É um dos melhores e mais conceituados eventos de música europeus e o mais sui generis dos certames desta natureza em solo nacional que, este ano, tem Current 93, Ulver e Heilung como cabeças-de-cartaz.
O Entremuralhas galgou as ameias e levará, entre os dias 23 e 25 de Agosto, algumas das melhores propostas mundiais de música alternativa a vários espaços de Leiria, com a novidade de a maior parte dos seus concertos serem gratuitos.
A personalidade, essa, manteve-se embora o nome tenha mudado para Extramuralhas, para, à semelhança da comunidade que deu origem à cidade de Leiria, estabelecer- se fora do regaço protector do castelo medieval.
Com Current 93, Ulver e Heilung em destaque numa programação "cuidadosamente escolhida" para que Leiria tenha "a oportunidade de assistir a concertos incríveis com alguns dos maiores nomes de culto mundiais", que não aparecem nas playlists enlatadas dos tops e das rádios mais comerciais e mainstream.
O Extramuralhas, mais do que nunca, desafia a população da cidade do Lis a vestir-se de preto, entrar no espírito e a ir conhecer alguns dos melhores músicos da actualidade.
“Uau! Isto é muito bom!”
A descida do evento ao casario deu-se perante a iminência da entrada do castelo em obras e devido à necessidade de programar antecipadamente, para assegurar a vinda dos vários artistas. "Não teremos disponível o nosso esplendoroso castelo, que é o ex libris do evento.
Como estávamos 'amputados' desse grande palco, colocou-se o desafio de colocar de pé um festival digno e capaz de atrair o público a Leiria", admite Carlos Matos, presidente da Fade In – Associação de Acção Cultura, por detrás da organização.
A solução passou por seguir dois caminhos. Por um lado, realizar o festival na rua, de modo a que aqueles habitantes de Leiria que jamais subiram ao castelo ver o Entremuralhaspossam ser atraídos pelo Extramuralhas.
"Todos os anos me chegam ecos de pessoas que ficam admiradas porque, afinal, o Entremuralhasnão é uma coisa inacessível ou extremista em termos estéticos. A nossa opção tem sido sempre pela qualidade, que nos agrada e que pode agradar também aos fãs”, garante Carlos Matos.
As bandas que irão passar pelo Jardim de Camões foram escolhidas pela sua estética artística, uma vez que estarão perante o escrutínio de um público que, normalmente, não é o seu. Sem lançar mão de extremismos, a organização quis dar a provar ao público estreante um pouco de tudo o que se vive no Entremuralhas.
"Queremos que digam 'uau! Isto é muito bom!' Queremos provocar esse 'uau! nas pessoas", sublinha Carlos Matos. Por outro lado, houve o assumir de um esforço adicional da Fade In e de orçamento arriscado para contratar três grandes bandas para o Teatro José Lúcio da Silva (TJLS), como o epónimo "chamariz" do Extramuralhas.
"As pessoas que vêm de outros países para marcarem presença na nossa cidade fazem-no, acima de tudo, para ver os cabeça de cartaz, Current 93, Ulver e Heilung, na quinta-feira, sexta e sábado", refere Carlos Matos.
O primeiro acto do Extramuralhas arrancou, no sábado, com a exposição O Amor Entremuralhas, de Marcelo Brites, um jovem fotógrafo amador que, durante anos, captou gestos de afecto do público no festival de Leiria.
Retratou namorados e amantes em cumplicidades e sinais de ternura entre pais e filhos. A mostra está patente no m|i|mo – Museu da Imagem em Movimento, que emprestou parte do seu espaço, até 14 de Outubro.
Mas haverá, durante os dias do festival, também pintura corporal ao vivo, no Jardim Luís de Camões, teatro, performances de rua, uma exposição de escultura e uma instalação
Centro nevrálgico
Se nas outras oito edições o público tinha uma permanência curta na cidade, desta vez, com a realização de concertos em vários auditórios de Leiria, os espectadores ir-se-ão demorar a percorrer as ruas, o comércio, a tomar um café, a visitar museus e exposições e a degustar a gastronomia.
"O Jardim Luís de Camões será o centro nevrálgico do festival. Ali, haverá concertos gratuitos, merchandising, comércio, performances e intervenções artísticas. Acredito que as pessoas se irão juntar ali e estabelecer um convívio que será até intercultural", afirma o presidente da Fade In, adiantando que os góticos são “pessoas normais”, com escolhas estéticas ligeiramente diferentes.
“Têm profissões como todas as outras pessoas, têm famílias, pagam impostos, gastam dinheiro em hotéis e comida e enriquecem a nossa cidade. Este ano, como já é hábito, chegam de vários pontos do País e da Europa e, no regresso, divulgam a imagem de Leiria, nas suas comunidades.”
Extramuralhas para todos
Na sexta feira, o claustro do Museu de Leiria recebe um concertos operático e lírico, do alemão Christian Wolz, o primeiro de dois espectáculos com estas características. O artista usará a própria voz como instrumento, para edificar cenários e horizontes auditivos.
O segundo será com Rïcïnn, projecto lírico e operático a solo de Laure Le Prunenec. No Jardim Luís de Camões, as bandas que irão por lá passar serão esteticamente atraentes. É o caso dos suecos Priest, que conta com vários antigos músicos da mega-banda Ghost, que se apresentam anonimamente, usando máscaras de corvos e animais fantásticos.
"Há uma dicotomia entre a música e a componente visual", adianta Carlos Matos. Já os russos ShortParis misturam rock com electrónica e, ao vivo, apresentam uma componente performativa e teatral. Fazendo recordar Ian Curtis, o vocalista, movimentase de uma forma inusitada.
De Espanha, chegam os Captains. "São um colectivo cuja vocalista tem uma voz mais aveludada, mais Julee Cruise, mais Lana del Rey, mais sensual e quente. E teremos ainda os franceses Horsck, com teclas, voz e bateria, que irão colocar o público a pular loucamente. Eles tocam uma música electrónica muito dançável."
2. Os espectáculos de Heilung (dia 23, às 21:30 horas), Ulver (dia 24, às 21 horas) e Current 93 (dia 25, às 21 horas) acontecem no Teatro José Lúcio da Silva e são limitados a 737 pessoas, cada. Os lugares são sentados e marcados
3. Os concertos de Christian Wolz (dia 24, às 18 horas) e Rïcïn (dia 25, às 18 horas), que decorrem no Museu de Leiria são de acesso gratuito, porém, a prioridade será dada às primeiras 250 pessoas que compraram bilhetes para os três concertos que acontecem no Teatro José Lúcio da Silva
4. Os concertos com Captains, Priest (dia 24, a partir das 23 horas), ShortParis e Horskh (dia 25, a partir das 23 horas), no Jardim Luís de Camões, ao ar livre, são de acesso gratuito
Cabeças-de-cartaz
As bandas que se irão apresentar no Teatro José Lúcio da Silva são “gigantes de nível mundial”. [LER_MAIS] Ou melhor, são-no circuito musical alternativo. "Em nove edições, jamais tivemos três cabeça-de-cartaz tão caros como estes, ou com uma logística, com tantos instrumentos e músicos.
Seria muito difícil acolhê-los num dos palcos do castelo", diz Carlos Matos, exemplificando o caso dos Current 93, que têm já 35 anos de carreira e usam um piano de cauda nas suas actuações. Apresentam-se no sábado, dia 25, às 21 horas.
O mentor do colectivo é David Tibet, músico e artista gráfico, que colabora, há anos, com Nick Cave, Antony Hegarty, Anohni, Tiny Tim, Rickie Lee Jones, Reinier van Houdt, Nick Blinko, e que traz Andrew Liles, Alasdair Roberts e Jack Barnett.
Já os dinamarqueses Heilung, os primeiros dos “grandes”, a subir ao palco do TJLS, na quinta-feira, dia 23, às 21:30 horas, são protagonistas de um videoconcerto, que conta já com oito milhões de visualizações.
Numa banda que não é de mainstream, é um número considerável. Apresentam-se em palco vestidos como vikings, com capacetes adornados com cornos e capas em pele – falsa – e usam, entre outros adereços, ossos para a percussão.
"Não obstante, a sua música é muito espiritual. São um cruzamento entre Dead Can Dance, com um fundo mais pagão e com mais folk guerreiro. É o concerto que está a vender mais bilhetes", refere o responsável da Fade In.
Na sexta-feira, dia 24, às 21 horas, apresentar-se-á aquela que é considerada uma das mais "camaleónicas" bandas da música contemporânea e alvo de um culto mundial. Os Ulver são noruegueses e começaram por ser uma banda de black metal.
Depois, passaram pela música de fusão, pelo rockprogressivo, pela música electrónica, pelo jazz, e, actualmente, abraçam o synthpop, de forma “muitíssimo personalizada”. Da última vez que visitam Portugal, após terem tocado com a Orquestra Sinfónica de Estocolmo, passaram pela Casa da Música.
Agora será a vez de o Teatro José Lúcio da Silva os receber, num concerto exclusivo. Fora de horas na Sterogun As noites do Extramuralhas acabam com after-parties, com DJ, na Stereogun. Antes, porém, haverá três concertos, um em cada noite.
Na quinta-feira, os ingleses S.A.D (Sudden Axis Disorder) mostram a sua veia pós-punk e irão apresentar um som que mistura rock, electrónica e shoegaze. No dia seguinte, os Bragolin vêm da terra das tulipas e dos diques com a sua música pós-punk que, ao contrário do que é habitual, é caracterizada não por um timbre grave, a soar a Sisters of Mercy e Joy Division, mas pela efeminada do vocalista.
"É um desbravar de um novo território que nos interessou imenso, para mostrar que o pós-punk não é apenas A e B", esclarece Carlos Matos. A fechar a programação na Stereogun e o festival, a aposta vai para um colectivo nacional que está a celebrar 25 anos de carreira.
Serão os lendários Bizarra Locomotiva. O concerto está já praticamente esgotado. "Nunca tiveram a sorte de serem internacionalizados, mas nós iremos dar a oportunidade ao público estrangeiro de ver uma grande banda portuguesa", resume Carlos Matos.