Há dois anos, estava Leiria em polvorosa. A apresentação pública do Plano Estratégico de Mobilidade e Trânsito (PEMT) gerou grande controvérsia, que acabaria por custar o pelouro ao vereador responsável, Lino Pereira.
A sociedade civil mexeu-se, com a criação do Movimento Cidadãos por Leiria, que, entre outras iniciativas, promoveu uma petição que juntou mais de seis mil assinaturas, contestando muitas das medidas preconizadas pelo PEMT.
Mas, dois anos passados, não só a versão final não está aprovada como, da parte da Câmara, surgem sinais que podem indiciar a recuperação de algumas das propostas mais polémicas.
Essa é, pelo menos, a leitura que fazem vários elementos do grupo de trabalho criado no âmbito da Assembleia Municipal (AM) para analisar o PEMT que, acusam o executivo de fazer tábua rasa das recomendações que fizeram.
A Câmara assegura, contudo, que o dossiêr não foi metido na gaveta, garantindo que o mesmo tem vindo a ser trabalhado e que ficará “concluído e aprovado este ano”.
“Fiquei cilindrando quando percebi que, aparentemente, a Câmara está a recuperar projectos que tinham sido chumbados pelo grupo de trabalho. Parece que a nossa função foi um pouco de 'papel de embrulho' e as propostas e recomendação que fizemos foram ignoradas”, acusa Heitor de Sousa, que integrou o grupo em representação do BE.
O bloquista considera que a Câmara “quis fazer de conta que existe participação”, mas “agora que existe uma nova maioria”, “faz tábua rasa das conclusões e recomendações do grupo de trabalho”.
Essa é também a leitura de Francisco Marques, que integrou aquele grupo em representação do PSD e que receia que as propostas que fizeram venham a ser “esquecidas”.
“Eram soluções muito equilibradas e estavam consensualizadas. Temo que a estratégia da Câmara seja arrastar o processo para que caia no esquecimento e depois implementar as 'suas' medidas”, refere o social-democrata que neste mandato não integra a AM, apontando como exemplo das proposta que a autarquia quererá recuperar o parque de estacionamento subterrâneo no largo da República
A questão relativa a essa intervenção foi levantada já este mandato, aquando da aprovação do orçamento municipal, que contém verba inscrita para a intervenção naquela zona. Contudo, o presidente da Câmara não esclareceu se o aparcamento vai, de facto, avançar.
[LER_MAIS] “O orçamento do Município continua a ter verbas alocadas para o parque do Largo da República, embora não de forma clara, e o valor inscrito para a Avenida Heróis de Angola é demasiado elevado para ser apenas para as infra-estruturas. A sua cobertura continuará em cima da mesa”, nota Filipe Reis.
O eleito do PCP, que também integrou aquele grupo, lembra que a recusa da proposta do parque “foi subscrita por todos, incluindo pelo representante da Câmara” no grupo, o vereador Ricardo Santos, que se mantém no executivo.
António Pereira de Melo, que representou o CDS-PP no grupo de trabalho, afina pelo mesmo diapasão. “A Câmara não está a honrar o que foi consensualizado”, acusa o deputado municipal, que agora integra a bancada do PSD.
Por seu lado, o representante socialista que subscreveu o relatório do grupo de trabalho, Acácio de Sousa, diz “não ter dados para ajuizar” se a autarquia tenciona ou não acatar as recomendações feitas.
A Câmara alega que o plano “tem vindo a ser trabalhado ao longo destes dois anos” e que as reuniões “realizados com diversas entidades e cidadãos têm contribuído para a maturação do mesmo” e permitido “avançar com acções concretas e consensuais”.
A título de exemplo, adianta que, no curto prazo, serão instalados temporizadores nas passadeiras, “reforçando a segurança no seu atravessamento”, e que está a “equacionar” a colocação em algumas da entradas da cidade de informação sobre a disponibilidade de estacionamento “em várias artérias e parques municipais”.
Rodoviária
Autocarros invertem sentido
A entrada e saída de autocarros no terminal da rodoviária vai ser invertido. A alteração já está prevista no projecto de requalificação do edifício, cujo processo se encontra em análise na Câmara. Segundo explicou o presidente da autarquia, durante a última reunião de executivo, a entrada dos autocarros passará a fazer-se a partir das traseiras do Teatro José Lúcio da Silva, na zona onde, em tempos, esteve instalada uma marca automóvel.
A saída das viaturas será pela actual entrada, seguindo depois em direcção à rua Mouzinho de Albuquerque, que durante as obras na Avenida Heróis de Angola inverterá o sentido, ou pelo largo do Banco de Portugal.
Sobre a intervenção naquela avenida, Raul Castro adianta que estão a ser ultimados os projectos para a primeira fase, que contempla a remodelação total das infra-estruturas, não avançando ainda uma data para o início das obras. “Tudo dependerá da forma como decorrer o concurso”, alega.