Há 11 anos, Eloísa Grifo, então aluna do 12.º ano na Escola Secundária Domingos Sequeira, em Leiria, foi notícia pela conquista de uma medalha de ouro nas Olimpíadas Portuguesas da Matemática, depois de no ano anterior (2007) ter ficado em primeiro lugar no Campeonato Nacional da Língua Portuguesa. Volvida mais de uma década, a jovem matemática, de 30 anos, encontra-se na Universidade da Califórnia, onde é professora e investigadora no Departamento de Matemática.
Licenciada em Matemática Aplicada e de Computação, pelo Instituto Superior Técnico, onde fez também o mestrado, Eloísa Grifo mudou-se para os EUA em 2013, para fazer o doutoramento na Universidade da Virgínia. Depois de se doutorar, conseguiu um lugar na Universidade do Michigan, para uma “posição temporária” como professora assistente. Em Maio deste ano candidatou-se a um lugar de docente na Universidade da Califórnia – “e a muitos outros pelo país” -, acabando por ser convidada a ficar.
Para já, Eloísa Grifo não tem uma cadeira específica atribuída. Dedica- se à investigação, na área da álgebra cumulativa, cujas aplicações “vão bem para além da Matemática, chegando a áreas tão diversas como a Química ou a Física”. Em cada semestre, é também chamada a leccionar uma disciplina, em função das suas “preferências e das necessidades do departamento”. No semestre passado, por exemplo, deu uma cadeira de introdução à álgebra, “o primeiro contacto dos alunos com os objectos de estudo” da área de investigação à qual se dedica.
Da sua experiência com alunos americanos, primeiro como estudante de doutoramento e depois como professora, Eloísa Grifo identificou já algumas diferenças em relação a Portugal. Se “o medo da Matemática é, infelizmente, universal”, as expectativas “são completamente diferentes”. “Os estudantes americanos esperam ter boas notas (a maioria dos alunos deseja um A, o que em Portugal seria acima de 18, ou pelo menos um B), enquanto que a esperança dos estudantes portugueses é, muitas vezes, apenas passar à cadeira”, diz a jovem. Mas, frisa, “isso não quer dizer que os estudantes portugueses não sejam igualmente bons. Apenas que a atitude dos alunos e o sistema de avaliação são diferentes”.
Outra “grande diferença”, aponta, “é que os alunos de licenciatura em Portugal aprendem muito mais que os alunos americanos, em particular porque estes fazem cadeiras em muitas áreas diferentes em vez de se focarem numa área específica”.
Diferente é também o que se pode dizer do percurso de Eloísa Grifo no ensino secundário, onde chegou a ingressar em Línguas e Literatura, área que depois trocou pela Matemática. “Apesar de adorar todas as disciplinas que tinha, a ideia de que nunca mais trabalharia em Matemática deixava- me muito triste”, confessa, reconhecendo, contudo, que a “paixão pela literatura é um excelente veículo” para o trabalho que faz.
“A qualidade da investigação não é suficiente. É igualmente importante que consigamos comunicar as nossas ideais uns aos outros”, concretiza. Sobre um possível regresso a Portugal, Eloísa Grifo diz que “gostaria muito” de voltar, mas admite que “é improvável” que tal aconteça. É que, embora haja “investigadores fantásticos” no País, “há muito menos bolsas de investigação e outros apoios do que há em países como os EUA”.