Vinte e dois de Fevereiro de 2017, Benedita. Uma equipa de militares do Núcleo de Protecção Ambiental das Caldas da Rainha e do Posto Territorial da Benedita foi chamada a uma casa abandonada.
Quando entraram depararam-se com um cenário pouco habitual: mais de duas dúzias de cobras piton “bem cuidadas”, conta Pedro Teixeira, ex-chefe da Secção do Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR de Leiria, entretanto transferido para o comando de Aveiro.
Uma denúncia levou os militares a encontrarem diversas espécies protegidas e abrangidas pela convenção CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção). Dentro da casa devoluta encontravam-se 25 cobras piton, uma cobra do milho e 26 roedores que seriam utilizados para alimentar os répteis.
“Tivemos de pedir a colaboração do ICNF. Normalmente, estas situações surgem por denúncias. As pessoas têm algum receio e contactam-nos, seja por telefone, email, presencialmente ou até pela linha SOS Ambiente”, explica.
Esta foi das recuperações mais “estranhas” de espécies protegidas do SEPNA de Leiria, mas mui- tos são os animais que já foram salvos pelos 39 militares desta equipa especializada da GNR, onde estão ainda integrados 12 antigos guardas florestais.
Raposas, cágados, avestruzes, cobras, tartarugas, flamingos, diferentes aves e répteis, ouriços ou morcegos num total de 735 animais foram recuperados pelo Comando Territorial da GNR de Leiria, nos últimos três anos. Uma das apreensões mais recentes foi a de uma raposa vermelha, na localidade de Pataias, concelho de Alcobaça.
Competência vai “muito além” dos animais
A competência do SEPNA vai muito para além dos animais. Os militares desta equipa têm à sua responsabilidade tudo é que está relacionado com o ambiente e natureza. Dentro do SEPNA existem os núcleos de investigação de crimes e contra-ordenações ambientais e o de análise e coordenação técnica ambiental. Este último analisa as ocorrências e os locais onde há maior perigo, tendo em conta o histórico de incêndios, permitindo à GNR a gestão e direccionamento do seu patrulhamento. Entre várias competências, o SEPNA tem a seu cargo todas as acções de prevenção, vigilância, detecção e investigação das causas e validação das áreas ardidas dos incêndios florestais e de defesa da floresta contra incêndios e fiscalizar o cumprimento da legislação.
“Após uma denúncia de um popular, os militares reco- lheram um exemplar da espécie cinegética raposa vermelha, Vulpes vulpes, da família Canidae, que se encontrava em cativeiro não autorizado, desde 2017”.
O exemplar foi entregue no Centro de Recuperação de Animais Selvagens em Montejunto. Este é um dos locais de referência da GNR para encaminhar as espécies em perigo ou feridas. “Há animais que são devolvidos ao seu habitat natural.
As pessoas assustam-se muito com cobras, mas, na maioria dos casos, trata-se da espécie [LER_MAIS] rateira, pelo que as colocamos de novo em zona de floresta. O mesmo pode suceder com uma raposa ou lontras.
Todos os autóctones são devolvidos ao seu espaço natural”, reforça. Os animais só são entregues aos centros de recuperação quando se encontram “debilitados ou feri- dos” ou quando estão enquadra- dos na legislação de espécies exóticas.
Os militares que integram o SEPNA têm formação prévia para as diferentes áreas de actuação deste serviço da GNR. “Sabemos como resgatar um animal, que tipo de material deve ser usado, como nos protegermos e como agir perante a espécie que temos à nossa frente, até para não lhe provocarmos danos”, afirma Pedro Teixeira.
O SEPNA foi constituído em 2001, tendo a sua actividade no terreno começado no ano seguinte com os primeiros militares formados. Quase em simultâneo foi criada a linha SOS Ambiente e Território, que através do número telefónico 808 200 520 está disponível 24 horas durante todo o ano. Funciona em paralelo com o serviço online, que qualquer cidadão pode utilizar para denunciar situações. No caso de se identificar, receberá uma resposta sobre o ponto da situação exposta.