Há ideias luminosas e há ideias para iluminação. Pedro Mendes liga os dois pólos, através da energia da marca Caruma. Vendeu o primeiro candeeiro de autor quando era estudante universitário em Coimbra, mas a mania de "fazer coisas" começa muito antes: nos brinquedos construídos na infância, no artesanato para os amigos durante a adolescência, até se interessar pelos ícones do design quando chega ao ensino superior e passa a coleccionar, mas também a comprar e a vender, objectos clássicos do século XX. "E ao mesmo tempo ia criando as minhas peças", numa abordagem que mantém até hoje e que confere o ser ao parecer, ou seja, resolve a função através da estética.
A ovelha no quintal. No ateliê da Barosa, entre a Leiria que habita e a Marinha Grande onde tem boa parte dos clientes e fornecedores, há um quintal e uma ovelha solitária que é ao mesmo tempo cortador de relva e imagem da responsabilidade perante o meio ambiente inscrita no código genético da Caruma. "Basicamente, faço sempre a mesma questão: isto serve para quê?". Porque "sempre que consomes estás a retirar à Natureza e não estás a repor. É um facto". Contra o desperdício, pelo minimalismo, ou, ao menos, contra o consumismo desmedido, pela manutenção e reutilização, num materialismo consciente. "Preciso de sentir que estou a fazer algo útil, que seja durável, que tenha qualidade e que não seja descartável".
Fundada em 2006, a Caruma ilumina peças de autor, edições limitadas e projectos para residências, lojas, restaurantes e hotéis, muitas vezes em colaboração com gabinetes de arquitectura e decoração.
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Nuvens e cornetas. Outra característica da marca é o equilíbrio entre o peso do trabalho manual e da tecnologia de ponta, no processo de fabrico. É o que sucede em Nuvem (na foto maior, ao lado): pé em vidro artesanal, executado à mão, sem molde, tubos de vidro queimados à mão e componentes em acrílico e metal cortados a laser. Já a Corneta, criação seleccionada em 2017 no primeiro Leiria Design, representa o gosto de Pedro Mendes pela forma física de amplificação e projecção de ondas mecânicas, vulgarmente utilizada em instrumentos musicais e altifalantes, que, no caso da luz, tem um efeito contrário ao do som.
A história de Pedro Mendes na iluminação é um acaso que vem de longe: do primeiro trabalho remunerado, aos 16 anos de idade, a montar candeeiros nas obras do hipermercado Continente em Leiria, ao primeiro projecto de design industrial vendido a terceiros, muito cedo no percurso. A relação com a indústria ficou até hoje, tanto através da Caruma como dos serviços de consultoria para clientes portugueses que fornecem catálogos internacionais. E em tudo há a perspectiva de quem começou por se licenciar em engenharia mecânica e gosta de olhar para as coisas "de outra maneira".
No catálogo da Caruma convivem cornetas, nuvens, corações e tajines de cerâmica que afinal são candeeiros em resina (em co-autoria com Joana Soberano) inspirados nos utensílios de cozinha do Norte de África. Também há linhas de tecido a definir flexibilidade e simplicidade (modelo Flex) e uma peça em que o trabalho de Pedro Mendes se transforma numa máquina de descomplicar levada ao limite: Power For The People. "Porque é mesmo isso: dar a possibilidade de serem as pessoas a fazer". Pé em vidro manual, produzido sem molde, à maneira tradicional da cristalaria artística da Marinha Grande, com lâmpada LED, que faz ponte para a tecnologia mais recente. "É uma peça minimalista. Mais minimalista do que isto não consigo fazer".