Os colegas salvam pessoas. Saul Torc ato resgata animais em perigo. A Brigada de Protecç ão Ambiental (BriPA) da PSP de Leiria dedica-se a todos os processos relacionados com a natureza e o ambiente: desde a prevenção e defesa da floresta, aos crimes ambientais, matérias perigosas e animais.
Integrada na Esquadra de Intervenção e Fiscalização Policial de Leiria, a BriPA conta apenas com um agente e um chefe. “Gostava de apresentar mais resultados, mas sozinho é difícil.”
Sempre que há uma denúncia ambiental ou animal, Saul Torcato pega no material e acorre ao local, embora, por vezes, possa contar no terreno com o apoio de outros colegas.
“Tenho tantos processos para despachar, que assentam num número elevado de legislação, que ainda por cima é avulsa, de transposição europeia para o ordenamento jurídico português e em constante mutação. É difícil estar sempre a interromper o trabalho administrativo, que tem de ser feito, para ir ao terreno.”
Mas Saul Torcato não tem outra solução. Sendo o único agente da BriPA acumula todo o trabalho. “Seria uma grande ajuda ter alguém empenhado neste assunto a trabalhar comigo. Gostava de ter mais resultados, mas também teria de ter mais apoio e compreendo que o comando não me consiga dar aquilo que quero”, admite.
Pelas mãos de Saul Torcato já passaram aves de várias espécies, tartarugas exóticas, cobras-rateiras e até lontras. Este foi um dos animais que mais marcou o agente da PSP. “Encontrámos uma lontra no rio Lis. Tinha um ferimento grande na c abeça e sei que veio a falecer.”
Outra lontra foi encontrada na Marinha Grande e também acabou por morrer. “Tivemos de as entregar a Aveiro [Centro de Reabilitação de Animais Marinhos].”
A captura das lontras não foi fácil. “Foram apanhadas com um laço e um camaroeiro e colocadas numa caixa de transporte.” Demorou três horas.
“Mesmo feridas oferecem bastante resistência [LER_MAIS] e tornam-se bastante perigosas, porque se sentem encurraladas e atacam. Não tendo formação não sabemos como reagir e até nem sei se estou a provocar mais dano do que seria natural, até porque os animais ficam stressados”, constata, acrescentando que seria importante ter “algumas bases” sobre resgate.
A falta de formação é um “handicap”. “Para estar na BriPA tive formação relacionada com matérias perigosas, colheita de águas, mas nada relacionado com os animais.”
Tudo o que sabe é por sua iniciativa e experiência adquirida. Já aconteceu ir resgatar uma tartaruga e ao contactar o centro de Aveiro foi questionado quando à espécie. Sem resposta, enviou uma fotografia e a bióloga identificou o animal.
No mês passado, Saul Torcato também ficou sensibilizado com a entrega de um guarda-rio, uma ave “muito bonita, que trazia a pata partida”.
À semelhança das outras aves, esta espécie foi entregue à Ecoteca de Porto de Mós, que depois as encaminha para o Centro de Recuperação de Animais Selvagens. À PSP chegam também muitas denúncias de animais abandonados ou maltratados.
“Um cão na varanda, por si só, não é mau-trato. Já encontrámos cães na varanda com todas as condições, com casota, vacinas em dia e bem nutridos.”
Quando encontram animais a viver em condições deploráveis, se os donos forem identificados, são levantados autos. Já em relação às matilhas na rua pouco se pode fazer.
Os canis estão lotados, assim como as associações. “Referenciamos para as autoridades competentes, nomeadamente a Câmara Municipal.”
32 animais resgatados em três anos
Nos últimos três anos, Saul Torcato resgatou 32 animais, entre falcões, mochos, corujas, águias, andorinhão, guarda-rios, pica pica, tartaruga exótica e cobras-rateiras.
“As pessoas querem sempre que matemos as cobras-rateiras, mas o seu veneno não mata ninguém e são um regulador de pragas. Caçam muito roedores, daí o nome. Ao contrário dos outros animais, pegamos nas cobras e levamolas para um pinhal, longe da povoação, para ficarem no seu habitat”, revela o agente.
Segundo Saul Torcato, a maioria dos animais capturados ainda são crias. “As corujas, por alguma razão, caem dos ninhos ou afastam-se e depois têm de ser recuperadas”, exemplifica, ao alertar a população para o abandono de animais exóticos, como tartarugas. “São um perigo para a natureza porque vão destruir a fauna e flora.”