Eléctrico, híbrido, a combustão? A indústria automóvel enfrenta novos paradigmas, a indefinição predomina e os fabricantes “estão a atrasar o lançamento de novos modelos”.
O sector dos moldes, que depende em cerca de 80% da indústria automóvel, já está a sofrer as consequências, registando uma quebra na actividade.
“A indefinição na mobilidade automóvel está a provocar um abrandamento na indústria de moldes”, reconhece João Faustino, presidente da associação Cefamol.
“Quem quer comprar não sabe o que fazer, as marcas também não. Na Alemanha, por exemplo, está a haver uma quebra muito grande na compra de carros novos, o que se reflecte no fabrico de moldes um pouco por todo o lado”.
Porque as marcas estão a atrasar o lançamento de novos modelos, não há encomendas de novos moldes. A situação começou a notar-se nos últimos meses do ano passado, estando agora a intensificar-se, porque as empresas estão a terminar as encomendas que tinham em mãos e não estão a receber novas.
Nos últimos anos, a indústria portuguesa de moldes investiu muito para aumentar a capacidade instalada e responder à crescente procura, mas agora, com um volume menor de encomendas, há empresas que não conseguem ocupar totalmente a sua capacidade.
João Faustino diz que as empresas estão a reposicionar-se e a fazer contenção de custos, mas lamenta que muitos clientes, sabendo que há menos trabalho, “estejam a pressionar os preços”.
O dirigente garante não conhecer situações dramáticas de falta de trabalho e adianta que, num sector que vive de ciclos e contra-ciclos, se espera que este abrandamento “seja passageiro”.
A Eurocumsa, que fornece peças para a montagem de moldes, é uma das empresas que estão a sentir um abrandamento nas encomendas, sobretudo por parte de clientes que trabalham para a indústria automóvel.
“Desde o início do ano que se nota que a actividade dos fabricantes de moldes não está ao nível do que era habitual, mas não sinto que seja dramático”, diz Rui Rocha, gerente da empresa da Marinha Grande.
Embora, acrescente, “também já se perceba que começa a haver empresas com algumas dificuldades, porque muitas vezes a gestão corrente é feita com dinheiro das encomendas que esperavam receber”.
Também este gestor lembra que nos últimos anos muitas empresas investiram no aumento da capacidade, e que agora, em fases de redução das encomendas, acabam por não conseguir ocupá-la totalmente.
“As empresas mais pequenas, e principalmente as que comercialmente são menos reactivas, serão as que mais sofrem”.
“A indústria fez investimentos muito grandes para aumento da capacidade. O mercado tem ciclos e é normal que nem todas as empresas tenham agora a capacidade toda tomada”, comenta um profisional da área, que prefere não ser identificado.
Frisa que “não se pode falar em baixa generalizada” da actividade no sector dos moldes, porque “haverá sempre empresas em overbooking”, embora admita que outras estarão a atravessar “algumas dificuldades”.
As empresas mais dependentes da indústria automóvel, “que está a atrasar o lançamento de novos carros”, ou as que dependem de um menor número de clientes, serão as que mais sentirão os impactos.
Segundo este gestor, a indústria portuguesa de moldes terá vivido o “melhor ano de sempre” há dois anos, pelo que, naturalmente, e em comparação, agora se nota um abrandamento, embora continue a haver empresas “com bastante trabalho”.
Para a Fermorgado, que trabalha sobretudo para o sector do houseware, os primeiros meses do ano são sempre menos intensos, aponta Sílvia Morgado.
A responsável pela empresa da Marinha Grande diz ter conhecimento de fabricantes de moldes que trabalham para a indústria automóvel que estão “praticamente paradas”.
Segundo relatos de clientes, há empresas que nunca os tinham contactado e que agora estão a fazê-lo na esperança de conseguirem encomendas de outras áreas.
[LER_MAIS] Depende em cerca de 60% da indústria automóvel, mas não tem sentido quebras de trabalho, garante Vitor Cardoso, gerente da VL Moldes.
“Temos projectos para a área automóvel negociados, que vão estar em curso nos próximos seis meses. Por outro lado, temos vindo a diversificar áreas de actividade”, explica o gestor.
“Este mercado é de ciclos, de altos e baixos. Já se esperava um abrandamento, não me surpreende”, diz o empresário, lembrando que o problema é que a indústria de moldes tem de fazer investimentos constantes, que só consegue rentabilizar quando está em “carga máxima”. Uma baixa da actividade traz naturalmente “alguns problemas às empresas”.
“Temos ouvido clientes a queixarem-se da quebra de trabalho e parece-me que há muita gente preocupada”, aponta igualmente Hugo Ferreira. Mas a empresa que gere – TTO, que faz tratamentos térmicos – não sentiu ainda uma quebra na actividade. “Janeiro foi até melhor do que o mesmo mês do ano passado”.
Indústria automóvel é a mais importante
Ao longo dos anos, o sector dos moldes tem reforçado a sua presença junto da indústria automóvel. Em 1991, esta absorvia apenas 14% dos moldes fabricados em Portugal, peso que cresceu significativamente e se situa já nos 82% (dados relativos a 2016, últimos disponíveis).
De acordo com a associação sectorial (Cefamol), a segunda indústria mais importante é a embalagem, que “tem vindo a crescer de forma sustentada”, mas que mesmo assim apenas absorve 8% dos moldes nacionais. O sector tem feito um esforço de diversificação e actualmente trabalha para outras áreas industriais de “grande importância para o desenvolvimento de novos produtos na economia mundial”, procurando novas áreas e nichos, tais como a indústria aeronáutica e de dispositivos médicos.
Portugal encontra-se entre os principais fabricantes de moldes de injecção de plástico a nível mundial (oitavo no mundo, terceiro na Europa), exportando na ordem dos 85% da produção nacional, que em 2017 se cifrou em 794 milhões de euros. As vendas para o exterior somaram 668 milhões nesse ano. Os principais mercados são Espanha, Alemanha, França, República Checa, Polónia, Estados Unidos e México.
A indústria conta actualmente com cerca de 500 empresas, sobretudo pequenas e médias, nas regiões da Marinha Grande/Leiria e Oliveira de Azeméis, que se dedicam à concepção, desenvolvimento e fabrico de moldes e ferramentas especiais. Empregam aproximadamente 10460 trabalhadores.