Todos os chefes de equipa da Urgência de Medicina Interna do Hospital de Santo André, do Centro Hospitalar de Leiria (CHL) demitiram-se em Janeiro, alegando falta de condições.
“Os médicos não têm tempo para a chefia do serviço, recursos para cumprir a escala de urgência, nem um atendimento com condições para um atendimento adequado e com qualidade para dar os doentes e apontam mesmo situações de falta de segurança para os utentes."
A denúncia foi feita pela Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM). O Conselho de Administração (CA) do CHL admite que o problema é “grave” e “complexo”.
Ao JORNAL DE LEIRIA, o CA esclarece que “há muito que reivindica junto da tutela mais meios humanos, nomeadamente médicos, para fazer face ao aumento de procura que os seus serviços têm tido, principalmente após a integração do concelho de Ourém na sua área de influência”.
No entanto, “apesar das reivindicações e das promessas feitas por diferentes governos, o CHL continua com um quadro de clínicos desajustado às suas necessidades, com um rácio de médicos por mil habitantes muito abaixo ao de outros hospitais”.
O presidente da SRCOM, Carlos Cortes, afirma que o Serviço de Urgência do hospital de Leiria atingiu o "limite" e que "só não encerra por todo o esforço dos médicos que lá trabalham", mesmo "sem serem reconhecidos pelo CA do CHL".
Desde o início do ano, a Ordem dos Médicos já recebeu 159 declarações de responsabilidade: "Recebemos mais cartas de declarações de responsabilidade do que de todos os hospitais do Centro juntos, o que mostra uma grande preocupação com o que está a acontecer em Leiria, sobretudo na Urgência de Medicina Interna", salientou Carlos Cortes.
Os responsáveis do CHL entendem o “descontentamento dos médicos face a um quadro de elevada complexidade e dificuldade que se tem sentido pela sobrelotação do serviço de urgência do HSA” e reiteram o reconhecimento do “trabalho e do esforço diário desses profissionais, que com muito empenho e generosidade têm conseguido [LER_MAIS] dar resposta atempada aos casos agudos sem deixar de atender os casos não urgentes, prometendo tudo continuar a fazer para ultrapassar os problemas actuais”.
“A sobrelotação das urgências é, infelizmente, um problema sentido em todo o País, especialmente nos hospitais dotados de menos meios e com procura mais elevada. O CA do CHL tem consciência do problema, pelo que há já bastante tempo que vem procurando sensibilizar a população para apenas recorrer ao Serviço de Urgências em casos de real urgência. Os casos não agudos, que têm representado cerca de 40% da afluência, têm que ser tratados nos Centros de Saúde e nas Unidades de Saúde Familiar, que eventualmente terão que repensar os seus horários de atendimento, mas também recorrendo à linha Saúde 24”, alerta ainda o CA.
Reconhecendo que, sem alternativas, os utentes acabem por procurar o Serviço de Urgências, o Conselho de Administração defende a criação, em alguns locais, de um atendimento permanente ao nível dos cuidados primários idêntico aos antigos SAP (Serviço de Atendimento Permanente).
O hospital tem utilizado várias ferramentas para “ultrapassar ou, pelo menos, minimizar a situação”, entre as quais a “desactivação do INEM/CODU [Centros de Orientação de Doentes Urgentes], para interromper a recepção de mais doentes da área da Medicina Interna, transferindo-os para outros hospitais”.
Esta medida foi desactivada às 9:30 horas de 22 de Fevereiro e retomada às 8 horas do dia 25. “É uma medida eminentemente técnica, ao dispor de qualquer hospital do País, que salvaguarda o atendimento e a segurança dos doentes em casos de procura excessiva das urgências, a qual devia ser elogiada e não alvo de alarido por quem não conhece este procedimento”.
O hospital revela ainda que activou o Plano Contingência, tem estado em permanente articulação com o INEM e com outras unidades hospitalares e, nas próximas semanas, em articulação com o Agrupamento de Centros de Saúde Pinhal Litoral, estará operacional um sistema de agendamento de consultas directamente pelos profissionais da Urgência para os cuidados primários, encaminhando os doentes que estão indevidamente na Urgência para consultas de agudos nos cuidados de saúde primários, onde serão atendidos no próprio dia.
O CA tem um encontro marcado para o dia 7 de Março, assim como com o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) em reunião já solicitada, e reforça que a “sua prioridade é a segurança dos utentes, a resolução dos problemas e a tranquilidade da população, não embarcando em despiques políticos que só servirão para alarmar as pessoas”.
O SRCOM adianta que no dia 6 de Março irá também reunir-se, em Leiria, com médicos do hospital e com todos os sindicatos, a partir das 21 horas.
Tutela não comenta
O JORNAL DE LEIRIA enviou várias perguntas ao Ministério da Saúde sobre a situação que se passa no Serviço de Urgência do Hospital de Santo André, em Leiria. Pela segunda vez, as perguntas ficaram sem resposta. A tutela entendeu que as perguntas enviadas deveriam ser direccionadas ao CHL, referindo, contudo que o Ministério da Saúde “acompanha em permanência a situação dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde em articulação com os Conselhos de Administração das unidades de saúde, de forma a garantir que os serviços de saúde são assegurados com qualidade” e “mantém também reuniões regulares com a Ordem dos Médicos”.