Na cidade de Leiria têm vindo a proliferar as barbearias que recriam o ambiente das antigas barber shops, espaços concebidos por homens, feitos a pensar exclusivamente neles, e onde, além do corte da barba e do cabelo, se juntam outros mimos e serviços tão diferentes, como massagens, bar ou salão de jogos.
Entre os donos das barbearias já há quem duvide da viabilidade do negócio, tal é a concentraç ão de estabelecimentos do mesmo género que tem surgido pela cidade. Quem sai a ganhar são os cavalheiros de Leiria, a quem não faltam agora opções para aprimorar a imagem.
No Largo Marechal Gomes da Costa, quem chega ao Barba Negra é sempre acolhido com um sorriso e uma pergunta que quase todo o homem anseia ouvir: “aceita beber alguma coisa?”. Entre tesouras, navalhas e cremes de hidrataç ão, todo o processo demora mais do que uma hora. Uma hora e 20 minutos, mais exactamente.
Afinal, realça Fábio Duarte, gerente da barbearia, o que se pretende neste espaço não é apenas fazer um corte, é proporcionar “um bom momento para o homem”. Assim sendo, tudo começa com o fazer da barba, com aplicação de um creme que prepara devidamente a pele, a que se segue a aplicação de uma toalha quente, que facilita o abrir dos poros. Faz-se então o corte propriamente dito da barba, com espuma e navalha, volta a aplicar-se uma toalha, desta vez fria, para ajudar a fechar os poros da pele, e remata-se com a aplic ação de um after shave.
Tratada a barba, o processo prossegue com o corte de cabelo. Primeiro corta-se, depois lava-se, seca-se e penteia- se. No final, aplica-se uma cera ou outro tipo de produto adequado aos vários tipos do cabelo.
Fábio Duarte é filho de uma cabeleireira, também proprietária de um salão. Como tal, familiarizou-se desde sempre com os meandros do negócio. Há cerca de três anos decidiu abrir a sua primeira barbearia Barba Negra, na Marinha Grande, e em Dezembro de 2018, decidiu criar uma segunda casa do género, o Barba Negra de Leiria. Para promover “um momento de prazer aos senhores”, além do serviço de barbearia propriamente dito, Fábio Duarte adic ionou outros mimos, como o bar e a máquina de jogos.
[LER_MAIS] E optou por não instalar televisões neste espaço, onde o objectivo é promover o convívio entre os cavalheiros. Foi também a pensar nas necessidades actuais dos clientes – que já não estão dispostos a esperar vários dias pela marcação do corte – que Fábio Duarte resolveu colocar quatro cadeiras em cada uma das suas barbearias.
Com oito cadeiras e nove barbeiros, no total, todos os clientes podem ser atendidos no próprio dia ou, no máximo, no dia seguinte.
Quem já não dispensa os mimos do Sherlock's Barber & Coffee Shop, situado no LeiriaShopping, é Bruno Silva, de 40 anos, natural dos Parceiros, que ficou fiel ao estabelecimento, não só pelo tipo de corte de cabelo e barba “mais arrojado”, como “pelo serviço mais personalizado, onde ninguém está com pressa para atender”.
Desta vez, está há cerca de uma hora a ser atendido. É este o tempo que leva a tratar do cabelo, da barba e das sobrancelhas por alguém que “sabe o estilo que eu gosto”, explica. Quem também está a apreciar ser tratado como um príncipe é Nuno Crespo, de 31 anos, também natural dos Parceiros, que se senta pela primeira vez numa cadeira do Sherlock's Barber & Coffee Shop e que está satisfeito com o “estilo diferenciador” impresso no seu corte.
Cabelo mais comprido será tendência
À frente do espaço Barbeiro de Leiria, Patrício Gaspar revela que, à imagem da roupa ou do calçado, também as barbas e os cabelos seguem modas e tendências. Tentando agradar a todos os tipos de públicos, dos rapazes mais novos aos senhores mais experientes que o visitam, o barbeiro sente-se à vontade para trabalhar todos os cortes. Nos últimos tempos, são muitos os clientes que se sentam na sua cadeira mostrando fotos de cabelos com degradê, e onde os futebolistas surgem como uma grande inspiração.
Mas, atento ao que de melhor se vai fazendo nas barbearias de referência, de Itália, França ou Reino Unido, Patrício Gaspar avança que a tendência irá mudar. Os cabelos masculinos vão voltar a crescer de forma a tocarem na orelha. É também esta a tendência esperada por Fábio Duarte. O gerente do Barba Negra antevê que passem a dominar cortes mais compridos e clássicos. Quanto à barba, ora mais curta, ora mais longa, terá de continuar a apresentar um aspecto cuidado e hidratado.
Carlos Corando, natural do Brasil, trouxe a sua arte de Fortaleza para o centro Comercial D. Dinis. Corta cabelos com tesoura, de forma tradicional, mas tem tido grande solicitação de desenhos e símbolos góticos e tribais, muitas vezes feitos com a ajuda de máquina. A sua barbearia é dedicada ao sexo masculino, e por isso acrescentou no seu espaço uma zona de jogos, com mesa de bilhar, mas refere que a adesão tem sido tão boa, que até o público feminino se interessa pelo seu trabalho. Não há muito tempo, Carlos Conrado trabalhou um degradê numa rapariga, recorda o barbeiro natural do Estado do Ceará.
Negócio atinge ponto de saturação
Fábio Duarte reconhece que estas barbearias se tornaram uma moda. Dada a grande quantidade, entende que algumas vão resistir, e que outras acabarão por encerrar. “O negócio está a atingir um ponto de saturação”, acredita o gerente. Opinião semelhante tem Jorge Libório, que gere duas barbearias Dr. Barber em Leiria. Quando teve uma experiência de trabalho numa barbearia turca, a,em Londres, Jorge Libório apaixonou- se pelo conceito e decidiu que iria regressar à sua cidade para abrir um espaço desse género.
Abriu a primeira Dr. Barber há três anos, na Rua Dr. António da Costa Santos, e abriu uma segunda Dr. Barber no Largo Alexandre Herculano. Enquanto o primeiro espaço se dedica ao serviço de barbearia, o segundo inclui variados serviços de estética para homem, que vão desde manicure, pedicure, depilação a cera e a laser, limpezas faciais e massagens.
Embora ofereça uma bebida de cortesia ao cliente, Jorge Libório entendeu focar-se na actividade de barbearia propriamente dita e não dispõe, como outros colegas de profissão, de serviços complementares como bar ou salão de jogos. Salienta que os homens estão a adquirir uma cultura de barbearia, onde passaram a adoptar uma rotina de cuidados com a imagem, da mesma forma que também se habituaram a frequentar ginásios ou restaurantes.
Mas acredita que, face ao número de espaços que tem vindo a abrir na cidade nos últimos tempos, só os barbeiros que trabalham por “paixão à arte” vão manter- se. O mesmo não deverá acontecer com quem só criou estabelecimentos por mera oportunidade de negócio. Este é também o entendimento de Patrício Gaspar, que abriu o Barbeiro de Leiria há dois anos e meio na Rua Comissão Iniciativa. Patrício Gaspar é filho de cabeleireiros que têm negócio no sector há 35 anos. Ao longo do tempo, já assistiu a várias tendências neste ramo.
Vê com bons olhos o facto de os homens terem agora na cidade vários espaços onde podem cuidar de si e onde podem conviver com outros homens, outras pessoas com as quais se identificam. É de certa forma uma novidade, quando a tendência anterior foi a de cabeleireiros uni-sexo, repara Patrício Gaspar. O seu estabelecimento aposta no serviço de barbearia, ao qual junta as massagens capilares. É este o seu ponto diferenciador.
Não critica quem adiciona outros serviços, mas considera que juntar outras ofertas, como bar ou salão de jogos, “desvirtua a profissão”. Entende ainda que, para uma cidade relativamente pequena como é Leiria, o público acabará por fazer uma selecção dos estabelecimentos, sendo que, no final, ficarão apenas aqueles que criarem laços de “proximidade com os clientes” e derem mostras do seu “profissionalismo”.
“Abrir barbearia por moda não vai dar certo se não se amar esta profissão”, considera Patrício Gaspar. Membro dos órgãos sociais da Associação Nacional do Corpo e do Cabelo, cuja sede também está localizada em Leiria, Patrício Gaspar contabilizou, só no último ano, a inauguração de mais de uma dezenas de barbearias do género na cidade, o que exemplifica bastante como este negócio se proliferou pela cidade em tão curto espaço de tempo.