Natural de Ourém, Nuno Silva acaba de ser distinguido pela National University of Ireland, em Galway, com um prémio de inovação na área da saúde.
Em causa está o projecto que o jovem aluno do mestrado em engenharia biomédica e biofísica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa desenvolveu, em co-autoria com Eoghnan Dunne, e que permite, de forma “simples, rápida e eficaz, detectar anatomicamente a posição correcta da sonda nasogástrica”. Dessa forma, será possível alimentar “mais rapidamente o paciente sem necessidade de realizar radiografias”.
Ao JORNAL DE LEIRIA, Nuno Silva, que está naquela universidade irlandesa ao abrigo do programa Erasmus+, explica que a ideia do projecto surgiu da constatação de que, pelos métodos actuais, os pacientes precisam de esperar “várias horas” até ser confirmada a real posição da sonda nasográstica.
“As estatísticas revelam que, entre 2011 e 2017, morreram 20 pessoas no Reino Unido por colocação errada da sonda”, nota o investigador, adiantando que, actualmente, existem apenas dois métodos recomendados pela Organização Mundial de Saúde – um teste de pH de fluído aspirado pela sonda- e o golden-standart test, que é radiografia”, sendo que, em ambos os casos, os doentes têm de esperar “longas horas” até que seja possível detectar a localização da sonda.
O desafio a que se propuseram Nuno Silva e Eoghan Dunn foi desenvolver um dispositivo electrónico, implementado na ponta da sonda, que permite saber anotomicamente a localização da sonda, verificando “se ela está nos pulmões, estômago ou esófago/traqueia”. Trata-se, frisa o jovem, de uma forma de detecção “rápida, eficaz e fácil”.
Deste modo, “não há erros de interpretação de radiografias, não é necessário sujeitar o paciente a radiação sempre que se coloca uma sonda, nem este precisa de esperar por ser alimentado até proceder à radiografia”, acrescenta Nuno Silva, que, além da melhoria do bem-estar do doente, realça os impactos no sistema de saúde, com a “redução de custos”.
Neste momento, está em curso o processo de desenvolvimento da propriedade intelectual do projecto. “O prémio será totalmente aplicado na ideia/produto, de modo a possibilitar que possa chegar ao mercado, o que poderá demorar anos e requer um grande investimento”, nota Nuno Silva.
[LER_MAIS] A par da concepção deste projecto, o jovem investigador está a trabalhar “na caracterização ao nível das propriedades térmicas de tecidos biológicos”, que poderá ajudar no desenvolvimento de dispositivos médicos “ao nível de tratamentos hipertérmicos e de ablação (ou seja tratamentos a altas temperaturas para, por exemplo, destruir um tumor fígado)”.
“Sendo o tratamento a altas temperaturas, é importante saber de que forma essa temperatura se vai distribuir ao longo do tecido biológico, para destruir o menos possível células normais”, explica.
Nuno Silva, 24 anos, é natural de Vale do Porto, Ourém. Frequenta o último ano do mestrado integrado em engenharia biomédica e biofísica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, encontrando-se a desenvolver a sua investigação no Translational Medical Device Lab (TMDLab), um laboratório que pertence à National University of Ireland e reconhecido pela transição do desenvolvimento de equipamentos médicos para o mercado.
Na última reunião de Câmara, o executivo municipal de Ourém aprovou um voto de reconhecimento a Nuno Silva, “pelo seu mérito académico, reconhecido através do prémio atribuído”, e de agradecimento pelo “enorme contributo para o prestígio do nome do concelho de Ourém além-fronteiras”.