Foi há coisa de mês e meio que o JORNAL DE LEIRIA, pela pena da jornalista Maria Anabela Silva, contou a história de Ana Sofia Costa. Lutar sempre, vencer às vezes, desistir nunca. É este o lema que tem guiado esta jovem de 23 anos que nasceu com uma distrofia neuromuscular que lhe retirou a capacidade de andar no final da infância.
Mas a rapariga natural de Maceira, Leiria, não é menina para se resignar e encontrou no boccia uma modalidade que a preenche. Essa modalidade descobriu-a aos 14 anos, quando entrou para o Centro João Paulo II, em Fátima, tinha 14 anos. Foi sempre “em crescendo”, de tal forma que garantiu, já, o apuramento para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, já no próximo ano.
A presença na competição das competições era vista como uma miragem após o quinto lugar no Europeu. Ana Sofia apontava para 2024, mas de repente, tudo mudou e o sonho tornou-se na mais bela das realidades. O Open Mundial de boccia, que decorreu durante o passado fim-de-semana, na Póvoa do Varzim, era a última oportunidade para os jogadores nacionais assegurarem a posição de ranking que lhes garantisse a qualificação para o Japão.
Só que a tarefa adivinhava-se altamente improvável. Entre os dez pares em prova, Portugal estava em décimo e tinha a hercúlea tarefa de vencer a competição para que o sonho se tornasse realidade. Mas tudo correu pelo melhor e a medalha de ouro conquistada pelo par BC3, composto pela nossa conterrânea, pelo Avelino Andrade e pelo José Carlos Macedo acabou com as dúvidas.
A inspiração chegou no momento certo. O objectivo do boccia é colocar as bolas de cor (seis azuis e seis vermelhas) o mais perto possível de uma bola alvo. Existe a possibilidade de um atleta ter necessidade de ter um parceiro de competição, como no caso de Ana Sofia, em que Celina Gameiro coloca a bola na calha e coloca o dispositivo no local exacto indicado pela atleta, sempre de costas para o recinto de jogo.
“Foi na última competição que contava para a qualificação, foi na última bola de uma final disputadíssima em que o jogo estava empatado, foi o coração quase a dar o berro e foi um mar de lágrimas de emoção de toda a comitiva portuguesa. O sonho tornou-se realidade”, conta David Henriques.
O trabalho de uma década deste professor de Educação Física já tinha dado frutos, como as medalhas nos Jogos Europeus da Juventude, mas Jogos Paralímpicos são outra loiça. Feliz, Ana Sofia agradece “a todos” que a apoiaram, em especial ao “mister” David Henriques e “à grande parceira de competição”, Celina Gameiro, auxiliar no Centro João Paulo II que a acompanha para todo o lado e a ajuda nos aspectos mais práticos, dentro e fora de campo. “Agora”, diz, “é continuar a trabalhar”, porque “o sonho tornou-se realidade”.