A ideia surgiu na sequência de um sketch carnavalesco, que envolvia mascarados de médicos, de bombeiros, de enfermeiros e, claro, de feridos. Mas, da brincadeira nasceu um caso sério de apoio social e de dinâmica cultural, que hoje chega a centenas de pessoas, não só em Portugal, mas também em África, onde tem desenvolvido várias acções humanitárias.
Falamos da Associação de Serviço e Socorro Voluntário de São Jorge (ASSVSJ), uma instituição do concelho de Porto de Mós, que celebra este domingo 30 anos de actividade.
Para assinalar a data, irá haverá um almoço comemorativo, no decorrer do qual será anunciado o próximo projecto da associação: um centro comunitário intergeracional a criar na antiga sede do Condestável Atlético Clube, cujas instalações foram recentemente adquiridas pela ASSVSJ.
Nuno Rebocho, presidente da direcção da instituição, explica que o objectivo é recuperar um espaço “emblemático” na aldeia, “com demasiadas memórias para ficar abandonado”, criando “um ponto de encontro” no centro da povoação, que possa juntar “reformados, jovens, crianças e população em geral”.
“São Jorge não tem um único espaço público de lazer. Queremos colmatar esta lacuna e, ao mesmo tempo, proporcionar o convívio intergeracional, onde os mais velhos possam ensinar algo aos mais novos e vice-versa”, adianta Nuno Rebocho.
O centro terá um parque infantil, um circuito de manutenção, um ringue para a prática de petanca, boccia e chinquilho e um edifício com sala polivalente e espaços para a dinamização de oficinas. Ainda sem data para o início da obra, o centro comunitário irá alargar a já vasta área de actuação da associação que mantém ainda como actividade principal o transporte de doentes, que esteve na sua origem.
[LER_MAIS] “A povoação é atravessada pela EN1. Há 30 anos havia muitos acidentes e o tempo de intervenção, numa época em que as comunicações também não eram as melhores, era demasiado longo”, recorda Nuno Rebocho.
Foi a partir dessa realidade e da inspiração dada pelo desfile carnavalesco que começou a ganhar força a idele de Carnaval, que nesse ano (1990) serviria para angariar receitas a favor desse objectivo. Três anos depois, foram inauguradas as instalações próprias da associação, que até então funcionava numa casa cedida por um morador.
A sede, que dispõe de um pavilhão polivalente e de dois auditórios, sofreu uma grande re-modelação em 2015.
Há cinco anos, em plena crise económica e social, a associação avançou com a criação do Gabinete de Apoio à Família e à Comunidade, em resposta às necessidades da população.
“Embora a nossa actividade esteja focada no transporte de doentes [assegurada por uma frota de dez viaturas], sempre tivemos uma componente social e cultural importante. O gabinete foi uma consequência da realidade e dos pedidos de ajuda, conta Nuno Rebocho.
Atendimento social, apoio ao estudo, terapias (da fala, ocupacional, educação especial, psicomotricidade ou psicologia clínica), teleassistência, ateliers de férias e banco de ajudas técnicas e de livros escolares são algumas das valências disponibilizadas por aquele gabinete, cuja actividade “não se restringe às fronteiras do concelho”.
Segundo o presidente da direcção, são praticados preços “sociais”, com os utentes a pagarem em função dos escalões definidos pela Seguança Social para a atribuição do abono de família. Nos casos em que o rendimento dos agregados supera esse valor, passam a pagar o preço de mercado, com o valor a reverter para o técnico que dá uma parte à associação. “É um modelo que nos permite ter um corpo clínico diversificado e qualificado”, refere o Nuno Rebocho.
A associação dispõe ainda de um grupo de teatro, de uma escola de música, de um grupo de cavaquinhos e de um atelier de artes plásticas (Ambul' Arte) e dinamiza com regularidade acções de formação.
Desde 2013, promove também acções humanitárias, nomeadamente, em África, onde se inclui o apadrinhamento de cerca de 65 crianças acolhidas num orfanato no Benim. Esta actividade além-fronteiras é, diz Nuno Rebocho, uma forma de “contagiar aqueles que nunca fizeram voluntariado e que, normalmente, após uma experiência tão marcante como são essas missões, ficam com o 'vírus' entranhado”.