O “abrandamento da procura” levou a uma quebra de 2,5% nas exportações portuguesas de calçado durante o ano passado. Os dados facultados ao JORNAL DE LEIRIA pelo Instituto Nacional de Estatística revelam que Portugal vendeu ao exterior 1956 milhões de euros, que comparam com os 2007 milhões de 2017.
Em contraciclo com a tendência nacional, o distrito de Leiria, que tem na Benedita o principal pólo produtor, exportou um total de 54,9 milhões de euros, mais 6,1 milhões (ou seja 12,5%) do que em 2017, revelam os dados do INE sobre comércio internacional (capítulo 64 da Nomenclatura Combinada). As importações cresceram também, em 13%, de 25,1 milhões para 28,4 milhões de euros no ano passado.
O principal destino das exportações de calçado do distrito é França, com 13,1 milhões de euros, a que se segue o Reino Unido, com 8,5 milhões, e Espanha, com 6,7 milhões. Com 404,8 milhões de euros, França é igualmente o primeiro destino das exportações portuguesas de calçado. Os fabricantes nacionais têm depois na Alemanha (362,2 milhões) e nos Países Baixos (269,6 milhões) os outros dois mercados mais importantes.
A Hugal, empresa da Benedita que fabrica calçado Goodyear Welt, destinado sobretudo ao segmento de moda, não registou descidas nas vendas ao exterior durante o ano passado. Para tal contribuiu o facto de ter aumentado as vendas para novos mercados, explica fonte da fábrica do concelho de Alcobaça, que exporta 98% da sua produção e tem em França e nos Estados Unidos os seus principais mercados.
Com um volume de negócios na ordem dos cinco milhões de euros no ano passado e 107 trabalhadores, a empresa reporta como principais dificuldades a falta de mão-de-obra qualificada, a “concorrência desleal de outros fabricantes” e a inexistência de uma zona industrial na Benedita.
A falta de mão-de-obra qualificada é referida igualmente como um constrangimento por Luís Coito, administrador da Trofal. A empresa da Benedita manteve as vendas em 2018, tendo como principais mercados a Alemanha, França e Itália. Fabrica para marcas premium e emprega 30 pessoas.
Fabricante de sapatos para senhora, homem e criança, a J. Marcelo registou no ano passado uma quebra nas vendas, tanto no mercado nacional como nos estrangeiros, que absorvem 85% da produção, com França e Inglaterra à cabeça. “Muitas das marcas que fabricavam em Portugal mudaram-se para países com mão-de-obra mais barata”, explica João Felizardo.
“Todos os clientes compraram menos”, adianta o responsável pela empresa da Benedita, que emprega 20 pessoas e facturou cerca de 800 mil euros em 2018. A “indecisão dos clientes”, a incerteza do mercado e o facto de as encomendas surgirem cada vez mais “em cima da hora” são os principais constrangimentos que aponta.
[LER_MAIS] De acordo com a associação sectorial Apiccaps (boletim estatístico do terceiro trimestre de 2018, último disponível), “as dificuldades de mercado lideram as preocupações empresariais”: 56% das empresas “afirmam estar confrontadas com insuficiência de encomendas de clientes estrangeiros e 37% de clientes nacionais”. Tanto um valor como outro “excedem os registados no trimestre anterior e continuam uma tendência de aumento observada ao longo dos últimos trimestres”.
Apesar da desaceleração da conjuntura, as preocupações com a escassez de mão-de-obra e, especialmente, da qualificada, “permanecem elevadas”. Este constrangimento é referido sobretudo pelas unidades mais orientadas para a exportação, aponta a associação.