Eliminar ou reduzir os aglomerados proteicos encontrados no cérebro de doentes de Parkinson pode ser a chave para travar a progressão da doença. A afirmação é de Tiago Outeiro, investigador português que lidera um grupo de trabalho na Universidade de Medicina de Goettingen, Alemanha, que alerta, contudo, para este ser um passo importante, mas ainda não a garantia de que os resultados serão eficazes.
"Podemos dizer que se esta estratégia funcionar vai permitir estar mais perto de travar a progressão da doença de Parkinson", adianta ao JORNAL DE LEIRIA, ao explicar que a identificação de aglomerados proteicos no cérebro por Lewy deu um passo importante na investigação desta doença.
“Desde então, tem-se estudado com base nestas informações e surgiu a hipótese de os aglomerados proteicos no cérebro poderem ser a causa do problema de Parkinson. Assim, se os reduzirmos ou eliminarmos poderemos travar a progressão da doença”, sublinha.
Segundo o investigador, depois de muito trabalho desenvolvido em laboratório há agora “ferramentas para interferir com estes aglomerados proteicos”. “Podemos testar as hipóteses: será que ao retirar os aglomerados funciona? Se virmos que ao remover vamos travar o progresso da doença.”
No entanto, se esta solução não resultar, Tiago Outeiro considera que será também um passo muito relevante na investigação, uma vez que irá eliminar a hipótese e levar os cientistas a procurar outros caminhos.
Uma das estratégias para remover ou diminuir esta acumulação de aglomerados proteicos do cérebro dos doentes, é “interferir neste processo, através da utilização de anticorpos”, ou seja, o sistema imunitário das pessoas, embora possam ser produzidos em laboratório.
Tiago Outeiro acrescenta que outra estratégia que está a ser seguida é a "redução da produção destas proteínas que depois formam os aglomerados".
O investigador explica: “pense-se na acumulação de lixo que fazemos e que procuramos limpar ou reciclar. O que se pretende realizar com esta estratégia é reduzir a acumulação do ‘lixo’ proteico no cérebro, evitando a formação [LER_MAIS] dos aglomerados".
“Estas estratégias estão a ser testadas não só em modelos laboratoriais, mas também em ensaios clínicos humanos. Os resultados até agora são promissores. Acreditamos que dentro de dois anos teremos respostas importantes”, informa o investigador.
Segundo Tiago Outeiro, nos ensaios clínicos já foi possível atingir o “alvo terapêutico" e “medir um efeito na redução da acumulação das proteínas no cérebro”.
Congresso internacional em Lisboa
Lisboa recebe entre os dias 26 e 31 de Março o AD/PDTM 2019, a 14ª Conferência Internacional sobre Doença de Alzheimer e Doença de Parkinson e distúrbios neurológicos relacionados.
Este encontro, que se realiza pela primeira vez em Portugal, atrai profissionais médicos e científicos internacionais em todo o mundo.
A conferência é um palco para para investigadores clínicos e cientistas apresentarem, discutirem e trocarem conhecimentos sobre uma ampla gama de temas e tópicos. Ao longo dos anos, este encontro já atraiu mais de três mil participantes.