Melhorar a compreensão dos processos que causam a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), uma doença rara e, na maioria dos casos, fatal, é um dos principais objectivos da investigação que Carla Santos, natural de Cortes, Leiria, está a desenvolver no Departamento de Farmacologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido, no âmbito do seu doutoramento.
Formada em Bioquímica pela Universidade de Coimbra, a jovem, de 29 anos, abraçou o projecto há cerca de três anos. “Estou a estudar disfunções no sistema de reciclagem das células na ELA, que é uma doença que afecta as células do cérebro e da coluna vertebral que dizem aos músculos o que fazer, causando a paralisação progressiva dos músculos”, explica a investigadora, frisando que a ELA “pode afectar a forma como as pessoas andam, falam, comem e bebem, como respiram e até como pensam e se comportam”. Na maioria dos casos, “é uma doença letal para a qual infelizmente ainda não existe cura”.
No laboratório no qual Carla Santos está integrada, grande parte dos investidores estuda doenças lisossomais de sobrecarga (DLS), que constituem um grupo de patologias hereditárias, caracterizadas pela “acumulação de detritos nas células, que não se conseguem degradar ou reciclar”.
[LER_MAIS] “Apesar das diferenças óbvias entre a ELA e as DLS, nos últimos anos têm-se descoberto pontos comuns entre este grupo de doenças raras e outras doenças neurodegenerativas mais comuns, como a doença de Parkinson e a ELA”, refere a investigadora. Ora, é precisamente sobre uma dessas ligações que incide o projecto de doutoramento de Carla Santos.
Em declarações ao JORNAL DE LEIRIA, explica que o objectivo é “tentar perceber como é que disfunções nos lisossomas (organelos responsáveis pelo sistema de reciclagem das células) contribuem para o desenvolvimento de ELA”. “Em mais detalhe estou também a estudar os glicoesfingolípidos, que são moléculas importantes para processos como o reconhecimento celular, especialmente em tecidos nervosos”, acrescenta.
“A investigação em laboratório é um desafio contra o tempo e a ELA é uma doença de grande complexidade, mas sei que estou a contribuir para uma melhor compreensão dos processos que causam a doença. Acredito que só assim poderemos, um dia, encontrar tratamentos mais efectivos”, afirma.
Foi, aliás, o potencial impacto que a investigação pode vir a ter na vida de “tantos doentes” que mais motivou Carla Santos para o projecto. “A abordagem proposta já estava a ser usada, ainda que em fase inicial, noutras doenças, como na de Parkinson, e tem mostrado resultados muito interessantes. Também sabia que um doutoramento pode ser mentalmente muito exigente e a possibilidade de ajudar os pacientes com ELA me ia manter motivada para continuar nos momentos mais difíceis.”
Em Oxford há quase três anos, Carla Santos não pensa regressar no curto prazo a Portugal. “Talvez um dia, mas para já gostava de alargar a minha experiência profissional a outros países e realidades”, avança.