pouco de tudo, sempre com o objectivo de dar resposta ao utente.
Serviço domiciliário, enfermagem fisioterapia, higiene pessoal e limpeza da casa ou até serviço de comida e cabeleireiro, tudo pode ser solicitado.
Uma das ajudas técnicas que será possível solicitar é o True-Kare, que permite aos idosos carregar numa tecla SOS em caso de emergência ou até ser colocado um alerta quando o utente sai fora de um raio previamente delimitado.
“Pode ser uma opção para quem sofre de alzheimer. Se o doente se afastar, o seu contacto directo receberá um aviso. Também é possível accionar lembretes para a toma de medicamentos”, esclarece Ana Rita Lopes.
Como a polimedicação é uma das principais causas de esquecimentos ou de incumprimento da prescrição médica, a A_Braços estabeleceu uma parceria com a farmácia da Barosa, que personaliza as tomas dos utentes em blisters, ajudando mais facilmente a identificação do comprimido correcto à hora certa.”
O serviço prestado pela A_Braços, “infelizmente, não é para todos”, admitem as responsáveis.
“Gostaríamos de poder oferecer este trabalho, mesmo àqueles que não têm possibilidade de o pagar. Ainda sugerimos à Câmara de Leiria e à União de Freguesias de Marrazes e Barosa se queriam ser parceiras. Só teriam de pagar as nossas deslocações, que oferecíamos o nosso trabalho. Mas não aceitaram. Estamos aqui pelas pessoas e para lhes dar a melhor qualidade de vida e dignidade possível, não é para ganhar dinheiro”, rematam.