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Home Entrevista

Entrevista | David Marçal: “a engenharia genética poderá permitir-nos viver mais”

Elisabete Cruz por Elisabete Cruz
Fevereiro 16, 2018
em Entrevista
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Entrevista | David Marçal: “a engenharia genética poderá permitir-nos viver mais”
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Quem são os inimigos da ciência?
Há muitos e no livro são indicados vários. Logo à abrir os ditadores. A ciência exige liberdade de pensamento e as sociedades livres também precisam da ciência para ter prosperidade. Para a ciência, tem razão quem apresenta provas e não quem está acima na hierarquia. Por isso, os ditadores são tradicionalmente inimigos da ciência. Nas ditaduras, muitas vezes, procura- se que a ciência esteja de acordo com uma determinada ideologia e não com a verdade, e aí estamos a prejudicar a ciência. Dois dos casos paradigmáticos do século XX e que são discutidos com algum detalhe no livro são a ditadura nazi e as relações de Hitler com a ciência. Toda a purga que fez de cientistas judeus e a ideia que tinha de uma ciência alemã, que se opunha à ciência judaica, levou-o a perder muitos cientistas para os Estados Unidos da América (EUA) nos anos da 2.ª Guerra Mundial. Alguns deles foram ajudar a construir a bomba atómica que haveria de dar a vitória aos EUA.

Há ideia de que o cientista é um 'rato' de laboratório. O projecto de stand up comedy dos Cientistas de Pé tinha como objetivo desmistificar essa imagem?
Foi um projecto que coordenei entre 2009 e 2014, onde um grupo de cientistas fazia piadas em palco. Um dos objectivos era também contrariar essa imagem negativa dos cientistas. As representações populares dos cientistas são tendencialmente más e muito persistentes ao longo dos anos. Essencialmente o cientista é um homem, de meia-idade, de bata branca, despenteado, obcecado apenas pelo trabalho, que não liga à família, que traz objectos estranhos, que tem intenções pouco claras e que quer dominar o mundo. A nossa ideia, tanto na Ciência Viva como com os Cientistas de Pé, é mostrar que os cientistas são pessoas normais com carreiras que também têm problemas. No fundo, são pessoas que se dedicam a uma actividade extraordinária que é fazer investigação científica. É pouco provável que um despenteado sozinho, numa cave, consiga fazer uma descoberta que lhe permita dominar o mundo, pois esta é uma actividade colaborativa e baseia-se na transparência e não no secretismo.

Como explica que haja pessoas que afirmam ter resultados com a homeopatia ou acupuntura?
Não duvido que as pessoas falem verdade. Do ponto de vista da ciência, para atribuirmos uma causa a uma cura temos de excluir todas as outras causas possíveis. Por exemplo, se estiver com gripe e todos os dias de manhã virar uma chávena de café ao contrário em cima da cabeça, ao fim do quinto dia provavelmente estou curado. A verdade é que a gripe passa sozinha. Temos desenvolvido uma série de formas de avaliar a eficácia e a segurança de um tratamento, através dos ensaios clínicos, e utilizamos métodos estatísticos. Por exemplo, um doente que tem uma doença horrível, que, por acaso, apanhou um choque eléctrico e fica curado. Pode-se concluir que choques eléctricos curam esta doença? Não. É uma indicação que tem de ser investigada. A partir daí podem fazer-se ensaios clínicos. A acupuntura tem um efeito fisiológico e pode ter um efeito residual eventual no tratamento da dor, mas não consegue através de ensaios clínicos provar a sua eficácia e segurança para nenhuma condição clínica. A homeopatia são apenas placebos. Os remédios homeopáticos são preparados através de um grande número de diluições, que no final não sobra nada a não ser a água onde as diluições são feitas e o açúcar para onde essa água é vertida para fazer os comprimidos. Os ensaios clínicos mostram que os remédios homeopáticos são placebos.

Concorda com a canábis para usos medicinais?
A canábis tem várias substâncias canabinoides, que têm efeitos fisiológicos sérios. Há muito exagero acerca da canábis, que é hoje apresentada em muitos meios como uma panaceia para curar todas as doenças, desde o autismo ao cancro. Obviamente tudo isso é desonesto. Os endocanabinoides estão envolvidos em processos fisiológicos importantes no nosso organismo, em processos como o apetite e a dor. Portanto, é plausível que possa ter um efeito no  [LER_MAIS] tratamento dessas condições. O que os ensaios clínicos mostram até agora é que a canábis é uma boa solução para os efeitos da quimioterapia. Mas, não podemos esquecer que a canábis tem um efeito psicoactivo importante. Está provado que o consumo de canábis faz com que as pessoas atinjam níveis mais baixos de concretização pessoal seja nos estudos, seja na vida profissional ou social e tudo isso tem de ser pesado. Usar as folhas da canábis como medicamento é muito estranho, porque é difícil de quantificar. Se há princípios activos na canábis que podem ter fins terapêuticos, e parece que há, eles devem ser extraídos e ser administrados sob uma preparação farmacológica que permita controlar a dose e ter consistência no tratamento, e isso não levanta problemas. Já a legalização para fins recreativos deve ser encarada com bastante cepticismo e prudência, porque o consumo de canábis, especialmente em idades mais jovens é extremamente prejudicial e pode deixar sequelas permanentes ao nível psicológico.

Como é que alguém pode defender algo com rigor científico se a ciência também se engana e aquilo que hoje é verdade, amanhã pode já não o ser?
A ciência não é perfeita e é feita por pessoas que também se enganam. Mas, o conjunto do processo é suficientemente robusto para que ao fim de algum tempo, se houver vários grupos de investigação a trabalhar no assunto, o nosso conhecimento se vá tornando cada vez mais consistente. Não depende de génios solitários, mas do trabalho de grupos de investigação espalhados pelo mundo, que confirmam ou refutam os resultados uns dos outros.

Muitos jovens investigadores e cientistas estão a emigrar. Falta uma aposta maior na investigação em Portugal?
A ciência cresceu muito em Portugal nos últimos 20 anos. Hoje temos todos os anos cerca de três mil novos doutorados e mais de 50% são mulheres. Até muito tarde no século XX, Portugal era um país com níveis de analfabetismo enormes. Portugal esteve no século XIX da ciência até pelo menos ao 25 de Abril. A adesão à União Europeia acabou não só por facilitar a integração nas redes internacionais de investigação, como trazer fundos que permitiram criar infra- -estruturas, qualificar pessoas e pagar bolsas de investigação. Tivemos um crescimento muito rápido e isso é meritório. Agora esse crescimento rápido também teve algumas consequências, como por exemplo, um sistema científico muito assente em bolseiros de investigação. As bolsas de investigação são formas ultra-precárias de contratação de investigadores. Agora tenta-se corrigir esse assunto e substituir bolsas de investigação por contratos de trabalho. Por outro lado, antigamente havia muito poucas pessoas que tinham possibilidade de participar no sistema científico. Com o crescimento da ciência o ensino superior deixou de ser a carreira certa para os doutorados. Hoje, um doutorado pode e deve integrar-se noutras áreas do tecido económico. A carreira de investigação é difícil. Costumo compará-la à do futebolista. É uma carreira que exige uma elevada mobilidade. É preciso estar no clube certo em cada momento, muito poucos atingem um nível de visibilidade e de conhecimento relevante e pode estar acabada antes dos 40 anos. No caso dos futebolistas por questões de desempenho físico, no caso dos investigadores por já não conseguirem ganhar a próxima posição, a próxima bolsa, o próximo contrato, porque é ultra competitiva.

É por isso que os investigadores emigram?
A mobilidade científica é normal e boa para a ciência. Cada vez que um cientista muda de sítio, é uma transferência de conhecimento e de tecnologia e a ciência beneficia com isso. Outra questão é o que consideramos o mercado de emprego. Os países com os sistemas científicos mais desenvolvidos serão sempre os mais atractivos. É normal que os cientistas portugueses queiram ir para Inglaterra, para Alemanha, para o EUA ou Holanda. Portugal, apesar do grande progresso dos últimos anos, não estará ao mesmo nível de atractividade, mas temos de conseguir reter alguns bons, sejam eles portugueses ou não. Sou coordenador de uma rede chamada GPS – Global Portuguese Scientists, que visa aproximar a sociedade portuguesa da sua diáspora científica. Por causa da diferença de atractividade dos sistemas científicos é natural que os portugueses se sintam durante muito tempo atraídos por sistemas científicos mais desenvolvidos e é plausível que teremos uma grande diáspora científica durante muito tempo. Além da ciência ser uma área altamente móvel, nós em particular teremos sempre pessoas altamente qualificadas e reconhecidas que irão ser atraídas por outros países. A diáspora científica tem vontade de ajudar e de colaborar com Portugal. É um grande desafio conseguirmos manter uma relação com toda essa diáspora estapafurdiamente qualificada que tem não só o potencial que levou daqui como o que desenvolveu lá fora. São pessoas que podem ter um contributo muito grande para o nosso País.

Os cientistas já criaram a ovelha Dolly e depois macacos. Até onde nos levará a ciência?
Não sabemos até onde a ciência nos vai levar. Neste momento, a genética tem potencial para fazer coisas incríveis que a maioria das pessoas ainda não se apercebeu e que pode revolucionar muito as nossas vidas nos próximos anos. Hoje a ciência e o conhecimento trazem-nos desafios éticos e de sociedade, quer seja na questão da recolha de dados na análise de grandes quantidades de dados, na inteligência artificial, quer seja no campo da genética e da biologia. Há coisas que já foram feitas, que parecem ficção científica, como por exemplo, modificarmos os genes de um ser vivo adulto. Essas técnicas têm um potencial de nos permitir, por exemplo, dentro de alguns anos, um casal querer ter um filho que corra muito depressa e introduz-lhe um gene do Usain Bolt. Isto é legítimo? É ético? A inovação e a tecnologia sempre trouxeram desafios ao resto da sociedade. Na passagem para o século XXI foi finalmente concluída a sequenciação do genoma humano e agora estamos no ponto em que a engenharia genética pode realmente cumprir as promessas de décadas. Há questões de regulação que vão ser sempre muito difíceis. A União Europeia poderá ter leis restritivas, mas pessoas com dinheiro poderão fazer procedimentos de engenharia genética extravagantes. Haverá possibilidade de fazer algum turismo genético. Por exemplo, a engenharia genética poderá permitir-nos viver mais. Quem sabe até não envelhecer. A diferença entre pessoas supracentenárias e as que morrem muito mais cedo não está no estilo de vida, nem nas dietas paleolíticas. Há pessoas que têm vidas stressantes, são sobreviventes do holocausto e acabam por chegar aos 115 anos. Isso está essencialmente nos genes. Se compreendermos quais são as variantes dos genes dessas pessoas que lhes permitem viver tanto tempo e, por exemplo, modificá-los através de técnicas de edição genética para serem iguais aos desses supracentenários, poderemos então ter o potencial para chegar aos 120 anos.

 

Percurso
Cientista no Inimigo Público

Doutorado em Bioquímica pela Universidade Nova de Lisboa, é o coordenador da rede GPS – Global Portuguese Scientists. Comunicador de ciência, investigador, escritor, pertence à assessoria da Ciência Viva. Foi jornalista de ciência no Público e autor no Inimigo Público, um suplemento satírico do mesmo jornal. Entre 2009 e 2014 coordenou os Cientistas de Pé, um projecto de cientistas que fazia piadas em palco. Co-autor, com Carlos Fiolhais, dos livros A Ciência e os seus Inimigos, Darwin aos Tiros e Outras Histórias de Ciência e Pipocas com Telemóvel e Outras Histórias de Falsa Ciência, David Marçal, 40 anos, assumese como uma pessoa de “riso fácil” e um apaixonado por sitcoms e pela escrita. Ainda no ensino secundário começou a escrever para a revista Fórum Estudante e mais tarde para as Produções Fictícias. Considera que a Ciência Viva tem tido um papel “muito importante” na literacia científica dos portugueses.

 

Etiquetas: david marcalentrevista
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