Kinlocheleven. O nome, difícil de proferir, remete-nos de imediato para a Escócia e para o mundo de brumas e enigmas. Pois muito bem, é por lá que se realiza já a partir de hoje, quinta-feira, o Campeonato do Mundo de Skyrunning, num local que é considerado um dos mais duros e difíceis para a prática da modalidade.
As montanhas sempre foram negociadas por necessidade, fosse caça, guerra, contrabando ou apenas por pura curiosidade. Entretanto passou também a ser palco de desporto de alta competição que ostenta o slogan menos nuvem, mais céu, perfeitamente compreendido por aqueles que já tiveram o privilégio de atingir o topo de uma montanha.
O espírito Skyrunning representa o desafio supremo, onde as corridas não são apenas medidas pela distância, mas também pela verticalidade e pela dificuldade técnica, num ambiente natural, onde a terra encontra o céu.
Tem como objectivo o cume das montanhas onde as provas se realizam. A tarefa não se adivinha, pois, fácil para os vários atletas com ligação a Leiria que irão competir nas três modalidades que vão estar em disputa. Podemos só ter a Maúnça, mas trepar é claramente connosco.
O Clube de Atletismo da Barreira estará, pois, presente nas três disciplinas. A começar já esta quinta-feira com Miguel Saraiva no Quilómetro Vertical, uma competição de cerca de cinco quilómetros com um desnível positivo de mil metros. Amanhã, sexta-feira, será a vez de Sara Brito entrar em acção com as cores de Portugal na Ultra Marathon, de 52 quilómetros.
Finalmente, no sábado, Délio Ferreira integrará a selecção para a competição de Skyrace, com cerca de 29 quilómetros. Na mesma prova, a defender o País, estará Bárbara Fernandes, outra leiriense que a nível nacional defende as cores de um clube da Lousã.
Com eles, ou contra eles, estarão todos os grandes nomes da modalidade, como o best-seller Kilian Jornet, Jonathan Albon, Francesca Canepa, Ragna Debats, Gema Arenas e Laia Canes.
Sara Brito tem duas presenças em Mundiais de trail no currículo e até já está seleccionada para o evento do próximo ano, mas esta será uma estreia num evento deste calibre no que ao Skyrunning diz respeito.
“Gosto de novos desafios, porque nos obrigam a sair da nossa área de conforto. Este foi mais um, que me obrigou a treinar de forma diferente, mais ecléctica e a utilizar outras estratégias nas competições.” O objectivo principal para a época foi alcançado: “representar Portugal no Campeonatos do Mundo.”
Depois, em Kinlocheleven, vai ser dar tudo, apesar dos perigos de subir com o tempo limite de 16 horas e um acumulado de 3.820 metros que a levará ao cume da Ben Nevis, a montanha mais alta da Grã-Bretanha. “Requer uma grande dose de destreza e acima de tudo muita coragem, mas como sempre darei o melhor e trarei certamente mais uma aventura para contar.”
Para Délio Ferreira, [LER_MAIS] esta presença na Escócia corresponde ao fim da travessia do deserto. Em 2016, ficou de fora do Mundial de trail por quatro metros. Depois, uma lesão grave ao nível dos joelhos fê-lo pensar em deixar as corridas para trás.
“Após quase um ano sem correr e pensar que nunca mais poderia fazê-lo, consegui voltar graças aos cuidados dos excelentes profissionais que estiveram comigo. A pouco-e-pouco retomei a actividade e atingi um nível que não pensava voltar a atingir. Encaro esta chamada com muito optimismo e motivação, como se tivesse agora 20 anos.”
Não esquece o apoio do Clube de Atletismo da Barreira, o único emblema do continente que apresenta mais do que um convocado. O director desportivo Miguel Saraiva será, curiosamente, o primeiro a entrar em acção, enquanto atleta e com as cores do clube, no quilómetros vertical, uma prova aberta bem mais curta do que aquelas a que está habituado, as ultra-maratonas. “Estamos bem preparados. Iremos dar tudo para alcançar um resultado histórico para a nossa selecção.”