O comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, Augusto Arnaut, e o segundo comandante distrital de Operações de Socorro, Mário Cerol, foram constituídos arguidos, na sequência do incêndio que deflagrou a 17 de Junho em Pedrógão Grande.
Segundo fonte da Procuradoria-Geral da República," em causa estão factos susceptíveis de integrarem os crimes de homicídio por negligência e ofensas corporais por negligência". O JORNAL DE LEIRIA sabe que o número de arguidos deverá subir.
Dois elementos do INEM e da Autoridade Nacional de Protecção Civil, bem como outros envolvidos nesta ocorrência, deverão ser ouvidos nos próximos dias no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Leiria e, possivelmente, serão também constituídos arguidos. Augusto Arnaut foi ouvido, na terça-feira, no DIAP de Leiria, cerca de uma hora e meia.
Já Mário Cerol confirmou ao JORNAL DE LEIRIA que foi ouvido na semana passada e que não está a ter apoio jurídico por parte da Autoridade Nacional de Protecção Civil. Magda Rodrigues, advogada da Liga dos Bombeiros Portugueses, que representa o comandante de Pedrógão Grande, referiu que “o ênfase que se dá a este processo obviamente faz reviver a todos, sobretudo, às vítimas, os momentos de sofrimento de dor e angústia”.
Portanto, apela para que a “justiça faça o seu papel, de uma forma célere eficaz e silente.” "Com 51 anos, o comandante é bombeiro há 32 anos, está ligado ao corpo de comando há cerca de 18 anos.
Obviamente, é um homem com provas dadas e o tempo trará com certeza a verdade a este processo. [LER_MAIS] Está, sobretudo, de consciência tranquila e tudo fez para que o desfecho fosse outro", reforçou, ao informar que o "estatuto processual do arguido permite mais vantagens e mais direitos".
Um representante da Associação dos Comandos dos Bombeiros Portugueses, Jorge Mendes, esteve em Leiria para apoiar Augusto Arnaut e referiu ser “estranho”, “começar-se pela estrutura de baixo”.
“Os bombeiros têm uma estrutura de comando, estão inseridos na Protecção Civil e existe protecção civil local, municipal e nacional. Porquê os bombeiros? Porque não perguntar por que é que a protecção civil não tinha os planos municipais activos ou por que é que a protecção civil não planeou ou coordenou a situação convenientemente?."
“Sentimos que [bombeiros] estão a ser esquecidos e a ser colocados como se fossem um bode expiatório de todas estas situações. Não queremos branquear a verdade e tem de se apurar as responsabilidades até por respeito aos que já partiram e aos que cá ficaram", acrescentou Jorge Mendes, lembrando que os “comandantes com as suas limitações, com a falta de material” fizeram o que puderam.
Neste momento, “está-se constantemente a atacar os bombeiros e os comandantes, o que é estranho". O incêndio de Pedrógão Grande atingiu vários concelhos vizinhos, esteve activo uma semana e causou, segundo o balanço oficial, 64 mortos e mais de 200 feridos.