Os alunos do 4.º ano da Região de Leiria – que integra os concelhos de Alvaiázere, Ansião, Batalha, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande, Pedrógão Grande, Pombal e Porto de Mós – obtiveram a melhor classificação em Ciências e Matemática no TIMSS – Trends in International Mathematics and Science Study de 2015.
As conclusões estão espelhadas no relatório Estado da Educação 2017, elaborado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), que analisa as diferentes vertentes da Educação em Portugal em 2016/2017.
Segundo este estudo, divulgado recentemente, Portugal integrou a 1ª edição do TIMSS, em 1995. Depois de suspender a sua participação nas três edições seguintes, voltou em 2011 e 2015. Nesta última, ficou em 13.º lugar em Matemática entre os países participantes e na 7.ª posição entre os países europeus.
Nesta disciplina, os portugueses obtiveram uma pontuação média de 541 pontos, com um aumento significativo de nove pontos relativamente a 2011, subindo dois lugares no ranking dos países participantes. A Região de Leiria obteve a melhor pontuação média (576), seguida do Alto Minho (569) e do Cávado (567), refere o relatório, salientando que em Leiria 24,4% dos alunos atingiram o nível de desempenho Avançado e 65,1%, pelo menos, alcançaram o nível de desempenho Elevado.
Em Ciências, em 2015, Portugal ficou em 32.º lugar entre os países participantes e no 23.º posto entre os países europeus. “A Região de Leiria é novamente aquela em que a percentagem de alunos que atinge o nível de desempenho Avançado (4,1%) e pelo menos o nível de desempenho Elevado (37,8%) é maior”, lê-se no documento.
O Estado da Educação destaca ainda a Região de Leiria no tópico da retenção e/ou desistência dos alunos. Segundo os dados publicados, é no 7.º ano que os estudantes mais chumbam, não obstante, Leiria tem a segunda taxa mais baixa do País (6,7%). Já no 4.º ano, Leiria tem mesmo a menor taxa de retenção de Portugal (0,6%). A média nacional é de 11,4% e 2,1%, respectivamente.
Mesmo apresentando uma tendência de redução, a taxa de retenção e desistência é reveladora de uma “cultura de retenção” contraditória com a perspectiva de educação permanente que se pretende instituir e incompatível com o direito de todos a uma educação de qualidade, refere Maria Emília Brederode Santos, presidente do CNE, na nota introdutória do relatório.
“O facto de o insucesso escolar, além de socialmente injusto, ser precoce e recair mais pesadamente nos primeiros anos de cada ciclo de estudos, sugere que a própria organização do sistema merecia ser repensada e as didácticas mais fortemente apoiadas.”
Em declarações à Lusa, Maria Emília Brederode Santos questiona a existência do 2.º ciclo, lembrando que se trata de uma “originalidade portuguesa”, que “não é uma boa prática” tendo em conta o elevado número de reprovações.
Para a presidente do CNE, deveria ser repensada a organização do ensino básico, actualmente dividido em três ciclos, “designadamente a velha questão do 2.º ciclo, dadas as dificuldades assinaladas nos anos de transição”, como refere na introdução do relatório Estado da Educação 2017.
A taxa de retenção do 7.º ano, que em 2017 [LER_MAIS] alcançou os 11,5%, “tem sido a mais elevada do ensino básico nos últimos quatro anos, enquanto no 8.º e 9.º ano os valores têm-se vindo a aproximar, rondando os 7% em 2017”, refere o relatório.
Maria Emília Brederode Santos considera que “valia a pena tentar encontrar outras formas de organizar o sistema que não criassem tantas transições, que acabam por provocar, como se percebe pelos resultados, mais dificuldades na aprendizagem dos alunos”.
Sem apontar soluções, a presidente do CNE deu como exemplo a possibilidade de os nove anos do ensino básico poderem ser divididos em apenas dois ciclos, seguindo-se depois o ensino secundário (do 10.º ao 12.º ano).
No ensino secundário, a maioria dos alunos continua a optar pelos cursos científico-humanísticos. A taxa de retenção e desistência é mais alta no 12.º ano (26,2%), seguida do 10.º ano (14,2%) e depois do 11.º ano (8,2%).
A nível nacional, o relatório adianta que o ano lectivo de 2016/2017 regista a taxa de retenção e desistência mais baixa da década nos cursos científico-humanísticos do ensino secundário (17,5%) e o aumento da taxa de conclusão do ensino secundário, nos cursos científico-humanísticos e nos cursos profissionais/tecnológicos, atingiu 72,5% e 76,2%, respectivamente.
“As taxas de conclusão do ensino secundário regular mais elevadas nos concelhos classificados como Território Interior registaram-se nas regiões da Lezíria do Tejo, Região de Leiria, Região de Coimbra, Beira Baixa e Alentejo Litoral”, lê-se no documento.
Outra conclusão do CNE é que a classificação média interna final é sempre superior à classificação média de exame nas dez disciplinas do ensino secundário, com mais provas de exame realizadas.
“Entre 2008 e 2017, a taxa real de escolarização no ensino secundário registou uma evolução positiva, apresentando no balanço da década um acréscimo de 15 pontos percentuais (pp).
Santarém dá alunos a Leiria
Na abordagem ao ensino superior, o Estudo da Educaçãoinforma que o Instituto Politécnico de Leiria tinha, em 2016/2017, dois Cursos de Especialização Tecnológica, 24 Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CteSP), 57 licenciaturas e 31 mestrados. Na análise do CNE ficou explícito que a maioria dos estudantes do IPLeiria tem residência permanente em Leiria (4741).
De fora, a proximidade parece ditar as opções dos alunos. São os jovens dos distritos de Santarém (1018), Lisboa (905), Coimbra (308) e Aveiro (268) que mais escolhem as escolas do Politécnico para estudar.
De acordo com o relatório, na relação entre a qualificação e o emprego pode observar-se que, na globalidade, “quanto maior é o nível de escolaridade completo, maiores são as taxas de actividade e de emprego”.
Aliás, o estudo indica que quem tem habilitações superiores tem mais oportunidades de emprego, apresentando valores de 83,9%, contra 78,9% para quem tem o ensino secundário.
Num retrato geral da Educação, o CNE destaca o aumento da percentagem dos que concluíram, pelo menos, o ensino secundário, mas alerta que há ainda 2,5 milhões de adultos “que têm no máximo o 1.º ciclo do ensino básico”.
“Entre os adultos, apesar de um expressivo crescimento (20 pontos percentuais na década) da percentagem dos que têm, pelo menos, o ensino secundário completo, contam- se ainda cerca de 2,5 milhões de cidadãos, maiores de 15 anos, que têm no máximo o 1.º ciclo do ensino básico”, lê-se na introdução do relatório.
É referido ainda que “quase um quarto dos alunos portugueses revela dificuldades em Matemática” e que Portugal é o sexto país em que menos pessoas acedem diariamente à internet. No grupo etário mais jovem, Portugal apresenta percentagens superiores à média da UE28.
O relatório do CNE revela também que o corpo docente das escolas públicas portuguesas está em queda e envelhecido, com apenas 0,4% dos professores com menos de 30 anos. No que diz respeito ao ensino préescolar, básico e secundário, entre 2007/2008 e 2016/2017, as escolas perderam 30.370 docentes, registando um total, no último ano lectivo em análise no relatório, de 145.549 profissionais.
O envelhecimento da classe docente é uma das questões que preocupa os directores escolares. “A maior parte dos agrupamentos tem professores do 1.º ciclo com uma média etária de mais de 50 anos e nos jardins-de-infância de mais de 55 anos. Há uma décalage brutal entre o nível etário dos alunos e dos professores e aqui também é importante investir”, referiu à Lusa, o presidente da ANDE – Associação Nacional de Dirigentes Escolares, Manuel Pereira, alertando para o desgaste físico dos professores.
8.281
alunos inscreveram-se no curso de Línguas e Humanidades, entre 2014 e 2017, o que representou um acréscimo de mais 16%. No mesmo período 4454 alunos (+22%) estavam em Ciências Sócio-económicas. Por seu lado, houve uma perda nos cursos de Ciências e Tecnologias (-5240) e de Artes Visuais (-1426)
94,7%
é a taxa de conclusão do ensino básico (9.º ano), em 2016/2017, na Região de Leiria, a terceira mais alta e acima da média do País (92,98%). O relatório evidencia ainda que a Região de Leiria tem das taxas de conclusão mais elevadas em concelhos classificados como “Território Interior”. O Alto Minho, o Ave, o Cávado, o Douro, o Tâmega e Sousa, a Região de Coimbra e a Região de Leiria são as que têm a taxa de retenção e desistência abaixo da taxa nacional, em todos os anos de escolaridade
3,04%
foi a média no exame do 9.º ano de Matemática dos alunos da Região de Leiria, acima da média nacional (2,88%). A média na prova final de Português foi de 3,05%, igual aos valores nacionais
2,7%
do Produto Interno Bruto deverá ser investido em investigação e desenvolvimento até 2020.
Portugal (1,27%) precisa de mais do dobro do investimento para atingir a meta. A média da União Europeia é de 2,03%