Literatura, dança, teatro ou música não são formas de expressão artística exclusivas de gente crescida. Muito pelo contrário, é desde muito tenra idade que a criança deve ter contacto com diversificados programas culturais, que promovem o seu conhecimento e incrementam a sua criatividade. E na região de Leiria, são já várias as entidades que desenham a sua oferta cultural a pensar também no público mais novo.
A Arquivo, livraria de Leiria, é um desses exemplos. Susana Neves realça que “a Arquivo tem uma agenda cultural mensal recheada”, sendo que “as actividades para crianças ocupam uma importante fatia da sua programação”. E a oferta é muito diversificada. Passa por: “apresentações de livros, conversas com autores, concertos, oficinas de fotografia, teatro, desenho, visitas dançadas e até exposições patentes no espaço galeria da Arquivo”.
“Por aqui acreditamos que a cultura e a arte são fundamentais para o processo educativo, seja qual for o domínio das diferentes formas de cultura e de arte”, salienta Susana Neves. Além de outras iniciativas, de carácter esporádico, a Arquivo promove algumas actividades de forma regular, uma vez por mês ou de dois em dois meses, destinadas ao público mais novo.
É o caso do Concerto Pequenos Artistas da SAMP (Sociedade Artística Musical dos Pousos). Todos os primeiros sábados de cada mês, a SAMP dinamiza pequenas audições com duração de 30 a 40 minutos na Livraria Arquivo. Participam alunos de todas as classes de instrumento da Escola de Artes SAMP, com especial incidência em alunos até aos 15 anos de idade. “Estes 'Pequenos Artistas' enriquecem as tardes culturais da Arquivo com os seus instrumentos, cada um ao seu estilo” e a entrada é gratuita, refere Susana Neves.
[LER_MAIS] Animação da História Infantil é outra actividade dinamizada na livraria, que conta com a animadora Liliana Gonçalves. Realiza-se uma vez por mês, no segundo sábado de cada mês, é dirigida a crianças entre os 4 e os 8 anos de idade e também tem entrada gratuita. Tem por objectivos: “criar hábitos de leitura, incentivar o prazer de ler e promover o conhecimento de autores”, explica Susana Neves. A animação da História Infantil tem uma particularidade. É uma das actividades mais antigas da livraria, que acontece na Arquivo desde o ano 2000.
Quanto às Oficinas UIVO, são destinadas a crianças dos 5 aos 12 anos de idade. Uma vez por mês, ao sábado, na Arquivo, resultado de uma parceria entre o projecto UIVO e a Arquivo, há espaço para: paper-cut, gravura, design de produto, fotografia, teatro, desenho, escultura e arte urbana. “Aqui, os participantes são convidados a interpretar construindo”, salienta Susana Neves. Os objectivos passam por: “despertar valores afectivos, desenvolvendo a comunicação e expressão oral, visual, motora e plástica, promover o contacto e exploração de diversos materiais e técnicas, desenvolver destrezas manipulativas e promover a criativida-de”. As Oficinas UIVO na Arquivo têm a particularidade de partirem sempre da leitura de um livro.
A Visita dançada/performance coreográfica acontece na Arquivo ao sábado, uma vez por mês e dirige-se a crianças a partir dos 3 anos de idade. Neste caso, “as exposições da Arquivo dão origem a uma visita dançada/ performance coreográfica e as visitas são conduzidas pela bailarina e investigadora Inesa Markava”, explica Susana Neves. “Estas sessões são muito especiais para a Arquivo. São uma viagem alternativa que convida pequenos e grandes a ver (e a sentir) as exposições sob uma nova luz”, considera ainda.
De destacar ainda a iniciativa Yoga para crianças. “Com a terapeuta de Yoga e terapeuta holística Liliana Santos, esta actividade é dirigida acrianças com mais de 4 anos de idade”. Realiza-se de dois em dois meses, ao sábado, na Arquivo. “Numa sociedade em que as crianças estão constantemente ocupadas com a televisão, a internet e todo o tipo de brinquedos, torna-se mais difícil usufruir de paz e bem-estar interior”.
Portanto, “achamos que a prática do Yoga na infância é essencial para que as crianças conheçam bem o seu corpo, saibam respirar melhor, aprendam a concentrar-se e a gerir a sua energia correctamente”, justifica Susana Neves.
O teatro também vai à escola
David Granada, actor natural de Alcobaça, integra um projecto de teatro infantil sui generis, na medida em que leva os espectáculos a cena na própria escola. O jovem actor saiu de Alcobaça para frequentar o curso de Teatro na Escola Superior de Arte e Design de Caldas da Rainha.
Mais tarde mudou-se para Lisboa, para estudar no Conservatório, para dar continuidade aos estudos de Teatro. Há dez anos surgiu a oportunidade de iniciar um musical infantil no Teatro da Malaposta. No entanto, explica o jovem actor, a partir do momento em que a estrutura passoupara a gestão da Câmara de Odivelas, a Autarquia deixou de ter condições para manter a iniciativa.
Foi nessa altura que David Granada e os restantes actores transferiram o musical para o Grupo de Teatro Teatrosfera, em Queluz. Deixaram de pertencer a uma companhia para serem os próprios a produzir todo o seu trabalho e, ao invés de ter um palco fixo, passaram a deslocar-se às escolas.
E em boa hora o fizeram, reconhece David Granada, que retira a maior satisfação de trabalhar com crianças em escolas de todo o País. Em 2016, David Granada regressou às suas origens e interpretou o vaidoso monarca no clássico de Hans Christian Andersen, O Rei Vai Nul.
No Jardim- Escola João de Deus, em Alcobaça, a magia do teatro deixava 135 crianças em silêncio, ávidas de uma experiência lúdica, com a qual aprendiam lições de forma divertida. No ano seguinte, o mesmo grupo de actores realizava cerca de 200 espectáculos com uma outra peça infantil adaptada por Fernando Gomes: Capitão Miau Miau. Este ano, é O Capuchinho Vermelho que tem sido apresentado aos jovens alunos de todo o País.
Além de actor profissional, David Granada é pais de duas crianças. Pela sua experiência considera que não existe uma idade mínima para levar uma criança ao teatro ou, neste caso, para levar o teatro até à criança. Os seus filhos tinham meses quando assistiram às primeiras peças. “É importante que assistam desde pequenos, para criarem esse hábito.
Aprendem de forma lúdica, têm convivência com outras pessoas, compreendem outras realidades, outras verdades”, considera o actor. No caso deste projecto itinerante, uma das vantagens é a democratização da cultura, a promoção junto de tudo o público infantil, mesmo aquele que não teria condições financeiras de assistir aos espectáculo se o espectáculo não fosse à escola.
Aquando da estreia de O Rei Vai Nu, em Alcobaça, Alexandra Leão Costa, directora do jardim-escola, também salientava que estes são eventos com os quais as crianças aprendem bastante. São mote para discussão de alguns temas nos dias que antecedem o espectáculo, sendo que a representação funciona como um complemento divertido ao conteúdo do programa curricular. Além disso, “é uma forma de os despertar para a cultura”, frisava a directora.
Música desde o berço e ainda antes dele
O Berço das Artes SAMP é um projecto da Sociedade Artística Musical dos Pousos, que decorre desde 1991. Trata-se de um projecto que “oferece a experiência das artes com bebés, famílias e artistas. Tem na música o seu eixo central, mas trabalha o teatro e a dança de forma transdisciplinar”, explica Paulo Lameiro, director artístico da SAMP. “O Berço é simultaneamente uma experiência académica (onde existem conteúdos, competências, programas, avaliação), mas consubstancia-se num projecto de performances puras, onde a catarse estética, a descoberta e a emoção que nasce do belo têm a primazia. Mais que aprender, sente-se”, especifica o responsável. O objectivo, nota Paulo Lameiro, é “experienciar em família (pais, irmãos e avós) e em comunidade (outros pais, outros irmãos e outros avós) com artistas, professores e pessoas para quem a arte importa especialmente”. É também experienciar “espaços deliberdade, criatividade, experimentação, risco e descoberta”. E reveste-se de especial importância “porque o sistema educativo existente não responde às expectativas e necessidades das pessoas que somos hoje”, considera o professor. “Nem a língua materna, nem as tecnologias, nem a matemática são a resposta para os problemas existenciais de hoje. É pelas artes que mais profunda e socialmente podemos experimentar e construir novos caminhos para estar connosco e com os outros, para habitar o tempo de hoje e a história do amanhã, para alargar pontes com o passado e ser mais pessoa, defende Paulo Lameiro. E se o Berço das Artes se destina a crianças dos 0 aos 5 anos, existem outro programas da SAMP direccionado para o tempo em que ainda vivemos no colo uterino de nossas mães, nota o director artístico. Trata-se do Auditório 1.