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Home Entrevista

Entrevista | Richard Zimler: “É impossível existir na Terra e não falar ou pensar em Deus”

admin por admin
Dezembro 21, 2017
em Entrevista
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Entrevista | Richard Zimler: “É impossível existir na Terra e não falar ou pensar em Deus”
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Há cerca de 15 anos, numa entrevista ao JORNAL DE LEIRIA, explicou que, normalmente, escreve em Inglês e, depois, há quem traduza o que escreve para Português. Ainda é assim?
Escrevo em Inglês, quando se trata de romances para adultos, porque a minha relação com a minha língua materna é diferente. Não me sinto capaz de escrever, com profundidade, sobre as questões da vida em Português, mas, já escrevi três livros para crianças em Português.

Nesse caso, conseguiu pensar Português, quando escrevia, ou usa apenas uma língua, a humana?
Vou responder-lhe às avessas. Quando estou a conversar, a escrever ou a ouvir em Português, penso em Português. Mas, quando falo ou escrevo em Inglês, penso na minha língua materna. Mudo conforme o projecto. Tento, no entanto, falar sempre numa linguagem… numa língua humana. Muitos dos meus livros abordam assuntos ligados ao mundo, história ou cultura judaicas, porém, o judaísmo é só uma porta pela qual o leitor pode entrar para explorar, juntamente comigo, os temas universais: solidariedade, crueldade, tolerância, intolerância, paixão, amor, amizade, tempo… tudo! Espero que a linguagem escondida dos meus livros seja sempre universal e humana.

Após os seus estudos superiores em Religião Comparada, Deus tem algum papel na sua vida?
É impossível existir na Terra e não falar ou pensar em Deus… de vez em quando… ou pensar nas crenças dos cristãos, budistas e dos muçulmanos. Elas fazem parte da vida humana. Não estou a dizer que as pessoas têm de ter fé em deus, mas a questão da existência ou não de um "criador supremo" faz parte da vida. No meu dia-a- -dia, não penso muito "Nele" ou "Nela". Não sei bem porquê… Penso em termos de espiritualidade, mas penso pouco em Deus. Penso muito na morte, pois já tenho 6o anos e os meus pais e um irmão já morreram e tenho muitos amigos que também já faleceram. É natural que passe uma parte dos dias a pensar se há uma vida além da morte. Não? Se não, o que significa a vida? Por que estamos aqui?

Não corporiza, então, isso num deus ou numa deusa.
Não consigo acreditar num deus pessoal. Consigo imaginar uma realidade transcendente, muito mais subtil do que esta realidade do quotidiano. Acredito que haja uma realidade diferente, mais subtil e menos visível. Mas, para acreditar nisso, não tenho de acreditar num deus. Penso que, cada pessoa, talvez dê à sua própria vida um significado e um caminho. Faço isso com a minha vida: amar, ser generoso, tentar explorar o que é a vida na minha escrita, entre outras coisas. Para outra pessoa, será outra coisa diferente. Talvez criar filhos maravilhosos ou lixar os outros… Ou fazer como Donald Trump e ficar com todos os brinquedos e lixar os outros. Cada pessoa irá criar o seu significado, mas não quer dizer que existe um deus pessoal.

Leia aqui a segunda parte da entrevista

Muitos dos seus escritos começam então com o abordar de uma questão religiosa.
Alguns sim. O que me interessa na religião, não é, propriamente, a existência ou não de Deus. O que me interessa é a mitologia. Adoro a mitologia. Quando tinha 9 anos, lia muita banda desenhada, do Super Homem e do Batman, até que comecei a ler a mitologia grega. Em vez de super-heróis, temos deuses que conseguem voar, que lançam relâmpagos e transformam pessoas em árvores ou cães. Seguiu- -se a mitologia nórdica e nunca mais parei. A mitologia judaica está contida no Antigo Testamento e na Cabala, no ramo místico do judaísmo. Não sei bem, por que razões, a mitologia ainda me fascina. Talvez seja porque lida com as grandes questões da vida: porque estamos aqui, o que é o significado do sexo, da amizade, será possível realmente influenciar a vida de outra pessoa ou não? Fá-lo de uma forma muito criativa e simbólica e, por isso, é possível ao leitor fazer interpretações diferentes. Quando Moisés separa o Mar Vermelho e lidera o seu povo até à Terra Prometida. Será que foi um evento real? A Torá utiliza uma linguagem simbólica e uma das interpretações possíveis é que esse episódio seja uma viagem espiritual que cada pessoa pode fazer todos os dias, da escravatura para a liberdade.

São temas que também ocorrem fora do contexto religioso.
Verdade. A busca pela liberdade e a dignidade da pessoa… Além disso, muitas pessoas dizem, erradamente na minha opinião, que todas as religiões são iguais. Não são. Religiões diferentes, têm respostas ou interpretações diferentes a essas questões. Veja a ideia budista de que, para evitar sofrimento, a única maneira é não ficar emocionalmente ligado ao mundo e às pessoas e que nós podemos todos imitar o Buda e ascender ao estado de nirvana. É uma maneira diferente da muçulmana, cristã ou judaica de lidar com estes assuntos.

“Ainda há pessoas que não conseguem distinguir um israelita de um judeu. Sou judeu, não tenho nada a ver com Israel. É o mesmo que dizer que por se ser brasileiro também se é português”
 

Quando escreve, onde encontra a vitalidade e profundidade que desenha no interior das suas personagens? De pessoas que conhece?
Provavelmente, de pessoas que gostaria de conhecer, mas não faço versões escritas dos meus amigos ou familiares, porque, o retrato num livro jamais é suficientemente positivo para a pessoa real. Ela vai achar sempre que está mal. Não sei de onde vêm as minhas personagens. É um mistério. São consequência da minha pesquisa porque, antes de escrever qualquer romance, faço uma pesquisa, tal como faço com as questões históricas num romance histórico. A história e as personagens vão surgindo das informações que vou recolhendo sobre, por exemplo, o gueto de Varsóvia, nos anos 40, sobre a guerra santa de há dois mil anos, sobre a  [LER_MAIS] Lisboa de 1506. É um processo mágico. Ideias, personagens, temas vão surgindo, mas não é um processo que posso controlar. Nem o quero controlar.

As histórias da rua do lado são sempre mais interessantes do que os grandes actos?
Sim. Tenho essa noção fruto dos meus hábitos como leitor. Não consigo ler um romance com corridas de carros, com explosões, como se fossem séries televisivas americanas pirosas, onde tudo é acção, com pessoas aos tiros. Só consigo terminar um livro se desenvolver uma relação afectiva com as personagens. Se não, por que irei ler aquele livro? Se não estou interessado no destino das pessoas, por que irei ler? É como ver pessoas a passar na rua. Não as conhecemos. Não é possível estabelecer uma relação duradoura com toda aquela gente. Não são nossos amigos. Temos de criar empatia. Sou um leitor de personagens. Adoro ler livros com personagens profundas e não têm de ser coerentes. As pessoas não são coerentes.

É um exercício psicológico? A única constante humana é a ausência de coerência ao longo da existência?
Exacto… Por vezes, tenho leitores que me abordam e que me dizem que, na página 112 de um dos meus livros, leu que a personagem não gosta de cães, mas, na 300, ela faz festas num. Quem cria personagens que são sempre coerentes, está a criar uma ficção, uma fantasia que nada tem a ver com a realidade. A grande história é importante, mas as pequenas histórias interligadas das personagens é que captam a atenção do leitor. Quando abordamos o Holocausto, falamos em seis milhões de judeus e 500 mil ciganos assassinados pelos nazis. Essas estatísticas, porém, não transmitem emoções. Se desejarmos passar a ideia do sofrimento dessas vítimas, temos de falar de duas ou três pessoas específicas. Não de milhões. Basta entrar nas livrarias e ver todos aqueles livros sobre conspirações sobre o Vaticano, sobre o Anticristo e sobre vampiros, cujos autores não têm talento para desenvolver personagens atraentes, interessantes, horríveis, maravilhosas…

O interesse cada vez maior pela cultura e antepassados judaicos em Portugal é uma tentativa de os portugueses fazerem as pazes com o que aconteceu aos judeus sefarditas? Sente que teve algum papel neste fenómeno com os seus livros?
É difícil avaliar a influência da minha escrita. O último Cabalista de Lisboa, em particular, teve uma influência enorme cá e no Brasil. Sei-o porque há 20 anos que as pessoas daquele país, de Portugal, da Austrália e dos Estados Unidos me escrevem pedindo informações sobre genealogia. Referem que o Último Cabalista lhes criou uma curiosidade gigantesca. Há grupos de judeus que visitam Lisboa porque leram o meu livro… Antes de escrever esse livro, tive uma experiência interessante. Era amigo do Fernandinho, o Fernando Mascarenhas, marquês de Fronteira, e ao fazer a pesquisa para o último cabalista de Lisboa, descobri que um dos judeus mais influentes, antes da grande conversão do final do século XV, era João Mascarenhas. Cobrava as tarifas do porto de Lisboa e era muito odiado, porque, quem cobra impostos, normalmente, é odiado. Como tinha o mesmo apelido do marquês, enviei-lhe a informação a dizer: "se calhar, é um parente seu". Ele respondeu- me um pouco abruptamente: "ah! Não pode ser. E não é! Nada tem a ver comigo." Dez anos mais tarde, escreveu- me: "Richard, guardaste os apontamentos sobre João Mascarenhas? Gostaria de saber mais." Os meus livros influenciaram pessoas que, tendo antepassados judeus, não queriam saber deles, porque era uma "marca do outro", da gente perseguida, mas, anos depois, querem saber.

Tendo nascido numa família judia, nota sentimentos anti-judaicos na sociedade portuguesa actual?
Ainda existe, infelizmente, na mente de alguns portugueses, a associação à ideia dos judeus a pessoas forretas e agressivas. Já ouvi dizer: "ele é forreta. Deve ter uma costela de judeu". É desagradável de ouvir, mas não é um anti-semitismo visceral. Não é ódio. É, simplesmente, a associação do judeu com certas características negativas. Depois, há a questão de Israel que, graças ao presidente Trump, está novamente sob atenções. Ainda há pessoas que não conseguem distinguir um israelita de um judeu. Sou judeu, não tenho nada a ver com Israel. É o mesmo que dizer que por se ser brasileiro também se é português. Não é verdade! Dos 200 milhões de brasileiros, 150 milhões nada têm a ver com Portugal. Falam Português, mas não têm antepassados portugueses. Na Europa, é comum deparar-me com pessoas que me culpabilizam pelas acções do Governo de Israel e pelos colonatos. Não sou israelita, não voto em Israel, não construí colonatos. Sou português e norte-americano. Para mim, Israel é um país tão estrangeiro como a Itália ou a Austrália e há milhões de judeus no mundo que são como eu. Há tempos, após um problema que envolveu Israel e a Palestina, em Paris, atacaram restaurantes cujos proprietários são judeus. Quem fez isso sofre de uma doença mental.

Tem sugestão para uma solução para a Palestina?
Não tenho. Precisaríamos de quatro ou cinco líderes, verdadeiros estadistas, como Nelson Mandela. Um em Israel, outro na Palestina, outro na Arábia Saudita… e não vai acontecer, porque, quem chega ao poder naquela região, são pessoas grotescas e corruptas. Estou muito pessimista. Os meus amigos israelitas progressistas afirmam que não há espaço para uma voz progressista em Israel, neste momento. Nem na Palestina. Alguém está a ganhar muito com esta situação bélica. Não sei quem, mas está. Se calhar, os donos das fábricas de armamentos. Alguém está a ganhar e os povos estão a perder

PERFIL
Escritor premiado

No dia 1 de Janeiro, o jornalista, escritor e professor norte-americano naturalizado português Richard Zimler fará 61 anos. Nascido em Roslyn Heights, subúrbio de Nova Iorque (EUA), é autor de um dos mais marcantes livros da literatura portuguesa do final do século XX, O Último Cabalista de Lisboa (1996), e tem visto a sua obra literária reconhecida, traduzida e premiada um pouco por todo o mundo.

Cinco dos seus romances – Meia- Noite ou o Princípio do Mundo, Goa ou o Guardião da Aurora, A Sétima Porta, Os Anagramas de Varsóvia e A Sentinela – foram propostos para o Prémio Literário Internacional IMPAC, um dos mais prestigiados a nível mundial.

Em 2010, Os Anagramas de Varsóvia foi nomeado Livro do Ano 2009, pela revista Ler e um dos 20 melhores livros da década 2000– 2009 pelo Público. O antigo professor de Jornalismo também se tem aventurado na escrita para os mais jovens e, em 2009, Dança Quando Chegares ao Fim: bons conselhos de amigos animais chegou às livrarias, com ilustrações de Bernardo Carvalho.

Hugo e Eu e as Mangas de Marte, de 2001, e Se Eu Fosse, de 2014, abriram caminho para o mais recente de quarto livro para crianças que o escritor já terminou mas que ainda não tem data de publicação. Será uma edição bilingue.

Em 2016, lançou O Evangelho Segundo Lázaro, mais uma obra onde questiona e faz pensar a história e os dogmas que a rodeiam. Activista e figura pública assumidamente homossexual, é um dos mais ilustres cidadãos do Porto, localidade onde vive com o marido, Alexandre Quintanilha.

Em Julho deste ano, a Invicta atribuiu-lhe a Medalha de Honra da Cidade.

Etiquetas: Deusentrevista | richard zimler: "é impossível existir na terra e não falar ou pensar em deus"religiãorichard zimlersociedade
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