Empregados de mesa, empregados de bar, copeiros, ajudantes de cozinha, empregados de quarto. Estas são algumas das profissões em que falta mão-de-obra no sector da hotelaria e restauração, segundo a Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal. O sector estima que sejam precisos 40 mil novos trabalhadores para fazer face ao crescimento da actividade.
“A nota que os empresários nos passam é que têm negócios para abrir e que não o fazem porque não têm recursos humanos suficientes”, disse ao Diário de Notícias Ana Jacinto, secretária-geral desta associação, explicando que a escassez se sente sobretudo em profissões de nível intermédio e mais baixo e que o sector precisa “urgentemente de mão-de-obra, mesmo que menos qualificada”. De acordo com esta responsável, cerca de metade das empresas de restauração estarão a sentir o problema.
“Em 2017 houve muita dificuldade na captação de recursos humanos, sobretudo com formação”, disse ao JORNAL DE LEIRIA Alexandre Marto Pereira. O administrador do Fátima Hotels Group lembra que no ano passado abriram muitas unidades novas e frisa que, se actualmente “se vive uma euforia” no sector, é preciso não esquecer que há quatro anos “se vivia uma calamidade”.
Para “perceber a dimensão do problema” da falta de mão-de-obra, a AHRESP levou a cabo um inquérito, que dá conta que a restauração e bebidas e o alojamento turístico precisam de cerca de 40 mil novos trabalhadores, a somar aos cerca de 53 mil empregos criados entre o terceiro trimestre de 2016 e o mesmo trimestre de 2017.
Ana Jacinto reconheceu ao DN que a prática salarial genericamente associada ao sector pode não ajudar a cativar interessados, mas lembra que recentemente foram dados passos com o objectivo de “valorizar e tornar mais atractivas” as funções nas quais se sente mais a falta de pessoal. Entre eles está o acordo colectivo assinado entre associação e sindicatos, que contempla que a progressão na carreira seja feita com base no desempenho e não na antiguidade.
Para António Baião, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Centro, há dois “problemas crónicos” no sector, que afastam potenciais trabalhadores: os salários “cada vez mais esmagados” e os horários “completamente desregulados”, que dificultam a conciliação da vida profissional com a familiar. “Por isso, os jovens fogem do sector ou emigram para países onde ganham mais e são tratados com preocupação social”.
[LER_MAIS] Ao JORNAL DE LEIRIA, o dirigente aponta ainda outro problema: “o trabalho clandestino, não declarado”. Lamenta que muitos empresários se tenham estabelecido “pensando que o sector é uma mina de ouro, pelo que esperam retorno do investimento ao fim de dois anos, e por isso cortam no pessoal e nos salários”.
Alexandre Marto Pereira diz não ter dúvidas de que os salários têm vindo a crescer na hotelaria e restauração. E acredita que a tendência continuará, por dois motivos: lei do mercado (maior procura do que oferta de recursos humanos) e maior rentabilidade das unidades. Mas lembra que se os empresários não praticam melhores salários “não é certamente por maldade”, mas porque “toda a actividade turística fora de Lisboa, do Porto e do Algarve assenta em valores de receita por quarto muito baixos”. Frisa, aliás, que a receita por quarto em Fátima “é das mais baixas do País”.