Ao cabo de mais de vinte anos de actividade, eis que o Grupo Protecção Sicó (GPS) adquiriu no final de 2018 o estatuto de instituição de utilidade pública. A este grupo sediado em Pombal se devem inúmeras descobertas de grutas e de algares, achados arqueológicos, denúncias de atentados ambientais e as mais variadas iniciativas de sensibilização para o ambiente. E os projectos do GPS estão longe de parar por aqui, com a construção do futuro Centro BTT Sicó, a nascer nas instalações da EscolAbrigo, nas Ereiras, Redinha.
Mas se a defesa de algumas causas, como a preservação da água, começam a sortir efeitos, com uma população cada vez mais consciente do impacto dos seus actos, já outras estão longe da resolução, como é o caso da preservação do maciço calcário de Sicó.
Segundo os ambientalistas, em duas décadas de trabalho do GPS, à imagem do que sucedeu no resto do País, também as pedreiras desta região duplicaram de tamanho.
Pedro Alves, presidente do GPS, e Cláudia Neves, vice-presidente e membro do grupo desde a sua fundação, em 1997, começam por congratular- se com a recente notícia da aquisição de estatuto de instituição de utilidade pública, que entendem ser “o reconhecimento do trabalho que o GPS tem feito ao longo de 22 anos”.
Este grupo de jovens, dissidente de uma associação anterior, mostrou desde sempre uma dinâmica excepcional, recordam Pedro e Cláudia. Todos eles praticavam espeleologia, pelo que desde logo se registaram na Federação Portuguesa de Espeleologia. Actualmente, o GPS é composto por 192 associados, todos voluntários, e a espeleologia continua a ser uma das mais importantes actividades do grupo, notam os dirigentes. Também a protecção do ambiente é outra das vertentes que esteve presente desde sempre, acrescentam.
Entre outras iniciativas que ao longo do tempo têm marcado a actividade do GPS, os dirigentes destacam: a participação na escavação arqueológica na Gruta do Algarinho (Sistema do Dueça – Penela), em 1999; a descoberta da Lança da Idade de Bronze, também na Gruta do Algarinho, em 2001; a descobertade três crânios humanos na mesma gruta, em 2006; a descoberta da pegada de dinossauro na Serra de Sicó, em Abiul, em 2003; descoberta do Algar do Abismo de Sicó, a 107 metros de profundidade, em conjunto com o Núcleo de Espeleologia de Condeixa, em 2005; apoio aos vários trabalhos de campo realizados pela bióloga Ana Sofia Reboleira; monitorização, também ao longo de vários anos, dos abrigos de morcegos; e mais recentemente, em 2018, realização de sessões públicas de esclarecimento sobre fracking.
Quer a contaminação da água, através da poluição dos algares, quer a destruição do maciço calcário de Sicó, através da exploração das pedreiras, têm sido as maiores preocupações dos membros do GPS.
Dejectos de animais, dejectos humanos, carcaças de animais e desperdícios resultantes da produção de azeite, lançados para os algares, eram formas de contaminação de água muito frequentes na região. Mas, asseguram Pedro Alves e Cláudia Neves, fruto também do trabalho de sensibilização do GPS e da maior quantidade de caixotes e de ecopontos disponíveis, encontra-se hoje menos lixo pela serra. Quanto às pedreiras, e apesar das denúncias a várias entidades, “todas as queixas têm caído em saco roto, aliás como sucede por todo o País”, realça Pedro Alves.
Localizadas em zonas de reserva, as explorações terão duplicado a sua área nos últimos 20 anos, estima o presidente do GPS. “Estamos a destruir património, a alterar todo o regime hídrico, a fauna e a flora. E no dia em que as pedreiras pararem, com extensões tão grandes, o que se pode fazer lá? Provavelmente nada”, diz Cláudia Neves. E Pedro Alves acrescenta: “estamos a querer 'vender' o País aos turistas, promovendo a escalada e o BTT. Mas quem vai querer fazê-lo no meio de uma pedreira?”, interroga o ambientalista.
A promoção turística, sustentável, deve ser de resto uma das apostas a considerar não só por Pombal, como por todos os concelhos que beneficiem da Serra de Sicó, consideram os ambientalistas.
[LER_MAIS] Um dos próximos projectos do GPS é precisamente a construção de um centro de BTT no edifício sede do grupo, a EscolAbrigo, que fica localizada numa antiga escola primária, na Redinha. O projecto visa potenciar a ligação de percursos pedestres e de BTT a outros concelhos e envolver associações culturais e recreativas, expõem os dirigentes.
Ano a partir do qual o GPS tem vindo a co-organizar e a participar nas expedições espeleológicas a Timor Leste, em conjunto com o Centro de Investigação e Exploração Subterrânea, o Centro de Estudos e Actividades Especiais da Liga para a Protecção da Natureza, o Núcleo de Espeleologia da Universidade de Aveiro e a Juventude Hadomi Natureza (associação timorense)
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Foi no âmbito de uma destes expedições espeleológicas a Timor Leste, em 2016, que Ana Sofia Reboleira descobriu uma nova espécie de animal cavernícola, Sarax timorensis, um aracnídeo que foi esta semana descrito num artigo publicado na revista Zookeys. Com esta, aumentam para 59 as novas espécies descobertas pela bióloga