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Entrevista | Manuel Aires Mateus: “Há uma ideia de progresso ainda muito associada auto-estrada”

Maria Anabela Silva por Maria Anabela Silva
Maio 4, 2018
em Entrevista
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Entrevista | Manuel Aires Mateus: “Há uma ideia de progresso ainda muito associada auto-estrada”
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O júri do Prémio Pessoa afirmou que “a sua arquitectura é moderna, abstracta e contemporânea, mas parte de uma recolha de formas e materiais vernaculares portugueses, que integra de um modo exemplar”. Revê-se nesta definição?

O relatório do júri é muito generoso. Revemo-nos [inclui o irmão com quem assina os projectos] numa procura. Não dizemos que fazemos, mas antes que procuramos fazer, o que é diferente. Somos contemporâneos. Não podíamos deixar de ser. Mas procuramos também integrar, de alguma maneira, uma ideia de memória no projecto. Porque é aquilo que trazemos. E é uma memória que é pessoal, mas também colectiva. Muitas vezes, quando falamos de vernacular ou de reconhecível, estamos a falar de uma memória colectiva, que todos nós entendemos, um lugar que nos é comum, que nos é confortável. Muitas vezes, procuramos usar na arquitectura uma memória comum para, a partir dela, fazer as pessoas reconhecer e serem capazes de ver outras coisas a partir dessa leitura. Será disso que o júri fala. Integrar coisas que são, sobretudo, memória colectiva.

E isso é válido tanto quando se constrói de raiz como quando se recupera.

É evidente. Há coisas que nos são inatas, que são do nosso conhecimento mais profundo. Se pedir a quatro crianças para desenharem uma casa, ela não vai diferir muito. Mas, se o pedir a si, provavelmente também não será muito diferente. Há uma ideia colectiva sobre o que é uma casa, uma porta, uma janela. Sobre o que são uma série de elementos, que, no fundo, são aqueles de que se faz a arquitectura. Depois, pode haver uma combinação artística e intencional desses elementos. Construímos de novo com elementos que reconhecemos. Ninguém explica a um miúdo de dez anos o que é uma porta. Ele percebe, mesmo que a porta seja diferente. Podemos mudar a cor, mas ele sabe o que é. E essa compreensão enraizada é uma ideia que serve para recuperar mas também para construir de novo. Está-nos nas raízes. São as tais memórias colectivas, com as quais gostamos de operar.

Porquê?

Aproximamo-nos da arquitectura de duas formas em simultâneo. Por um lado, temos uma visão do real. Sabemos que determinada coisa é madeira, que tem uma certa forma, tamanho ou temperatura. Por outro lado, há visão cultural. O que é que percebo que aquilo é, o que conheço, o que sei daquela história. Depois, estendo essa visão ao contacto com o real. A mistura ou a amplificação do que a visão cultural e a visão real podem ter em simultâneo é que nos dá o resultado da arquitectura. Daí, ser muito importante construímos com o conhecimento e não apenas com o real.

O que é mais desafiante: projectar de raiz ou transformar um edifício com 100, 200 ou mais anos que já foi um hospital, convento ou quartel, por exemplo?

São desafios diferentes. Uma das coisas que particularmente aprecio é a variação do desafio. O poder agora desenhar um candeeiro, cadeiras, uma mesa ou objectos mais pequenos, como talheres, taças, pratos, ou desenhar à escala urbana, desde coisas novas ou intervenções muito pequenas na reabilitação de edifícios. O interessante no trabalho não é o que ele é, mas o que dele se faz. O interesse do desafio está naquilo em que nós o transformamos. Precisamos de descobrir em cada projecto o que é único nele. Muitas vezes, isso é feito estudando o problema e tentando aprofundá-lo. Uma das razões porque gostamos muito de fazer casas particulares, as chamadas casinhas, prende-se com o facto de ser o programa em que os clientes se envolvem mais e que, de alguma maneira, se torna mais único.

Nesse processo ajuda conhecer a família?

É essencial. Não começamos um projecto sem conhecer a família, sem saber quem é que vai viver naquela casa. É uma condição importante.

Porquê?
A arquitectura tem uma condição de espera. Não desenhamos uma casa para uma família que não sirva para outra. Claro que serve. Mas aquela família para quem vamos desenhar a casa funciona como motor para a busca de uma condição única naquele projecto. E isso é o mais interessante. Não quer dizer que outra família não possa viver ali depois. Até porque, a qualidade espacial para uns quer dizer, mais ou menos, a mesma coisa para outros. Mas a família é que torna a condição da discussão mais particular. Por isso, queremos sempre conhecer a família toda, porque é isso que irá tornar o projecto muito específico. Não há nada mais rico do que uma pessoa. Portanto, o primeiro diálogo que temos de ter é com as pessoas.

Qual o papel do cliente no processo de elaboração do projecto?

É questioná-lo, discuti-lo. É obrigar- -nos ao porquê, à explicação. O arquitecto precisa imenso do contraditório, de ir à explicação. Não desenhamos as casas com os clientes. Não há qualquer confusão de papéis. Mas, gostamos imenso que os clientes mudem as coisas, pela possibilidade que isso dá de introduzir uma outra condição ao projecto.

 [LER_MAIS] No discurso que proferiu na cerimónia de entrega do Prémio Pessoa 2017 referiu-se à arquitectura como um arte “inacabada”. O que é que a completa?

A vida. A arquitectura é uma arte de suporte. Quando olhamos para um quadro, ele está completo. O mesmo acontece com uma escultura. Está acabada. A arquitectura não. Necessita de uma coisa qualquer. Na habitação não há arquitectura sem ser habitada. Um museu não existe sem outras obras de arte ou as salas de concertos sem a música. O interesse da arquitectura é, precisamente, a sua condição de inacabada. Porque, assim, tem de estar aberta a completar-se com coisas muito distintas. A verdadeira qualidade da arquitectura não está em servir um propósito. Está em induzir condições de uso a diferentes propósitos, que amplifiquem as possibilidades de utilização. A arquitectura é uma arte que necessita da vida. Mas, por outro lado, é uma arte que espera a vida. Mas que também deve possibilitar diferentes condições de vida, buscando o melhor que a vida pode ter.

Defende que, como lugar de todos que é, a cidade exige “imenso” bom senso e sensibilidade. Isso tem existido no planeamento das nossas cidades?

Os maiores decisores da cidade não são os arquitectos e não têm necessariamente de o ser. Uma cidade é feita de muita gente. Os políticos, a população, os construtores, os arquitectos. De uma forma geral, as nossas cidades não têm sido bem tratadas. Foram muito adulteradas, muito destruídas, com a sua história muito incompreendida. O nosso poder autárquico é tradicionalmente muito pobre, cultural e tecnicamente. E os resultados estão à vista. Está-se agora a caminhar de uma forma mais positiva. As atrocidades que se cometeram, cometer-se-ão menos, mas continuamos a não tratar bem a cidade. A cidade é lugar de comunhão e, de alguma maneira, um lugar de identidade de todos. Tinha imensa dificuldade em perceber o valor identitário que Londres tinha para qualquer londrino ou Paris para um parisiense. Hoje, isso acontece um pouco em algumas cidades portuguesas.

Passámos a ter também esse orgulho na nossa cidade?

Passámos, não tanto porque lhe tenhamos reconhecido esse valor, mas porque alguém o reconheceu por nós. Destruímos uma parte muito importante do nosso território. O país maravilhoso retratado no livro A arquitectura popular portuguesa, uma recolha feita nos anos 60 [do século XX] do património construído popular em Portugal, foi muito destruído. E, às vezes, sentimos essa nostalgia. A nostalgia de compreender o território. Há uma ideia de progresso que todos nós temos ainda muito associada à auto-estrada. Portugal precisava dessas vias. Ninguém discute isso. Mas, as auto-estradas da Madeira vão para onde? É uma coisa estranhissíma. No sul de Inglaterra ou na Escócia, as populações não querem auto-estradas. Consideram essa ideia de mobilidade uma coisa insólita. São infra-estruturas que provocam feridas ecológicas e territoriais de impacto gigantesco. É preciso uma auto-estrada para chegar a Vila Real? Claro que é. Mas, não são necessárias três. Chega uma. Tratamos mal o nosso território.

E, dessa forma, destruímos valor?

Exacto. Se olhássemos para uma utilização inteligente a partir do Algarve que tínhamos nos anos 50/60 e 70 do século XX, o Algarve era hoje uma jóia da coroa. Agora, é um lugar em parte perdido. Isto acontece um pouco por todo o território. Acredito que se inverterá a tendência e que há hoje uma consciência diferente. Algumas coisas serão irrecuperáveis. Outras, ainda terão recuperação. Não choremos sobre as irrecuperáveis. Temos de ter uma consciência grande sobre o território. Quando dizemos hoje que uma das grandes possibilidades de riqueza de Portugal é o turismo, estamos a falar de território. Se é uma grande riqueza, temos de cuidar dele. Precisamos de olhar para essas condições com mais atenção, mas também com mais esclarecimento. Há, depois, outra coisa muito importante quando nos debruçamos sobre o território: não ter pressa, um imperativo que é inimigo do ciclo político, e ouvir, o que também é inimigo da autoridade. Nestas questões, ninguém tem uma verdade. Nem sequer há uma verdade. Agora, há um equilíbrio e esse equilíbrio é muito importante.

Etiquetas: entrevistamanuel aires mateuspremio pessoa 2017sociedade
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