Entrevista conduzida por:
Jacinto Silva Duro
Manuel Leiria
A candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura(CEC) é uma necessidade ou uma consequência? Leiria precisa dela ou merece-a?
Pelas duas razões, Leiria tem um legado muito maior do que os leirienses têm consciência… há património, há agentes, há práticas, há obra milenar e pré-histórica, que justificam que receba o evento. É fundamental activar este processo de candidatura, para conseguir resultados que, neste momento, não existem por responsabilidade nossa. É necessário energizar os agentes culturais, económicos e, especialmente, políticos, para oferecer consciência global do lugar que a cultura tem no desenvolvimento de uma cidade, de um país e de um tempo. Temos andado a descurar esse processo. Pode haver até um legado histórico, mas aquilo que, verdadeiramente, motiva é o manancial de mais-valias para nós, para a cidade e região.
Há um factor agregador e identitário nesta candidatura? Há muito que Leiria é apontada como uma cidade sem uma identidade que agregue pessoas e vontades.
Do ponto de vista cultural, há uma ausência de identidade… mas o mesmo se passa com a economia e a política. Quando pensamos em Leiria, cada um de nós, olha apenas para uma parte da cidade. É verdade que ainda não temos um jardim, que o primeiro grande museu abriu há pouco e aquilo que se fez não foi feito como parte de um processo ponderado e participado. A identidade existe, mas é anónima para a maior parte de nós. Não temos consciência do que está a acontecer ao nosso lado. Por exemplo, nos primeiros 30 dias de trabalho neste projecto, eu e a equipa da Musicalmente, estivemos a perceber quem somos, onde estamos e o que estamos a fazer. Estamos a ponderar um território que se quer mais amplo do que a cidade, entre Castanheira de Pera e Torres Vedras, e entre Tomar e Nazaré… Ainda só reunimos com as instituições de Leiria e demos conta que elas não sabem o que as outras estão a fazer. A partir do momento em que colocarmos cada uma delas em contacto e com o que estão a fazer, a identidade virá ao de cima. Há elementos na cidade que são mais identitários do que a nós, que somos de cá, nos parece. Parece-me que a maior ausência é de alguém que lidere os processos. Há múltiplos projectos que, individualmente, são muito bons, mas que não se juntam para potenciar o que têm de melhor.
Quais serão as linhas mestras da candidatura?
Há três ideias centrais. Em primeiro lugar, não estamos a pensar apenas na cidade e, por isso, passámos a designar esta candidatura como Rede Cultura 2027. Quando se fala em matérias frágeis como a cultura, se não associarmos os poucos agentes e fundos nacionais e comunitários, dificilmente poderemos construir algo sólido. A primeira ideia passa por potenciar os agentes distintos de um território amplo, mas juntando, já este ano, o que cada um tem, podemos ter um resultado muito superior àquilo que cada um faz sozinho. Em segundo lugar, queremos falar com as pessoas, uma a uma. Nada se faz sem a participação de todos, de nada adianta haver uma ideia extraordinária se as pessoas não se sentem motivadas e envolvidas. O que estão a fazer muitas das cidades que competem para serem CEC? Contratam uma agência de comunicação, fazem um estudo de mercado, arranjam um lema, fazem uma campanha e vendem uma ideia para a candidatura. Não pode ser assim. Temos de ouvir cada uma das pessoas, saber quais são os seus sonhos, as suas experiências e vontades, porque é do somatório deste mundo de sonhos e vontades que nascerá um lema que, depois, será trabalhado ao nível da comunicação, mesmo que conduza para um caminho que nenhum de nós esperava, mas que é o nosso caminho. Isto é importante para os agentes políticos, económicos e culturais. Não se pode separar este triângulo. Por fim, a terceira ideia passa por olhar, profissionalmente, para a cultura. Temos de abandonar de vez a ideia de que a área da cultura tem menos impacto na vida quotidiana, económica e política do que outras áreas. Será preciso mudar procedimentos. Por exemplo, da mesma forma que um guarda-redes não é um ponta de lança, na cultura, existem papéis e competências muito próprias. Não se pode pensar que um vereador pode programar ou que um director administrativo possa ser director de produção. O que acontece hoje, não é por culpa ou responsabilidade de alguém, mas de um histórico de desinvestimento geral na cultura. Temos de colocar profissionalismo a todos os níveis na cultura. Isso implica planear sem ser em navegação à vista. A cultura, de todas as áreas, é talvez a que tem um investimento mais a médio e longo e muito longo prazos. Qualquer investimento tem de ser geracional. Como as coisas demoram muito tempo, não podemos pensar que devemos consumir à carta. Vem um agente com uma produção e um amigo com um artista, vem uma companhia com uma lábia mais interessante e são contratados… Não pode ser assim!
Há muito tempo que essa situação está diagnosticada e há muito que se confronta os políticos com isso e nada mudou.
A partir do momento em que o presidente da Câmara de Leiria avança com a possibilidade de Leiria concorrer a CEC,sabemos que, pelo menos, o responsável máximo do poder autárquico da cidade colocou como possibilidade este projecto. A nós, leirienses, faz falta que haja gente que venha de fora olhar para nós. Por exemplo, não sou eu quem tem o dossier da música. Quem o tem é Celeste Afonso, sob proposta do professor João Bonifácio Serra. Sendo uma área mais fácil de percepcionar na cidade, admito que não teria distância suficiente para perceber o que importa verdadeiramente e o que nos distingue. Estamos a constituir vários grupos de trabalho em cada uma das áreas; para a Leitura e para o Livro, Pensamento, Artes Plásticas e Música. Há ainda o eixo da Espiritualidade. Além disso, será que ter, numa equipa alargada, a classe política – o presidente e os restantes vereadores -, pessoas externas à cidade, outros agentes de Leiria ligados à Cultura, à Gestão, Economia, Igreja ou associativismo cultural é uma auto-estrada para a transformação? Não! É um carreirinho muito pequenino! Não podemos ficar reféns do passado. Há a oportunidade de refrescar o cenário com dinâmica nova. Hoje, não há programação e não há clareza sobre o modelo, mas há consciência disso e alguma abertura. Vamos aproveitar para que ela nos sirva para potenciar um resultado que vá além do carreirinho que se abriu agora.
Projectou o nome de Leiria através de iniciativas que colocaram a música no universo de bebés, de reclusos, de doentes terminais ou de pessoas com doença mental. De que forma conseguirá que a candidatura de Leiria surpreenda?
Neste triângulo de poder: Comissão de Projecto, Conselho Estratégico e Conselho Geral,quem define a estratégia é o Conselho Estratégico, que também integro. Entendo que toda a cultura, incluindo a mais erudita e a menos elaborada, é acessível a todos. Na minha forma de pensar a programação, não me fascinam grandes eventos com sumidades. Prefiro pequeninos eventos que transformam cada um de nós. Naquilo que me disser respeito, esta candidatura nunca terá parangonas de estádio e milhares de pessoas a celebrar, com pompa e circunstância, a cultura. Aquilo que levo da minha experiência profissional é a percepção de que a cultura que vale a pena trabalhar é aquela que interfere na vida diária de cada um de nós. Se tiver de optar por criadores, pensadores, curadores que têm uma perspectiva mais ampla da cultura ou por quem tenha uma mais elitista, optarei sempre pelos primeiros. Isso é facilitador? Não! Se fosse, não faria ópera com prisioneiros. Acredito que é possível levar a mais alta cultura a qualquer pessoa. Não podemos ter coisas só para quem tem determinado nível intelectual, que foi iniciado à cultura… ou para os que acedem ao último grito das artes plásticas contemporâneas, ao da ópera contemporânea e os mortais que ouvem Emanuel e Quim Barreiros e enchem recintos. Nada tenho contra o Quim Barreiros. Ele será invocado e poderá participar? O que importa é que o local onde isso acontecer seja claro. Jamais nos poderemos deixar levar pela ideia de que uma grande Capital Europeia da Cultura tem um "passe de mágica" que vai fazer aparecer uma cidade nova. A cultura não irá transformar nada se só tivermos uma colecção de grandes eventos e fizermos descer do castelo fogo, músicos a voar e actores a pintar os céus. Nesse cenário, não vejo como a comunidade se irá envolver e isso lhe irá interessar. O ponto de partida é reflectir sobre a identidade cultural. Temos agendados encontros entre artistas, agentes culturais e especialistas nacionais em programação, curadoria e produção, que irão ajudar a reflectir sobre estes conceitos-base. Já falei com o Gui [Garrido], d'A Porta, com o Carlos [Matos], do Entremuralhas, com a "malta" que está a trabalhar e o que acontece? Cada um está a tentar "salvar" o seu evento e não temos tempo para reflectir o que fazemos, porque acabamos todos a ter de gerir os projectos em cima do joelho!
Quando vão acontecer os encontros?
No primeiro mês de 2019, iremos ter dois encontros com convidados internacionais e nacionais, para nos ajudar a reflectir sobre o que é programar cultura numa cidade. Aí, começarão as questões de fundo e ideológicas da cultura. Mas nem sequer chegámos a esse passo. Ainda estamos no básico! Temos de pensar o que é construir uma programação cultural na cidade.
Isso já se irá reflectir na programação cultural de 2019?
Gostava que isso pudesse acontecer. Para o ano, já iremos ver algumas coisas da Rede de Cultura 2027. Vamos investir em trabalhos de co-produção entre agentes culturais do território da rede. Os grupos, as galerias, as escolas e bibliotecas, estão a ser informados de que se quiserem fazer algum projecto em conjunto com outro parceiro, nós investiremos. Queremos oferecer a experiência de que, quando trabalhamos em conjunto, nas mesmas áreas e com uma cidade vizinha, também crescemos. Não há o "melhor festival" de música, de teatro ou marionetas, há, um conjunto de agentes, pessoas ou instituições, que, ao juntarem-se para produzir em conjunto, serão apoiados. Vamos abrir um processo de candidaturas e reforçar os eventos que já decorrem na cidade. Por exemplo, se houver um evento ou projecto que, até aqui, não contemplava actividades com escolas, parcerias nacionais ou internacionais, temos de os estimular. Esse apoio nem sempre é dinheiro. Pode ser oferecer os canais para estabelecer parcerias. Em 2019, que ainda é um ano para reflectirmos em conjunto e sem pressas, já haverá programação com base neste budget.
Mencionou há pouco a extensão geográfica da candidatura e englobou concelhos, do distrito e mais a sul, e do este. Ainda na semana passada, o presidente da Câmara de Alcobaça disse que não foi contactado oficialmente e a isto junta-se uma candidatura anunciada pela Região Oeste, ou seja, do sul. Essa candidatura caiu?
Desde os primeiros encontros do grupo de missão que foi claro que Leiria iria lançar-se numa candidatura com um amplo território. A fronteira não estava definida mas chegou-se à conclusão que teria de ser, pelo menos, o território do Politécnico de Leiria, a Associação de Municípios de Leiria e, houve conversas informais com alguns concelhos-chave da região. Foi com alguma surpresa que soubemos da proposta de candidatura da CIM Oeste. Contudo, no dia 31 de Outubro, a equipa da Rede Cultura 2027, encabeçada pelo presidente da Câmara de Leiria, Raul Castro, irá reunir-se com os municípios do Oeste, e apresentar uma agenda conjunta de trabalho para 2019. Temos tido a maior abertura e interesse dos agentes culturais e municipais. Alguns municípios têm razão quando dizem não ter havido um contacto mais formal, que, infelizmente, foi sendo adiado por razões de agenda, mas sempre foi claro para o nosso grupo de missão que o território envolvia os municípios do Oeste e de Leiria. Além disso, uma das primeiras cidades a manifestar interesse em estar nesta candidatura foi Tomar, que a leva além deste eixo geográfico. Mas faz todo o sentido: temos um arco de património da Unesco, que inicia no Convento de Cristo e vai até à Berlenga. São quatro "pilares" tremendos. Um deles é o Mosteiro da Batalha, onde estamos agora. O professor Samuel Rama costuma dizer que, neste território, há um vínculo muito mais natural do que parece. Desenvolvemos a agricultura e floresta nesta região que chega a Lisboa, o que fez com que as areias do território se purificassem. À custa dessa purificação, nasceu a indústria do vidro que impulsionou, mais tarde, a dos moldes. A mesma tecnologia que serviu para o madeiramento das naus foi utilizada para o madeiramento do património da Unesco. Há muitos mais vínculos a estruturar este território do que possa parecer. Porém, neste momento, será que sei o que está a ser feito culturalmente em Castanheira de Pera e Alcobaça? Não temos essa prática, mas não a temos porque nunca a criámos. Este território é muito mais coeso do que aquilo que pensamos.
Essa reunião será um pedido de namoro ou de casamento? Fica tudo resolvido?
O encontro com a CIM Oeste é de conhecimento mútuo, tendo havido contactos, previamente, entre cidades e agentes culturais. Na verdade, este é um encontro para casamento. Há, naturalmente, dúvidas legítimas que os autarcas do Oeste querem esclarecer. Foi criado um [LER_MAIS] modelo de integração destes territórios: não há um cheque em branco para os municípios que se envolverem no projecto. Cada um pode escolher envolver-se à escala do interesse da sua comunidade. Temos de democratizar e a comunidade tem de participar, sem nos preocuparmos com a proximidade das eleições. O encontro do dia 31 poderá terminar com um casamento assumido.
Mas ainda há um "divórcio" por resolver. As coisas entre Leiria e Coimbra não têm corrido bem.
A minha opinião, que creio estar alinhada com a generalidade do Conselho Estratégico, é que faz sentido que haja as duas candidaturas. Há, naturalmente, uma identidade muito forte de Coimbra. Conto convidar o meu colega Luís de Matos [responsável pela candidatura de Coimbra] e alguns amigos a reflectir sobre o que é comum em todas as cidades candidatas, que já são mais de dez. Há histórias e linguagens culturais muito distintas entre Leiria e Coimbra. Luís de Matos disse que, quando Coimbra for CEC, irá associar todos os municípios à sua volta e nada será como antes "até ao fim da eternidade". São duas ideias diferentes em relação a Leiria: a Rede Cultura 2027 é para começar agora, no dia 31 de Outubro, e já está a trabalhar no terreno. Não podemos pedir a políticos, a dois anos de eleições, que invistam num projecto que acontecerá em 2027. Tem de ser aqui e agora. Qualquer projecto que seja feito a pensar num grande ano, com um cardápio recheadíssimo é como aquelas crianças que passam fome toda a semana, mas que, ao fim-desemana, são colocadas em frente a uma mesa cheia. Em relação à eternidade – eu sei que ele é mágico -, é importante ter em conta, que, hoje, tudo muda rapidamente. Um bom projecto tem de envolver as pessoas já! A nossa agenda é até 2021, quando estivermos a construir, verdadeiramente, a candidatura. Em 2022/23, haverá tomada de decisões e visitas de especialistas nacionais e europeus. Depois, a cidade escolhida, que tenho a convicção de que será Leiria, terá, entre 2024 e 2027, um trabalho muito grande para fazer, envolvendo todo o território.
A extensão territorial poderá ser um problema? Em Guimarães, o evento centrava-se no centro histórico e na cidade.
Percebo que ter um território que demora duas horas a ser coberto é uma fragilidade, mas é também um grande potencial. Só a cidade, com os esforços de muitas pessoas, não conseguiu, até agora, dar o salto para um caminho mais consentâneo sobre o que é a cultura e a vida cultural da cidade. Com a rede, temos a possibilidade de trabalhar alguns cordões umbilicais que unem as cidades. Por exemplo, pode fazer sentido trabalhar as bandas filarmónicas com Alcobaça, que, qualitativamente, tem músicos de sopro de nível superior, e que tem um festival de música e uma companhia de marionetas extraordinários. Temos de trabalhar cirurgicamente, envolvendo as mais-valias de cada um. Outro exemplo é o Folio, que acabou agora em Óbidos. É um desperdício termos um capital acumulado em Leiria sem se estabelecer uma relação com o Folio e trazer um pouco desse festival à cidade, para experimentar alguma coisa em conjunto. Ganha o livro, ganha o pensamento, ganham Óbidos e Leiria. A cultura é uma coisa que une todo este território!
Em declarações ao JORNAL DE LEIRIA, David Fonseca declarou que Leiria não tem condições de ser CEC. Surpreendeu-o esta posição?
Não só não me surpreendeu, como compreendo bem o David. É compreensível, quando estamos num "campeonato" que, até agora, se tem medido com os "músculos" do profissionalismo, da história da programação, dos apoios aos artistas locais, da capacidade de mobilizar forças nacionais e internacionais, se acredite que Leiria não tem possibilidades de ser CEC. Ele fala também na ideia de que, para ter sucesso, qualquer artista tem de sair de Leiria porque a cidade e região não têm capacidade de alimentar forças vivas culturais. Mas é um sinal extraordinário que Leiria não o consiga fazer. Qualquer artista de Leiria, com valor, está em Diáspora pelo Mundo! Neste projecto, iremos congregar a Diáspora de músicos, actores, cenógrafos, pensadores, cientistas artistas plásticos que estão fora. Não podemos medir a possibilidade de sucesso deste projecto em função daquilo que aconteceu até agora. Se o fizermos, estaremos a menosprezar o que poderá acontecer a partir de agora. Estive a estudar a história das CEC e reparei que cidades que se transformaram imenso para as candidaturas não receberam o título. Há quem pense que o título é dinheiro. É outra ilusão. A União Europeia dá zero para a CEC e os valores têm oscilado entre os 40 e os 200 milhões. Somos nós, com as ideias que colocarmos na mesa, que vamos, ou não, ser capazes de capitalizar o investimento. Por vezes, de alguma coisa que não se esperaria, de um pequeno projecto, acontecem impactos superiores aos que, inicialmente, suspeitávamos. Temos de ser capazes de pensar que não é por sermos uma cidade pequena, com pouca tradição em profissionalismo cultural, que temos menos probabilidades. Cada um de nós é chamado a investir naquilo que é a sua área para que a percentagem de probabilidade de sucesso seja superior. Na cultura, não ganha quem marca mais golos ou sequer quem joga melhor. É muito mais rico e mais complexo do que isso. Se olharmos para esta competição como um jogo de futebol, e se não temos jogadores como A, B e C e se nunca ganhámos campeonato algum, como vamos agora ganhar?! O David tem o direito a dizer isso? Tem. Os agentes culturais têm o direito a lamentar- se pelo pouco apoio que o município e as estruturas oferecem? Temos. Mas não basta lamentar. Ainda em 2019, a Musicalmente faz questão de trabalhar num Plano de Apoio à Culturana cidade. Não é só falta de estratégia. Quem recebe apoios [actualmente]? Como diz o povo, quem chora mais e melhor, recebe mais. Não pode ser. Não podemos distribuir recursos de todos por quem chora mais e melhor. Não pode ser! Temos de ter um plano de apoio onde toda a gente, saiba quais são as regras pelas quais a cultura é apoiada, quais os objectivos inerentes a cada um dos eixos de apoio e todos saibam o que todos recebem! Isto é o primeiro passo para nos responsabilizar. Concordo com tudo o que disse o David e ainda tenho muitos mais argumentos do que ele, porque estou em Leiria agora e ele não está; porque eu estou com “a mão na massa” e ele não está.
Há dois anos disse que as probabilidades de Leiria receber a CEC eram baixas. Mudou alguma coisa?
Mudou bastante. Vejo muito mais energia. Via um espírito muito mais derrotista e surpreso com a ideia. As pessoas começaram a ler os dossiers e a acompanhar. Em todos os agentes há uma disponibilidade para se investir um pouco mais na cultura. Por exemplo: "ó Carlos [Matos], estás a fazer o Entremuralhas no castelo: sabes quantas muralhas há neste território? Estavas disposto a fazer um festival com mais muralhas do que estas?" E, de repente, estamos a trabalhar com outras muralhas! E há muitas outras muralhas interessadas! Mas o meu primeiro acto deste processo foi convidar o IPL para, a partir de determinada data, todas as aulas de todos os cursos comecem com um poema escolhido com um painel de especialistas da área do livro, lido pelos alunos ou pelos professores. Acredito que é mais intensa e transformadora a experiência de ter uma comunidade educativa do ensino superior a começar o dia a ler um poema numa aula de Matemática Geral, Sociologia ou Biologia Marinha do que a ter 20 espectáculos de ópera interactiva com quatro estádios de futebol cheios de pessoas a ouvir. Não podemos ambicionar que os dez mil estudantes do IPL vão passar a ir ao teatro ou ir à Arquivo beber um café e ler Sophia. Não vão! Mas temos de criar oportunidades para que o inesperado aconteça. Entre 20, 30 ou 100 alunos de uma aula de Biologia Marinha todos vão começar o dia de forma diferente se ouvirem poesia, interrogando-se, quanto mais não seja: "que diabo é que deu a estes gajos para começarem a ler poesia agora?". Interrogarem-se e ser-se crítico é o primeiro ponto de viragem para alguma coisa acontecer. E alguns deles vão de certeza interessar-se e querer saber quem é Sophia de Mello Breyner. Temos de encontrar fórmulas, naturalmente, de envolver as pessoas. Elas não têm a responsabilidade toda de consumirem cerveja e Quim Barreiros…
A inércia cultural do IPL era um dos aspectos, de uma lista que apontou há dois anos num seminário do Região de Leiria, que podiam inviabilizar as possibilidades de Leiria ser CEC além da escala, da pequenez de pensamento, da falta de investimento dos orçamentos familiares na cultura, da falta de profissionalismo dos artistas e das instituições culturais… São muitos obstáculos?
Nem a muralha da Guerra dos Tronos é tão alta… Mas até a muralha da Guerra dos Tronos se ultrapassa, com e sem dragões! Ou seja, pode parecer que sejam necessários dragões e armas mágicas, como investimentos brutais… Se tivermos 100 milhões tudo se resolve? Não é verdade. Não caiamos na tentação de pensar que a solução para tudo isto está em grandes investimentos! O IPL é importante porque é um dos eixos mais importantes da cultura da região. A cultura tem que ver com pessoas e pensamento e não com ausência de espectáculos. Somos uma cidade débil culturalmente não porque tenhamos poucos espectáculos, mas porque lemos pouco, pensamos pouco e estamos pouco uns com os outros a discutir ideias. A candidatura tem, por isso, de envolver todos o sistema educativo, da maternidade do hospital ao ensino superior. Muitas das áreas onde somos débeis na articulação cultural, temos cursos superiores para elas: temos Gestão Cultural e Programação Cultural… Em boa hora a nova Direcção do IPL optou ter um pro-presidente para a CEC [Samuel Rama]. Sempre achei estranho, não que o Politécnico não tenha programação cultural, mas a cultura do Politécnico, a cultura dos professores, do pensamento! A cultura não é o teatro, a dança nem a música… A cultura importa-nos para não termos mais casos como o Brasil, com Bolsonaro, ou como os Estados Unidos [com Trump]! Como é que acontece o Brexit, num país que é o berço da Europa? Falta arte em Londres? Faltará uma cultura do pensamento, não em Londres, mas no que está à volta. A importância de ir de Castanheira de Pera à Lourinhã, nesta linha do IPL, é o lado do pensamento crítico que a arte estimula e que a cultura oferece, que é verdadeiramente o que nos interessa! Se queremos pôr arte no jardins de infância não é para as criancinhas terem mais um espectáculo por semana e as professoras descansarem uma horinha; é porque, se for feito sistemicamente, com um plano, articulado entre diferentes agentes, corremos o "risco" de, daqui a uma geração, termos pessoas mais críticas e cidadãos mais envolvidos com a sua comunidade. No território desta candidatura não estão só a CIM Leiria e a CIM Oeste: estão todas as cidades europeias que integram a rede de cidades geminadas com quem Leiria tem relações. Há mais relações culturais com algumas cidades da Europa com que estamos geminados do que com a Batalha! Há mais relações culturais com cidades da Alemanha do que com a Batalha. Temos de trabalhar isto sem pensar na ideia de formar públicos. É importante fornecer experiências emocionais pela arte, sem o pressuposto de que estou numa escala de valores a oferecer diferentes níveis de fruição. Vamos dizer poesia nas aulas de Biologia Marinha, não é para estas pessoas vão consumir poesia, comprar livros ou ir ao teatro – é para lhes oferecer um momento único naquele dia, àquela hora.
Sobre o Conselho Estratégico, há quem aponte sub-representação do Teatro e da Dança, duas áreas activas e sensíveis na cidade…
Jorge Silva Melo, quando foi convidado para programar em Guimarães, achava que quem devia programar música deviam ser bailarinos; quem devia ser programar teatro deviam ser pintores… Não deveriam ser os próprios a programar a sua área, porque estamos demasiado condicionados por um olhar muito "térreo". Os representantes do Conselho Estratégico não têm um papel de programar ou reflectir sobre a especificidade de cada uma daquelas áreas. Não estou no Conselho como músico nem nenhuma daquelas pessoas está ali nas suas competências específicas da área em que está. Podia haver outro Conselho Estratégico? Podia. Acho que é muito mais grave não haver representatividade territorial. Está bem que o sul está representado pelo Samuel Rama, pelo João Serra, mas sinto-me desconfortável por não termos ninguém do norte interior. Todos os representantes estão ao mais alto nível, como o presidente da Nerlei ou o Marco Daniel, que é quem ao nível da Diocese superintende tudo. Não temos um grupo estratégico frágil, do ponto de vista das competências de reflexão e estratégia que se requerem. Para reflexão programática e de terreno, haverá grupos de trabalho específicos. E, neles, é muito importante deixar claro que olhar a cultura não é olhar as artes de palco e as artes performativas. A música, a dança e o teatro são muito importantes mas não são os eixos mais importantes num projecto que fala da cultura de uma cidade e de uma região. A arte tem mais fronteiras. Sobre o teatro, já falámos com a equipa d’O Nariz, com a do Te-Ato, com a do Leirena. Todos estão interessados e envolvidos. No fim das conversas, deram-se conta que não sabem o que existe e acontece ao seu lado, eles que têm 20, 30, 40, 50 anos de carreira na cidade! Quando dizemos, “vamos trabalhar em equipa e com que parceiros”, nunca pensaram no assunto! Quais os parceiros nacionais? E internacionais? Nunca lhes passou isto pela cabeça.A conversa tem terminado sobre o plano de apoio à cultura que queremos propor: devemos apoiar a cultura pelo número de público? Pela contemporaneidade? Pelas tecnologias? Por ter qualidade artística? Por ter qualidade de programação? Por ter profissionais de gestão? Por ter contabilidade e avaliações de impacto feito? O que consideram que deve ser tido em conta para apoiar a cultura nesta cidade? A verdade é que não há reflexão nesta área, mas há muitas críticas. Vamos publicar, para toda a comunidade, os resultados destes inquéritos, para mostrar que todos temos de participar, que todos temos ideias diferentes e distintas do que é a cultura e quais as prioridades. Qual é a prioridade central da cidade? Deve ser mais música ou mais dança? Porque, esqueçam: não vamos conseguir fazer tudo bem, a 100%. Não podemos investir tudo em tudo. Há 16 escolas de dança, 11 bandas filarmónicas e duas escolas de música oficiais, só na cidade. Se alargarmos isto a todo o território, até Arruda dos Vinhos, tudo isto aumenta imenso. E qual a área programática em que devemos investir? Mais em música ou mais em teatro? Mais em livros ou mais em teatro? Isto implica planear para além do ciclo eleitoral e em conformidade com a comunidade sente. O que posso dizer é que comunidade está ávida e desejosa de reflectir sobre esta matéria mas não há certezas. Não há fórmulas mágicas debaixo da mesa. Há é o envolvimento de todas as pessoas a reflectir sobre isto, com a certeza de que, no final, as prioridades não são consensuais.
Aveiro, além de ter apresentado um Plano Estratégico para a Cultura, valorizando os recursos regionais, participou na Roménia numa conferência para cidades candidatas e vai acolher o próximo encontro; Évora apresentou o seu projecto no Salão Internacional do Património Cultural em Paris; e a Guarda propôs uma ligação privilegiada com Salamanca. Leiria, neste campo, já tem alguma coisa pensada?
Nós vamos estar em Valladolid, numa feira de património europeia, onde vai estar a CEC também representada e já fui envolvido na elaboração da oferta cultural que vai ser apresentada. Temos uma agenda já prevista para nós e o IPL fazermos uma visita a duas das capitais para trocarmos experiências com os programadores. Nas conferências que vamos fazer no início do próximo ano, já virão alguns programadores internacionais de algumas das cidades que foram CEC. Ainda assim, a dimensão internacional da candidatura vai muito mais ao encontro do que nós fazemos na nossa cidade que contemple a dimensão europeia da cidade. Tem muito mais a ver com o nosso pensamento de mente muito aberta. O que importa não é tanto a quantidade de projectos de parceria, ou a visibilidade europeia que têm. O que interessa à Europa é como dar estatuto europeu a cada um dos cidadãos que habitam a Europa. As pessoas não têm um entendimento europeu do seu quotidiano, não por falta de intercâmbios e de projectos, mas porque na formação de base do cidadão tem de haver essa abertura de territórios. A fronteira mental tem de ser muito mais ampla do que as fronteiras geográficas. Mas estamos em contacto quer com cidades geminadas quer com cidades que não são europeias mas onde há portugueses a trabalhar na cultura. Só da banda dos Pousos há três em Nova Iorque a tocar! Temos de ser capazes de trazer um bocadinho de Nova Iorque cá, para eu, de qualquer idade, em Leiria e ou nas Cortes, poder ouvir e experimentar um projecto que, depois, me transforma. É ter projectos que, muito mais do que europeus, nos tornem cidadãos do mundo! É essa visão que precisamos e não a de que o meu festival é o melhor, a minha escola é a melhor, o meu projecto é o melhor. A nossa cidade é pequeníssima e este território, ainda que seja grande, é pequeníssimo. Mais importante do que ter dez encontros na Europa, é importante que os agentes de Leiria saibam o que acontece na rua ao lado. Estou chocadíssimo com o que tenho vindo a descobrir, confesso… Mas sim, Leiria já tem uma agenda de trabalho internacional, mais do que europeu.
Quanto é que vai custar? Falou entre 40 a 200 milhões noutras CEC.
É muito difícil falar no orçamento da candidatura em 2027. Neste momento, há um compromisso da parte da autarquia para nos dar um montante de programação anual, que é muito baixo, mas é alguma coisa. Como condição coloquei que, pelo menos, haveria 250 mil euros de programação por ano só para este arranque. Isto é nada. Será um milhão de euros nestes quatro anos, em que temos de fazer alguma coisa nova e acima de tudo estruturada. Há cidades concorrentes que têm orçamentos muito superiores. Mas não sou daqueles que coloca no montante o factor decisivo: não é por ter um milhão ou um tostão, é pela maneira como aplicamos o tostão! Não fico perturbado por Leiria aplicar pouco dinheiro na cultura. O problema é a má forma como aplica o pouco dinheiro! Temos de arranjar forma de investir melhor. Depois de 2021/22 terá de haver um montante superior. Esse montante depende de todos nós, que estamos aqui e agora e daqueles que nos vão ler. Porquê? O montante da candidatura vai depender da quantidade de parceiros económicos que vamos conseguir atrair. Se tivermos uma ideia mais poderosa, atraímos mais. O montante da candidatura está indexado à capacidade criativa e de distinguir a nossa oferta. Temos de ser capazes de oferecer um produto que atraia pessoas que pensem: se é para fazer isto, eu quero estar lá. E aqui importa se olhamos para todas as pessoas, mesmo correndo o risco de haver algumas populações que afastam financiadores. Se tivermos a ideia máxima de envolver todas as pessoas, este montante será maior. O montante da candidatura vai depender das nossas ideias; o montante do investimento da autarquia vai depender daquilo que todos os agentes culturais fizerem até lá. Os grupos de teatro, as escolas de música, os artistas plásticos, os actores, os poetas, os professores, os pensadores que quiserem e investirem mais agora, vão seguramente ter mais investimento da parte da autarquia.
O interesse da Câmara de Leiria, e das outras da região, neste projecto deve ser reflectido nos respectivos orçamentos? Os orçamentos para a cultura devem crescer?
Não há dúvidas que a comunidade vai estar atenta aos sinais. Se o sinal das autarquias for mais hercúleo, haverá mais envolvimento. Se o sinal for mais tímido, haverá menos. No caso concreto de Leiria, no que é programação que está a decorrer, vai manter-se e vamos energizar um pouquinho os eixos culturais que são mais capacitantes para a candidatura: se houver uma instituição ou festival que queira internacionalizar-se como parceiro de uma outra, vamos apoiar isso, porque consideramos que isso é vital para a candidatura. Não escondo que gostaria que a Câmara de Leiria pusesse, daqui a um ou dois anos, pelo menos um milhão de euros por ano nesta candidatura. Seria o razoável para podermos concorrer. Há outra dimensão, que são os espaços que vamos usar. Há espaços suficientes? Vamos ter mais teatros ou vamos aproveitar outros espaços da cidade? Quais são as dimensões arquitectónicas que queremos e sonhamos para este território?
Em Guimarães ou no Porto apareceram a Plataforma das Artes e Criatividade ou Casa da Música e houve regeneração urbana…
Não tenho dúvidas que sendo Leiria Capital Europeia da Cultura com uma programação robusta vai alavancar um conjunto de intervenções mais ou menos ligadas à cultura, como o urbanismo. Essas obras são importantes, mas fascina-me mais aquilo que são transformações das comunidades, das práticas culturais. As autarquias que investirem neste projecto, depois de sentirem que a sua comunidade mudou, vão pensar: "Só estávamos a pôr 0,3, 0,4 ou 0,5% [do orçamento na Cultura]. Percebemos que se pudermos 1%, 1,5%, 2% o resultado é este. Em 2028 ou 2029 não vou voltar a por 2% ou 2,5%, mas não vou voltar a 0,2% ou 0,3%; vou deixar 0,9% ou 1%". Vão implicar-se construtores, arquitectos, paisagistas e o património imaterial, que é muito importante e não se fala muito. É tão importante deixar um prédio construído como investigação publicada. Temos de olhar para isto de uma forma mais ampla. Não me fascina tanto essa dimensão física e material que sobra. Olhando as cidades, as que se transformaram mais foram as que ficaram com modelos de trabalho distintos, espaços alternativos à performance. Os teatros e palcos não são mais os grandes espaços das artes performativas. Hoje precisamos de estar uns com os outros noutros contextos. Podemos apostar numa rede de construções iminentemente expositivas ou performativas, como uma estrutura de palcos e tendas móveis. Porque não uma aldeia circense que vai itinerar por aqui? Em vez de investirmos em recuperar um grande teatro, investimos em quatro tendas profissionais, equipadas, que circulam por todo este território, com diferentes escalas, num investimento de todos. Estou mais interessado em investir noutras formas de territórios de performance e não tanto em gastar 20 ou 30 milhões numa sala. Temos um engenheiro extraordinário que faz software para Hollywood e gaming: se calhar vale a pena investir para oferecer ao Nuno [Fonseca, da Sound Particles] uma estrutura que materialize as suas ideias. Ele está a vender software que nós não experimentamos cá, ou apenas q.b. quando vamos a uma sala de cinema. Que tal desafiar o Nuno: "Vais construir para a nossa região um pavilhão onde vamos poder experimentar a tua teoria live". É uma ideia que está em cima da mesa, para trabalhar uma das nossas mais valias. Por exemplo, o Castelo de Leiria é importante, mas se calhar as pessoas não têm consciência que o José Mattoso é tão importante quanto o Castelo. A diáspora que temos de trazer não é só a diáspora territorial. Há pessoas que têm um trabalho extraordinário, que nos oferecem um património extraordinário e não temos consciência destas figuras. Para mim, a rede é o mais importante. Gostava que as pessoas de Figueiró, e de Enchecamas, pudessem ter um micro-espetáculo lá, com uma estrutura que leva a arte contemporânea, permitindo provar o peixe frito da foz do Alge, porque levamos um chefe e o vinho de Torres Vedras e ainda fazemos uma performance, experimentando a dupla relação daquilo que é a gastronomia, a itinerância artística e, quem sabe, a espiritualidade. A arte e a cultura estão muito mais próximas da espiritualidade do que o que parece.
Fundador dos Concertos para Bebés
Maestro, musicólogo, criador dos Concertos para Bebés, director artístico da Sociedade Artística e Musical dos Pousos (SAMP), Paulo Lameiro lidera a Musicalmente, empresa vencedora do concurso lançado por Leiria para a contratação de serviços de consultoria e programação no âmbito da estratégia cultural, tendo em vista a preparação da candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura 2027. Natural de Pousos, Leiria, onde nasceu em 1965, lançou, há 20 anos, o projecto Concertos para Bebés, que já deu mais de mil concertos dedicados à primeira infância e famílias, da China ao Brasil. Tem o Curso Superior de Canto do Conservatório Nacional como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, e a Licenciatura em Ciências Musicais pela Universidade Nova de Lisboa. Fez uma pós-graduação em Etnomusicologia também na UNL. Integrou o Coro de Câmara de Lisboa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, onde se estreou em 1991 como solista. Foi o mais novo vicepresidente da Escola de Música do Conservatório Nacional, tendo sido fundador da Escola de Artes SAMP e Director Pedagógico da Escola de Música do Orfeão de Leiria. Foi de 1996 a 2000 Director Artístico dos Cursos Nacionais de Regentes de Bandas do INATEL. É coordenador dos programas Ópera na Prisão e Novas Primaveras, dedicados à população prisional e terceira idade, respectivamente.