A ligação que as cinco escolas do Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria) e o tecido empresarial da região têm vindo a edificar ao longo das últimas décadas é um caso de estudo em termos de concretização de uma simbiose sólida e de partilha de conhecimento institucional.
Este vínculo indelével é especialmente visível na Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) e na Escola Superior de Saúde de Leiria (ESSLei), dois pólos de formação de recursos humanos, destinados a empresas, sobretudo, nas áreas das tecnologias e para o sector da saúde, da região.
“No caso das engenharias não temos diplomados em número suficiente para fazer face às necessidades do mercado. Só isso mostra a questão da empregabilidade elevada dos nossos cursos, o que faz com que sejam muito procurados”, afirma Carlos Capela, director da ESTG.
Este responsável acrescenta que através do IPL Indústria, “que atribui bolsas aos melhores estudantes do ensino secundário”, as empresas tentam “atrair diplomados para os seus quadros”.
Jorge Santos, presidente da Nerlei – Associação Empresarial de Leiria, reforça que existe um reconhecimento dos diplomados do IP Leiria por parte do tecido empresarial, que é traduzido “na abertura das empresas para acolher estagiários, nas taxas de empregabilidade dos cursos e, por exemplo, na crescente adesão das empresas às Bolsas IPL-Indústria que começou com sete bolsas, atribuídas por sete empresas, no ano lectivo 2014/15, e que em 2017/2018 são já 37 bolsas, atribuídas por 27 empresas”.
Esta relação, salienta o empresário, é “uma mais-valia para a competitividade das empresas e consequentemente para desenvolvimento da região e do País”. Esta “excelente cooperação” leva a que a ESTG seja já primeira escolha para muitos alunos. Carlos Capela afirma que, mesmo jovens fora da região, optam por Leiria para estudar.
“Não esquecendo os outros cursos, onde isso é mais evidente é na parte do automóvel, porque o curso é único.” O professor sublinha que os resultados têm sido “bons” quer a nível regional quer nacional. “Também existe um grande dinamismo na área dos moldes e nos cursos mais tradicionais como a Mecânica, Electrotecnia e Informática. Há uma grande aceitação dos nossos diplomados e as empresas já os consideram como activos importantes no seu trabalho.”
Nesta ligação entre o ensino superior e o tecido empresarial, a comunicação é também a chave para o sucesso. “Esta relação existe desde a fundação do Politécnico de Leiria. Tinha a Nerlei sido criada há pouco tempo e o então presidente do Politécnico, António Pereira de Melo, pediu a colaboração para estabelecer os perfis de competências dos cursos da ESTG por ter consciência que eram os empresários que iriam dar emprego os seus estudantes no futuro. A partir daí esta relação tem sido sempre aprofundada com o Politécnico a intervir muito na vida empresarial do distrito e as empresas a reconhecerem cada vez mais a importância do Politécnico na sua competitividade”, salienta Jorge Santos.
O presidente da Nerlei considera que “há oportunidades em licenciaturas com impacto em sectores chave da economia da região”, acreditando que “o novo presidente, que é muito conhecedor da realidade empresarial da região, não deixará de avaliar essas oportunidades e de avançar com elas se considerar que podem trazer mais-valias para a instituição, para os alunos e para a região”.
A evolução do IPLeiria para Universidade Politécnica “será fundamental para a capacidade inovadora das empresas da região e do país”, sublinha Jorge Santos, que lembra que a “dinâmica empresarial da região de Leiria e Oeste requer ensino universitário politécnico público que, para além de formar para as profissões, tenha doutoramentos com as empresas e o reconhecimento e percepção social, nacional e internacional, condizente com a capacidade da instituição e do território”.
Para o presidente do Nerlei, “uma universidade politécnica possuirá, nomeadamente através dos doutoramentos, meios muito superiores para incremento da investigação científica e transferência de conhecimento o que seria muito benéfico para o fomento e facilitação da actividade científica desenvolvida em cooperação com o tecido empresarial”.
Carlos Capela destaca que a praticidade que está na génese das licenciaturas do IPLeiria tem sido uma mais-valia e poderá estender- -se aos doutoramentos, tal como já sucede com os mestrados, através das unidades de investigação, garantindo uma “relação forte com com o tecido empresarial, onde há partilha de conhecimento com a indústria”.
ESSLei, uma referência
[LER_MAIS] Clarisse Louro reconhece que “os alunos escolhem a ESSLei por ser uma escola de referência a nível nacional e internacional” e “porque sabem que os alunos formados nesta escola recebem preparação técnica, científica e humana com reconhecimento nacional e internacional, e que isso lhes dá significativas vantagens competitivas no percurso profissional”.
Segundo a directora da ESSLei, a taxa de empregabilidade dos seus cursos é também “bastante elevada”. “No curso de Dietética e Nutrição é de 80.2%, na Terapia da fala de 87.7%, em Fisioterapia de 90,7%, em Terapia Ocupacional de 91.0% e em Enfermagem de 98.1%”, revelou referindo-se a dados oficiais de 2017.
A professora acrescenta que “a maior parte dos diplomados acaba por ser contratado pelas entidades onde desenvolvem os estágios e ensinos clínicos, em particular os de final de curso”. A nível internacional, várias empresas de recrutamento, sobretudo do Reino Unido, Noruega, França e Espanha, vêm a Leiria procurar recém licenciados.
“Os nossos diplomados têm, de facto, um elevado reconhecimento junto das instituições de saúde da região, do país e até em termos internacionais. Em especial relativamente ao curso de Enfermagem. Temos feedback muito positivo dado pelas entidades empregadoras”, acrescenta Clarisse Louro.
A docente destaca ainda que a “ESSLei afirma-se hoje como parceira das entidades de saúde para a construção e partilha do conhecimento”. “Os processos de inovação e investigação científica são uma mais-valia para as regiões e para os seus recursos humanos e a proximidade da escola com os parceiros que actuam na prestação de cuidados de saúde são a melhor contribuição para a melhoria dos recursos humanos da região e também da escola.”
A investigação entre a saúde e o Politécnico de Leiria é um dado adquirido. João Morais, cardiologista e coordenador do Centro de Investigação do Centro Hospitalar de Leiria (CHL), afirma que o IPLeiria foi o parceiro escolhido assim que o CHL decidiu “privilegiar” a investigação, tendo em conta a “larga tradição do instituto em investigação na área da saúde”.
“Eles pensam em desenvolver projectos na área do bemestar e na qualidade de vida das pessoas. Nós pensamos na doença. Esta relação complementa-se. É uma parceria privilegiada”, reforça João Morais.
O especialista adianta que o CHL e o IPLeiria têm desenvolvido em conjunto vários projectos em diferentes áreas. “Não é possível fazer investigação de qualidade desligada da comunidade ou das universidades. Leiria tem o Instituto Politécnico de Leiria e esta relação dá-nos um aporte brutal. Tem sido uma ligação de grande sucesso. Há projectos aprovados pela FCT [Fundação para a Ciência e a Tecnologia], que seria impensável sem o apoio do IPLeiria.”
“A relação com os nossos parceiros na área da saúde é bastante intensa e boa”, concorda Clarisse Louro. “Pensamos que quer a criação do Centro Académico em Saúde (CAS), um projecto diferenciado e inovador no qual convergem, de forma integrada e interligada, as áreas da investigação, dos cuidados inovadores em saúde, e da educação/formação avançada, assim como o Centro de Inovação em Tecnologias e Cuidados de Saúde, o ciTechCare, podem levar a um aprofundamento desta relação não só com as entidades de prestação de cuidados de saúde mas com a comunidade em geral”, remata a directora da ESSLei.