“Primeiro estranha-se, depois entranha-se”. A frase que Fernando Pessoa escreveu em 1929, para o primeiro anúncio da Coca-Cola em Portugal, aparece em grande destaque na sala do Centro Cultural e Recreativo de Pêras Ruivas, colectividade da freguesia de Seiça, Ourém, que serve de casa ao Teatro Apollo.
A explicação para a escolha é-nos dada por Dora Conde, uma das fundadoras do grupo: “O Apollo foi-se construído ano após ano. Dizemos que primeiro estranha-se, porque ninguém estava muito bem preparado para saber o que iria ser o projecto. Depois, entranhou-se. E já lá vão 20 anos”.
A história do grupo teatral, que nasceu numa pequena aldeia do concelho de Ourém, começou com um desafio lançado a algumas pessoas da terra, maioritariamente jovens na casa dos 20 anos, para fazerem “alguma coisa” nesta área. “Como sabiam da minha ligação ao teatro da escola secundária de Ourém, perdiram-me um texto e ajuda para o trabalhar.
Nunca se falou na continuidade do projecto ou na criação de um grupo de teatro”, recorda Dora Conde, actual responsável e encenadora do Apollo.
[LER_MAIS] A estreia aconteceu em 1997, com a peça Amor de Perdigão, uma comédia apresentada na colectividade de Pêras Ruivas, onde moravam todos os elementos do grupo, que entretanto se foi ramificando a outras freguesias do concelho, com a integração de novos elementos.
Feita a primeira apresentação e “sem certeza” do caminho a seguir, começaram a trabalhar no segundo espectáculo, Duas gatinhas cá em casa, estreado em 2000.
Mas, antes, haveria de nascer o Festival de Teatro Amador de Ourém, que teve a sua primeira edição em 1998 e queviria a ser “fundamental” para o caminho trilhado quer pelo Apollo quer por outros grupos do concelho. “Permitiu a continuidade dos projectos, com a preparação de trabalhos para apresentar a cada edição”, nota Dora Conde.
Depois da incerteza inicial, o Apollo – nome inspirado na mitologia grega onde Apolo era também o deus das artes, consolida-se, sobretudo, a partir de 2006, que se revela um ano marcante na vida do grupo.
Entram novos elementos, que “mudaram um pouco a estratégia do Apollo e o ajudaram a fortalecer”, e têm início os espectáculos no Torreão do Castelo de Ourém, com agenda regular.
É também em 2006 que o Teatro Apollo inicia a sua Meia Maratona de Teatro, que vai já para a 12.ª edição.
A esse momentos, Dora Conde junta um outro também marcante: a estreia da peça Queres ser ministro, em 2013, a partir da adaptação de um texto de Hélder Costa, do teatro A Barraca, que cedeu os direitos de autor ao Apollo.
Um trabalho que o grupo se prepara para repor, com um espectáculo marcado para o próximo dia 28, no Teatro Miguel Franco, no qual participarão alguns dos elementos do elenco inicial.
Já com vários prémios conquistados, o Teatro Apollo conta, actualmente, com um elenco fixo de dez pessoas, às quais se juntam cerca de 25 elementos que colaboram de forma regular ou pontual com o grupo.
Mas, nestes 20 anos de actividade, foram muitos mais aqueles que fizeram parte da vida do Apollo, alguns dos quais foram lembrados numa exposição que esteve patente no final do ano passado para assinalar a data.
Sobre o futuro, Dora Conde revela o desejo de avançar com espectáculos infantis, que seria também uma forma de enquadrar alguns elementos mais novos que têm procurado o grupo, como Duarte, um menino de dez anos, residente na Lagoa do Furadouro.
“Assiste aos ensaios, lêas deixas de algum actor que não está presente e interessa-me muito. É muito bom ver aqueles olhos a brilhar com esta arte.”