A eficácia da vacina contra o sarampo diminui de resistência ao fim de nove anos. A culpa é da taxa de vacinação em Portugal, que por cobrir uma grande parte da população, esta deixou de estar em contacto com o vírus na sua forma selvagem.
A conclusão é de um estudo de João Frade, docente na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria. “O que se passa é que a vacinação em Portugal foi tão eficaz que fez desaparecer o vírus selvagem do sarampo, que nos dava os anticorpos ao longo da vida.
Ou seja, a pessoa ia estando em contacto com o vírus na forma como ele existe na natureza, garantindo um reforço natural de anticorpos”, explica ao JORNAL DE LEIRIA o investigador. Segundo exemplifica, quando alguém ia ao hospital poderia estar em contacto com o vírus, o que “ia reforçando o sistema imunológico, que apresentava um nível bastante elevado”.
“Com o nível de vacinação elevado o contacto desse vírus com o nosso sistema imunológico desapareceu e os anticorpos vão diminuindo”, sublinha João Frade. Na sua tese de doutoramento, apresentada em 2014, o investigador constatou que, “ao final de nove ou dez anos, mais de 5% da população vacinada já não tem imunidade”.
Isto pode resultar também de uma “certa fragilidade da vacinação e tem de se desenvolver estudos, nomeadamente da imunologia, para se perceber o que se passa”. João Frade salienta que “uma coisa é uma pessoa que nunca teve contacto com a doença e que tem um sistema imunológico virgem” e outra é “um sistema imunológico que já contactou com o vírus duas vezes [doses de vacina] e na forma selvagem e cujo vírus já não é novo”.
[LER_MAIS] Nesse sentido, o investigador defende uma análise profunda para que se possa com preender se não são necessários mais anticorpos para tornar a pessoa imune e se “as duas doses de vacinas são suficientes para dar uma resposta imunológica mais eficaz”.
O docente da ESSLei lembra ainda que existem outras variáveis como “questões sociais, culturais e as formas de produção”. Ou seja, “se os vírus que são utilizados na produção de vacinas são os mais eficazes”.
No recente surto de sarampo que atingiu até ao momento 68 pessoas, a maioria dos doentes estavam vacinados (51), são mulheres e profissionais de Saúde. João Frade refere que é “preciso perceber, por que a doença está a atingir uma faixa etária e outras não”.
Segundo o docente, isso é um indicador de que o vírus poderá não ter sofrido mutação, mas defende que só os “especialistas em virologia poderão responder melhor a isso”. “São tudo questões que merecem uma análise e respostas para serem dadas à população.”