O logro das chamadas medicinas alternativas: a importância da medicina baseada na ciência. Foi com base neste tema que a Fundação Francisco Manuel dos Santos organizou uma conferência em Leiria para alertar para as “falácias” das chamadas medicinas alternativas.
Para os especialistas, o principal perigo das terapêuticas não convencionais é as pessoas não recorrerem ao médico quando estão doentes, correndo “sérios riscos de vida”.
Admitindo que algumas terapêuticas não convencionais podem trazer bem-estar a quem as usa, os médicos entendem que não podem ser substituídas pela medicina convencional.
Por isso, Armando Brito de Sá, médico especialista em medicina geral e familiar, em representação da Ordem dos Médicos, recomenda que o governo retire o ponto 26 da Lei de Bases da Saúde, relacionada com aquelas terapêuticas, porque legitima o seu uso.
Esta inclusão “foi extremamente infeliz”, pelo que “cabe à Ordem chamar à atenção para esse facto e procurar que esse problema seja corrigido”.
Segundo o especialista, é “muito difícil” fazer crer às pessoas a “falsidade” destas medicinas não convencionais quando existe “uma quantidade de leis que legitimam o ensino e a sua prática”.
Edzard Ernst, médico alemão e ex-praticante de terapias alternativas, apontou várias “falácias” que levam as pessoas a acreditar na eficácia destas terapêuticas.
“Uma delas é dizer que têm mais de 100 anos e não sobreviveriam tantos anos se não prestassem. Esta prova tem maior peso que qualquer teste científico.”
“Só com método científico conseguimos ver se os tratamentos são válidos”, sublinha João Júlio Cerqueira, médico e autor do projecto Scimed, ao afirmar que a partir do momento em que se começou “a usar o método científico dobrou-se a esperança média de vida.”
“Os tratamentos milenares fizeram pouco por nós. Só nos últimos 200 anos conseguimos diminuir as taxas de mortalidade infantil e materna, tratar cada vez melhor o cancro, cujas taxas de sobrevivência têm vindo a aumentar, e o HIV tornou-se uma doença crónica. Há menos mortes prematuras e as pessoas vivem mais tempo sem morbilidades.”
Perante casos de pessoas que garantem que ficaram curadas através das medicinas alternativas, este especialista explica: “há muitas variáveis que devem ser levadas em conta e que podem não ter nada a ver com o tratamento que foi feito”.
Referindo que um dos argumentos dos defensores dos medicamentos homeopáticos é ser natural, Edzard Ernst exemplifica com fenómenos naturais como furacões, vulcões, cheias, que “são naturais e não são bons”.
“O remédio homeopático não se distingue do placebo. Apesar de se dizer que estas terapias são inofensivas não é bem assim, porque podem levar a infecções e a doenças graves por não terem sido tratadas”, acrescenta.
Este especialista lamenta que pessoas com relevância na sociedade, como actores, o príncipe Carlos e até um Prémio Nobel, promovam estas terapias. “Não se podem chamar [LER_MAIS] medicinas, porque isto é mais uma crença. A melhor prevenção é ensinar a ter pensamento crítico.”
Armando Brito de Sá revela ainda que no ‘mundo civilizado’ algumas destas práticas que tinham uma tradição longa de utilização estão a ser progressivamente abandonadas”, tendo em conta, “a sua falta de eficácia demonstrada e a sua falta de fundamentação científica”, exemplificando com a Medicina Tradicional Chinesa.
Este médico sublinha que a Ordem dos Médicos está “preocupada” com licenciaturas aprovadas em Diário da República, como acupuntura, fitoterapia, medicina tradicional chinesa, naturopatia, osteopatia e quiropraxia.
Armando Brito e Sá nota que os seus conteúdos programáticos “são documentos de ficção, apesar da aparência de ciência, práticas ultrapassadas, pré-científicas ou pseudo-científicas e muito produto de eras em que a superstição imperava”.
Por isso, defende que a regulação destas terapias tem de sair do âmbito do Ministério da Saúde e passar para “algo como a ASAE [Autoridade de Segurança Alimentar e Económica]”, podendo dedicar-se a práticas não relacionadas com doenças.