A Casa Calado, uma antiga casa agrícola onde antes funcionou a Real Fábrica do Juncal, no concelho de Porto de Mós, vai ser transformada num espaço dedicado às artes e à cultura. A proposta de intervenção, apresentada na última reunião de Câmara, contempla a criação de residências artísticas, núcleo museológico, salão nobre e biblioteca, estando também previstas áreas para cowork e para oficinas e um restaurante.
Jorge Vala, presidente da Câmara, explica que o objectivo é recuperar um património que faz parte da “memória colectiva do Juncal”, dando-lhe “novas e diversas” funcionalidades. “Queremos uma casa com vida, que convide a comunidade local, mas também do País e até do estrangeiro, à visita”, afirma o autarca, frisando que a intervenção permitirá também criar “uma nova centralidade” na vila, com a ligação da Casa Calado ao parque verde.
Com laços afectivos ao espaço – é descendente da família Calado –, o arquitecto Rafael Calado, que está a elaborar o projecto, sublinha que a proposta teve dois grandes objectivos. O primeiro passa por “parar a degradação” da casa, [LER_MAIS] comprada há vários anos pelo Município, recuperando o património e tornando-o “acessível” à comunidade. O segundo passa por diversificar as funções do espaço, para que possa “ter vida própria” e para que “todos os dias tenha gente” a usá-lo.
De acordo com a proposta apresentada, o edifício principal terá um salão nobre, uma biblioteca e mediateca e um núcleo museológico dedicado não só à Real Fábrica do Juncal, mas à cerâmica e louça decorativa e utilitária que têm feito história na freguesia. No piso térreo prevê-se uma zona de workshops e de actividades de tempos livres para crianças e jovens.
As residências artísticas funcionarão também no edifício principal, onde haverá uma sala para exposição e palestras. O edifício da antiga abegoaria terá duas valências: espaço de cowork e atelier para ofícios como cestaria e olaria, permitindo “o cruzamento de diferentes saberes”, explica Rafael Calado.
O largar de azeite, que tem um pátio coberto, será transformado em restaurante, junto ao qual haverá espaço para uma loja de produtos regionais. Na antiga adega não haverá mexidas, além da limpeza, prevendo-se que o local possa acolher eventos. O pátio traseiro, através do qual se fará a ligação ao parque verde da vila, terá também uma zona para trabalho em atelier.
A Real Fábrica do Juncal foi fundada em 1770, por José da Silva e Sousa, destacando-se pela faiança e pelo azulejo aí produzido. “Introduziu um novo estilo decorativo, conhecido por 'maneira do Juncal', com elementos campestres, que distinguem a faiança do Juncal”, conta a investigadora Filomena Martins.
As invasões francesas, decorridas no início do século XIX trouxeram grande destruição à fábrica, que viria a ser encerrada em 1876. Posteriormente, o local foi transformado em casa agrícola. “Teve o primeiro lagar de azeite hidráulico da zona”, refere aquela professora.