Este domingo, os céus da região vão ser sobrevoados por cerca de 25 aeronaves, que irão participar no encontro aeronáutico promovido pelo Aero Clube de Leiria, no âmbito das comemorações dos seus 80 anos.
Uma história que começou em terrenos hoje ocupados pela Base Aérea N.º 5 (BA5), em Monte Real, e que a instituição quer fazer perdurar, com a concretização do sonho de construir um aeródromo de raiz. Para já, a prioridade é a ampliação da pista actual, localizada na Gândara dos Olivais.
As origens do Aero Clube de Leiria, o segundo mais antigo do País – só o Aero Clube de Portugal tem uma longevidade maior -, remontam a 1936, quando, depois de um convite para dar uma volta de avião, José Dias Sequeira Pereira começou a pensar na criação de um campo de aviação em Leiria.
O local encontrado foi, segundo relata um trabalho académico feito em 2012 por Patrícia Bernardo e Vanessa Reis – então alunas da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria -, um terreno agrícola nos Barreiros, designada por Lezíria do Pastel.
O primeiro voo aconteceu em Outubro de 1936, quando o capitão aviador Fernando Tártaro aí fez aterrar um Vickers. “Conforme planeado (…), todos se dirigiram para o campo com o objectivo de fazer a marcação da pista. Prenderam jornais com pedras, prepararam uma pequena fogueira numa extremidade”, para que a aeronave aterrasse.
O Aero Clube de Leiria seria formalmente constituído em 1938 e, já sem poder usar o 'campo de aviação' dos Barreiros – o proprietário “mandou lavrar o terreno, acabando com a possibilidade de aterrarem ali mais aviões” -, conseguiu a cedência de uma área na designada Charneca de Porto Urso, em Monte Real.
[LER_MAIS] Em 1941, um novo revés: “um grande ciclone devastou esta área, causando grandes estragos”. Mesmo assim, o Aero Clube mantém-se no local até 1945, ano em que o espaço é cedido ao Ministério da Defesa para a construção da BA5, inaugurada em 1959.
Nelson Oliveira, actual presidente do Aero Clube, conta que, inicialmente, a instituição militar ainda lhes cedeu terreno para fazerem alguns voos, mas a actividade era “bastante reduzida”. A situação só ficaria “normalizada” em 1972, com a construção do aeródromo na Gândara, em terrenos cedidos por José Ferrinho, antigo presidente da instituição já falecido e que hoje dá nome à infra-estrutura.
“Pagamos uma renda aos herdeiros do senhor Ferrinho”, refere Nelson Oliveira, recordando que a estrutura sofreu um revés, com a construção de uma estrada, para acesso ao areeiro existente nas imediações. A via atravessa a pista, “dificultando a operacionalidade” do aeródromo, o que veio acentuar a necessidade de criação de uma uma estrutura de raiz.
Há anos que está identificado um terreno junto ao kartódromo dos Milagres, mas o projecto nunca avançou. Também já chegou a ser equacionada a deslocalização do Aero Clube para Pombal, uma hipótese que, segundo o presidente da instituição, “continua de pé”, mas que “será a última solução”.
“Não queremos sair do concelho”, admite o dirigente, revelando que, neste momento, “está em cima da mesa a hipótese de a Câmara [de Leiria] comprar terreno para alargamento e prolongamento da pista”.
Para já, o objectivo, explica Nelson Oliveira, seria que a zona de aterragem passasse dos actuais 550 metros de comprimento para 800. Mas, o sonho é mesmo a construção de um novo aeródromo, com 1500 metros de pista, que permitisse “a operação de mini-jactos”, possibilitando à escola de pilotagem do aeroclube dar outro tipo de formação.
Actualmente, a instituição está certificada para formar pilotos de ultra-ligeiros e de aeronaves ligeiras, que tenham até 5700 quilos de peso à descolagem.
“O curso para a obtenção do brevet para pilotos privados de aviões ligeiros tem a parte teórica, que faz a preparação para os testes a efectuar na ANAC – Autoridade Nacional de Aviação Civil. Há, depois, a parte prática, com 45 horas de voos efectuados a partir do Aeródromo José Ferrinho, e o exame final”, explica Nelson Oliveira, revelando que vários pilotos a trabalhar actualmente em grandes companhias aéreas, como a TAP e a Ryanair, começaram a sua formação na instituição.
A par da escola de pilotagem, o Aero Clube promove baptismos de voo e passeios aéreos pela região, com percursos pré-definidos – circuito dos monumentos, das praias ou do Jurássico -, ou feitos “à medida” de quem os pede.
Com cerca de 450 associados, a instituição dispõe de três aeronaves: um Cessna 150, um Cessna 172 e um Piper Super Cub PA 18-150, “o único exemplar a voar em Portugal” e, que é “a jóia da coroa” da instituição.
Baptismos de voo e aviões históricos
No âmbito das comemorações dos seus 80 anos, o Aero Clube de Leiria promove este domingo, dia 30, um encontro de aeronáutica, que contará com a participação de vários aeroclubes do País, com os seus pilotos e aeronaves.
Esta “festa da aviação” contará com mostra de aviões históricos, como um exemplar do Chipmunk, uma aeronave muito utilizada na Guerra Colonial, e o Piper Super Cub PA 18-150, um exemplar de 1961 cedido pela Força Aérea ao Aero Clube de Leiria. Haverá ainda baptismos de voo, paraquedismo e mostras de aeromodelismo. Está também prevista a passagem de F16, que irão sobrevoar a região.