A abertura da Base Aérea n.º 5 (BA5), em Monte Real, à aviação civil, será dedicada ao tráfego de aviões charter e de companhias low cost. Este é um dos resultados de dois estudos efectuados pela Roland Berger encomendados pelas Câmaras de Leiria e da Marinha Grande e cuja súmula foi apresentada, na segunda-feira, no Fórum Aviação Civil em Monte Real, no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria.
“O plano de negócios terá de ser auto-sustentável. Esta infra-estrutura tem de ser muito competitiva e tem de ser um aeroporto low cost, com uma base de eficiência muito grande”, sublinha António Bernardo, presidente executivo da Roland Berger Portugal, ao admitir que o plano estratégico desenvolvido pelo estudo mostra que a “operação é economicamente viável”, estimando-se que em 2025, este aeroporto tenha um Ebitda positivo, a evoluir em 35 a 40%.
O potencial de tráfego no curto prazo andará à volta dos 600 a 620 mil passageiros por ano, “sendo que os principais passageiros terão como destino o turismo religioso, Fátima e não só”. Também a nível empresarial e de negócios “é algo que vai ser cada vez mais importante”.
“Estimámos ainda cerca de 10% e 8% de emigrantes na zona Centro.”
O número de passageiros poderá vir a crescer, nomeadamente em origens fora da Europa. “A Europa é responsável por 78% do tráfego, embora haja outras origens, como Brasil, Coreia do Sul, Estados Unidos ou Índia. Se olharmos para o turismo religioso vemos de onde são os principais turistas”, adianta António Bernardo, ao referir que o número crescente de estudantes internacionais do ensino superior foi uma “surpresa”.
“A região Centro tem tradicionalmente um nível de emigração elevado, sobretudo em França, mas também na Suíça e nos Estados Unidos. Isto é importante quando falamos de transporte aéreo e em possibilidades de viagens para a zona. A região tem também um forte pendor exportador, que tem vindo a aumentar”, salienta.
Abordando o turismo religioso, tendo em conta a proximidade de Fátima, o estudo compara este santuário mariano com Santiago de Compostela, Lourdes e Loreto e constata que o número de peregrinos é largamente superior. No entanto, é o único espaço religioso que não tem um aeroporto a pouca distância.
“Hoje, os aeroportos regionais em todo o mundo e em especial na Europa são algo atraente para o desenvolvimento regional, dado que o aparecimento e desenvolvimento das low cost vem potenciar novos aeroportos fora dos grandes centros urbanos”, refere António Bernardo.
Nesse sentido, o documento apresentado comparou a distância da BA5 ao aeroporto mais próximo, com os aeroportos regionais de Jerez, Lourdes, Saint Étienne, Valladolid e Reus.
Nenhuma destas infra-estruturas aeroportuárias espanholas e francesas se encontra a uma distância tão longínqua de [LER_MAIS] outros aeroportos como está Monte Real do aeroporto de Lisboa (150 quilómetros).
“A região Centro é uma diversidade concentrada. Ou seja, temos um bocadinho de tudo: cultura, gastronomia, história, sol e mar, mas há uma questão que é muito relevante que é o turismo religioso e Fátima destacase por ter um posicionamento mais abrangente até do que outros santuários conhecidos”, frisa António Bernardo.
São necessários 25 milhões de euros de investimento para adaptar a BA5 num aeroporto para voos comerciais, valor considerado “bastante optimizado” e a exploração defendida é centrada num “modelo de concessão”.
“Identificámos um potencial de crescimento de receitas, cerca de nove a dez milhões de receitas em 2025 e depois a crescer 3% ao ano”, diz António Bernardo.
Assegurada está a delimitação entre as áreas militar e civil, à semelhança do que já sucede noutros aeroportos nacionais partilhados, como nas Lajes, sendo que os voos militares terão sempre prioridade .
O estudo aponta ainda que as principais companhias aéreas que se interessam por aeroportos regionais são as low cost. “São companhias de pequena e média dimensão, algumas até especializadas, por exemplo, no turismo religioso.”
“Se houver uma proposta de valor interessante é possível cativar e atrair alguns destes operadores”, garante António Bernardo.
Para o presidente executivo da Roland Berger, este é “um momento muito importante”, até porque o aeroporto de Lisboa está “com grandes engarrafamentos”. “Se a opção for Montijo ainda levará alguns anos. É o momento de olhar para outros casos e entender o impacto que uma infra-estrutura como esta pode ter na região.”