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Home Entrevista

Entrevista | Richard Zimler: “Temo que o desprezo pelas pessoas sérias e informadas chegue a Portugal”

admin por admin
Dezembro 21, 2017
em Entrevista
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Entrevista | Richard Zimler: “Temo que o desprezo pelas pessoas sérias e informadas chegue a Portugal”
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O jornalismo ainda pode ser considerado o quarto poder da teoria clássica da comunicação?
Hoje? Não sei… é complicado. Nos Estados Unidos, há cinco corporações que controlam 90% das informações que as pessoas recebem. Ou seja, certos assuntos são controlados por pessoas com grande poder político e económico. As pessoas que querem, realmente, uma visão diferente do mundo político, económico e social têm de procurar na internet. Com a vaga de notícias falsas, o jornalismo está num período de transição onde é impossível divulgar uma notícia sem verificar em várias fontes a sua veracidade. Deveríamos ter nos liceus, ou até antes, uma disciplina que ensine literacia jornalística e no mundo digital. Devemos desconfiar sempre de uma notícia, até haver provas.

Ainda há fontes fidedignas, como a BBC, a Reuters, a CNN, a Lusa… Continuam a ser os media clássicos a oferecer mais garantias de veracidade.
Mas há muitos milhões de pessoas que, nos EUA, só recebem notícias da Fox News. Acreditam naquilo. Podemos dizer que são pessoas ignorantes e com pouca educação, mas o facto é que elas acreditam e uma das consequências disso foi Trump. Ele foi uma produção da Fox News e de outras fontes pouco fidedignas.

Há dez anos apenas, um presidente que cometesse apenas uma ou duas gaffes, como as que Trump cometeu, enfrentaria um processo de destituição. Mas ele já fez muito mais do que cometer gaffes e continua a passar entre os pingos da chuva, como é isto possível?
Estamos a viver um período, no mundo ocidental e, sobretudo, nos EUA, onde milhões de pessoas desconfiam dos peritos, dos políticos sérios e das pessoas informadas. Ser- -se intelectual já tem uma conotação negativa. Trump é perfeito: não é intelectual, não domina quaisquer assuntos, não é uma pessoa séria, diz o que pensa no momento e, a seguir muda de opinião, é grosseiro, é provinciano, mas para muitos norte-americanos isso é positivo. Desconfiam dos homens e mulheres inteligentes, sérios e informados. O mesmo acontece no Reino Unido. Como é que um palhaço como Boris Johnson pode ser ministro dos Negócios Estrangeiros? Só pode acontecer num país que despreza a compreensão do mundo, a solidariedade e os peritos. Temo que o desprezo pelas pessoas sérias e informadas chegue a Portugal. Já tivemos um exemplo disto em Portugal com Miguel Relvas, que foi ministro de Passos Coelho. Agora ainda é alvo de chacota mas, e daqui a dez ou 20 anos?

Também existe esse perigo de contaminação em Portugal?
Absolutamente. Já tivemos sinais de contaminação da filosofia… ou anti-filosofia neo-liberal que valoriza o treino e não a educação. Quer dizer, o treino não é educar. A educação, pelo ponto de vista dos neo-liberais é só para cinco ou dez por cento da população, o resto recebe treino para servir café e conduzir camiões do lixo. Era óbvio pelos discursos de Passos Coelho que é isso o que ele entende. E ainda pode acontecer por cá.

Com Trump e o Brexit, para onde vai a Europa?
Espero que haja futuro para o projecto europeu. Temos de lutar para termos uma Europa de solidariedade e compaixão, que dê aos seus cidadãos uma educação adequada. Mas esta Europa neo-liberal, onde questões económicas determinam a política está errada. Até há 30 anos, nunca na história humana, os cidadãos deram aos economistas a possibilidade de determinar as políticas. Há 100 anos, era impensável. Depois da Segunda Guerra Mundial, os políticos britânico decidiram um rumo político para criar o Serviço Nacional de Saúde e, depois, utilizaram a banca e restantes entidades financeiras para conseguir esse objectivo. Foi uma decisão política. Não fazia sentido dizer: vamos decidir a economia e, só depois, vamos ver se é possível criar o SNS. Não! Aqueles políticos perceberam que o povo precisava de hospitais e de tratamento médico de qualidade e colocaram a economia ao serviço dos cidadãos! Se fosse a economia a determinar a política, como acontece agora, nunca se teria acabado com a escravatura. Porquê? Porque vale a pena ter seres humanos aprisionados, a trabalhar a custo zero para as grandes corporações. Os políticos devem determinar como lidar com as instituições financeiras, se não, vamos ter uma sociedade desigual e injusta.

Leia aqui a primeira parte da entrevista

Continua a seguir a sua paixão desportiva?
Quando não estou a escrever, vejo muitos jogos da NBA, na televisão. Gosto muito dos Spurs. O basquetebol é, para mim uma maneira de descontrair porque não penso em mais nada. Não me importa quem ganha ou perde, mas fico emocionalmente envolvido num assunto que não tem assim tanta importância. É um alívio, perante tanta coisa do nosso mundo que é deprimente, difícil e injusta. Também vejo policiais. Também faço croché, como este cachecol que estou a usar agora, oiço música, canto e toco a minha guitarra. O Pedro Abrunhosa disse-me que deveria ouvir Lucinda Williams, uma cantora americana de country-western progressivo e é o que estou a fazer. Também ouço Leonard Cohen… sempre e escuto coisas avulsas que o Youtube me vai recomendando: Rolling Stones, Johnny Mitchell… Lido mal com… não diria toda a música actual, mas com a música superficial actual, como o rap, o hip-hop, o Justin Bieber. Se calhar, é uma limitação minha. Ouço ainda grupos dos anos 90, como R.E.M…

Vive em Portugal há décadas. De que características norte-americanas sente mais falta?
O povo americano é mais optimista, mais dinâmico, mais informal. Sinto a falta da informalidade nas relações com as pessoas. Sinto falta do civismo. Os portugueses têm uma imagem dos americanos como pessoas violentas, por causa da televisão e cinema. Mas, o civismo lá, está  [LER_MAIS] num nível muito mais alto do que na Europa. As pessoas abrem portas, agradecem os pequenos gestos, dão o lugar no metro aos idosos. Pequenas coisas que tornam a vida menos cansativa e mais amigável.

Em São Francisco, na juventude, conheceu Harvey Milk, uma das figuras norte-americana mais activas na luta pelos direitos LGBT. O que recorda dele?
Era uma pessoa muito simpática e informal. Quando o conheci, ele era vereador e tinha uma loja de máquinas fotográficas. À hora de almoço, passava por lá para falar com as pessoas. Tinha um excelente sentido de humor. Ele foi o primeiro a dizer-me uma coisa muito interessante sobre a homossexualidade. Quando assumimos a nossa sexualidade e saímos do armário, começamos a perceberque o nosso empregado de mesa é homossexual, que a professora de arte que o nosso filho mais novo adora é lésbica e que nosso médico e o motorista do autocarro são homossexuais. De repente, percebemos que não somos os únicos e que estamos rodeados de amigos e pessoas simpáticas… ou até chatas, que partilham a mesma sexualidade que nós. Perdemos os preconceitos, quando isso acontece. A pouco e pouco, é o que está a acontecer no mundo ocidental.

O facto de ter podido casar, em Portugal, com o seu marido, Alexandre, mudou alguma coisa na vossa relação?
No dia-a-dia, não. Mas deu-nos um certo conforto. Quando a Sida começou a matar pessoas nos Estados Unidos, recordo-me de cenas grotescas, miseráveis e deprimentes… por exemplo, um jovem a morrer no hospital e o seu companheiro a ver negado o direito a visitá-lo porque não era da família. Eu e o Alexandre percebemos que, sem garantias legais, poderíamos correr esse risco. Ter uma certidão de casamento significa que, numa situação destas, ninguém me pode excluir da vida do meu marido.

Um dia, em São Francisco, entrou num café e viu, do outro lado da sala, um jovem, o Alexandre Quintanilha. Apaixonaram-se. Como se consegue uma relação viva, cúmplice e apaixonada por quase 40 anos, como a vossa?
No dia 6 de Dezembro, fizemos 39 anos juntos. Por vezes, digo a brincar que os primeiros 25 anos são difíceis, mas, depois disso, é canja! Temos muita sorte. Não tenho qualquer dificuldade em amar o Alexandre. Adoro-o e rimo-nos todos os dias. Adoro pegar-lhe na mão, em público ou não. Temos uma relação afectiva muito natural e informal, que não exige qualquer esforço. Mas, os primeiros anos são sempre difíceis, porque estamos a tentar compreender o outro e a lidar com as diferenças de pensamento. Ele era de uma cultura diferente da minha e pensava de outra maneira sobre tudo. Além disso, quando uma pessoa tem 20 anos, o corpo está cheio de hormonas e é mais difícil viver uma relação monógama. Agora, com 61 anos, já não tenho de fazer esforço algum. Não obstante, a coisa mais importante que aprendi foi a respeitar o Alexandre. Amei-o facilmente, mas a questão do respeito foi outra coisa. Em criança, em casa, os meus pais não se respeitavam. Gritavam, diziam coisas horríveis um ao outro. Não respeitavam a perspectiva do outro. O respeito foi algo que nunca aprendi com eles. Tive de aprender a respeitar, profundamente, as perspectivas do Alexandre, apesar de elas serem muito diferentes das minhas. Isso não significa concordar sempre. Posso discutir e discordar… Demorei uns cinco anos a aprender a fazê-lo. Foi ele quem me ensinou. Isto é uma lição para qualquer casal. Normalmente, acreditamos que respeitamos o outro, mas quando ele discorda de um aspecto fundamental da vida, não o respeitamos. Gritamos, dizemos barbaridades…

Respeitar é uma tarefa árdua.
Vejo casais que fazem cenas que são uma falta de respeito profunda pelo outro. Homens, na rua, a chamar nomes às mulheres. Mulheres que gritam com os maridos e lhes dizem: "não sabes nada. Estás sempre a dizer isso!" Se dizem, em público, estas coisas, também o fazem em casa. Quem é que nunca esteve numa mesa com amigos e eles começam uma discussão? Ficamos constrangidos. Eles não mostram respeito um pelo outro. Não sei como conseguem viver juntos. Eu e o Alexandre nunca, nunca, nunca discutimos em público. Discordamos? Sim, frequentemente, mas só de quatro em quatro anos, temos uma discussão… e em privado. Acho que temos sorte.

“As crianças sabem quando um adulto está a mentir”

Agora que já não lecciona Jornalismo na Universidade do Porto, como é o seu dia-a-dia?
Quando estou a escrever um romance, a minha vida quotidiana é muito limitada. Em casa, em Lisboa ou no Porto, escrevo. Passo seis a dez horas, por dia, em frente ao computador. Faço algumas pausas para beber chá, ver um bocadinho de televisão, descontrair, almoçar, mas, basicamente, é escrever, escrever, escrever… Acabei de terminar um dos livros para crianças.

Escreveu-o em Português?
Fiz uma coisa um pouco diferente. Uma coisa louca! Escrevi duas versões ao mesmo tempo, uma portuguesa e uma inglesa. Ao fazê-lo, notei uma coisa interessante. Por vezes, surgia- -me uma ideia em Português, que, depois, transferi para a versão inglesa e vice-versa. Cada versão, à medida que ia construído o livro, ia influenciando a outra.

Quando escreve para crianças, tem algum cuidado especial?
Quando escrevo para crianças com quatro, cinco ou seis anos, o vocabulário é diferente, as frases são curtas… e há sempre ideias que só os adultos compreenderão. Escrevo livros que terão significados diferentes para pais e para filhos. Quando se trata de um livro para jovens de dez ou 11 anos, a linguagem pode ser mais adulta, embora evite construções complicadas. Na Língua Portuguesa temos a tendência de pensar que uma construção super complexa é melhor e encontramos escritores herméticos cujas frases nunca mais acabam, cheias de cláusulas. Essa linguagem complexíssima não funciona para um menino de nove anos, pois ele não irá conseguir seguir o raciocínio. Temos de dar aos mais novos a possibilidade de entenderem a nossa escrita sem criar frustração. As crianças percebem as grandes questões da vida. O livro que terminei lida com um assunto que nunca vi tratado num volume para crianças, que são as pessoas que nascem com deformações… da cara, com problemas motores, crianças que pensam que são feias e pessoas que são ridicularizadas pelos outros. Como podemos lidar com isso de uma forma séria? Podemos dizer a uma criança, que tem uma deformação na cara, que ela "é tão bonita"… mas ela não irá acreditar porque há quem troce dela. Como podemos ajudar, de uma forma séria, uma criança a ultrapassar esse problema? Este livro e essa pergunta andaram na minha cabeça mais de um ano. As crianças sabem quando um adulto está a mentir ou a branquear um assunto. Já completei o livro, mas quero deixá-lo numa gaveta mais uma semanas e depois relê-lo, porque encontro sempre algumas coisas estúpidas que escrevi.

Etiquetas: entrevista | richard zimler: “temo que o desprezo pelas pessoas sérias e informadas chegue a portugal”homossexualidadesociedadetrump
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