Os últimos dias têm sido um misto de emoções para Anderson dos Santos Silva. O jogador brasileiro está de regresso à Europa para um novo projecto andebolístico, mas teve de deixar a família do outro lado do Atlântico.
Está há uma semana em Leiria, mas as saudades da companheira, Romana, e da filha de dois anos e meio, Aysha, já apertam.
É um andebolista conceituado, inclusive com passagem pela liga espanhola, uma das três melhores do Mundo, onde alinhou no Zamora.
Uma aventura que só não foi mais bem sucedida porque partiu o cotovelo no decorrer da segunda volta. “Foi difícil. Estive seis meses em Espanha, sozinho, sem poder jogar e longe da família”, recorda o atleta.
Retornou ao Brasil, recuperou da mazela e voltou a jogar pelo clube onde cresceu, o Guarulhos, de São Paulo.
Voltou a Espanha para jogar num “projecto ambicioso” pelo Maristas Algemesi, mas em Dezembro do ano passado tudo ruiu com um acontecimento “muito triste”, o falecimento do irmão. “Tive de regressar ao Brasil e fiquei lá desde então.”
Agora, é tempo de reiniciar, mas não de qualquer maneira, e a Juve Lis oferece-lhe as condições que considera indispensáveis para poder seguir com o projecto de vida.
A insegurança, no Brasil, é crescente. Portugal, por seu turno, é considerado o terceiro país mais seguro, segundo o Global Peace Index.
Para quem tem uma menina de dois anos e meio, estes dados não podem ser neglicenciáveis. “No Brasil, as coisas acontecem. Basta ter a infelicidade de estar no lugar errado à hora errada.
Por isso, estou a agarrar essa oportunidade na Juve Lis. Está me dando a possibilidade de trazer a família. O clube abriu-me as portas de uma forma que não seria possível noutros projectos: de vir para Leiria, não só para jogar, mas também para trabalhar e estudar.”
Mais. A companheira, Romana, também joga andebol e será reforço da equipa feminina. “O clube está ajeitando algumas situações. Entendemos as dificuldades, acredito que em Outubro, principio de Novembro, ela estará cá.”
Esta é, pois, uma oportunidade de o internacional brasileiro estabilizar na Europa, onde sempre teve “vontade de competir”.
“Estou vindo não só para ser atleta, mas também para dar qualidade de vida para nossa filha. Pelo que vi, é uma cidade muito tranquila e acolhedora, onde se pode dormir com a porta aberta. Só cheguei há uma semana, mas ainda nem vi polícia na rua”, sublinha Anderson.
A família “é a base” da vida do jogador de 31 anos. Por isso, não nega, apesar de se sentir “feliz e grato”, estes últimos dias têm sido difíceis.
“Deixar a minha filha de dois anos e meio é uma dor muito grande, mas a gente sabe que tem de se sacrificar no início para lá à frente colher coisas boas. O fim-de-semana foi duro, falar com elas pela net e não poder abraçar nem beijar. Espero que esses dois meses voem. Até lá quero criar uma estrutura para quando elas chegarem não terem de passar [LER_MAIS] por nada.”
Juve Lis
Mas Anderson também chega a Leiria com uma mala de sonhos por cumprir sob o ponto de vista desportivo. “É um projecto com muitas ambições. Já vinha conversando com o Luís Santana mesmo antes de ele estar em Leiria. É um técnico que já conseguiu dois acessos à 1.ª Divisão e é esse o plano. Quero ter a possibilidade de crescer com o clube”, diz o andebolista.
A equipa começou a treinar na segunda-feira, sob a orientação do novo técnico, natural de Castanheira de Pera e oriundo do Boa Hora, da 1.ª Divisão, e com uma mão-cheia de reforços de fora da região.
No próximo sábado a bola já vai rolar, com a realização, em pleno pavilhão da Juve Lis, de um quadrangular entre a equipa da casa, o Boavista, que jogam às 11:30 horas, além do Belenenses e da Sanjoanense, que se encontram às 10 horas. A final será às 18 horas.
O objectivo passa por preparar, desde já, a temporada. A zona Centro da 2.ª Divisão arranca a 21 de Setembro, com a visita da Juve Lis a Mafra.
Anderson só quer ver todos felizes. “Há clubes que prometem tudo, mas na hora do vamos ver não tem nada e ficamos a ver navios. Conheço muitas situações difíceis. A presidente foi muito honesta. A Juve ofereceu-me o que pode. É pouco, mas vai cumprir. E isso é o mais importante. Sei que fizeram um sacrifício gigantesco para eu poder estar aqui. Só espero retribuir dentro do campo.”