Não há muitas pessoas que fiquem satisfeitas com um empate num derby, porque se há jogo que todos querem ganhar é precisamente aquele que é disputado com o vizinho do lado.
No entanto, para desgosto de (quase) todos, foi precisamente isso que aconteceu no desafio do passado sábado, entre as equipas de andebol da Sismaria e da Juve Lis (22-22), que contribuiu para que o sete de André Afra tenha chegado, de forma inédita, ao final da primeira volta na liderança da zona Centro da 2.ª Divisão.
Estamos, pois, com 50% da competição disputada. Esta temporada, o clube de Leiria apostou forte, mas numa perspectiva de médio prazo, tendo rejuvenescido a equipa e contratado dois internacionais por Cabo verde.
Contudo, os resultados ultrapassaram as expectativas e a equipa chega a esta linha temporal sem ter ninguém à sua frente. “Estamos na frente, os dois primeiros vão à fase final, mas não era esse o nosso objectivo inicial. Não somos favoritos, mas neste momento já somos candidatos a ir à fase final”, admite André Afra.
Na época passada, por esta altura, a Juve Lis ocupava os últimos lugares. Para o guarda-redes Francisco Aguiar, um dos capitães, foram duas, as alterações de fundo que permitiram esta melhoria de resultados.
“Há mais e melhor treino, mas também mais soluções para a equipa, apesar de ser mais jovem. É o terceiro ano em que competimos na 2.ª Divisão e estamos mais adaptados, o que tem reflexos no jogo.”
As soluções de que Francisco fala são sobretudo Kivan Dongo e Edilson Morais, atletas cabo-verdianos que representam todo um mundo novo de oportunidades.
“Era de dois andebolistas com estas características que precisávamos. O Kivan, um jogador com peso e estatura para jogar no meio dos adversários e que a curto e médio prazo nos vai ajudar também do processo defensivo, e o Edilson, um bom defensor, bom rematador e forte no jogo de um contra um, que era algo que não tínhamos. Estão ainda verdes e com muito para evoluir”, diz André Afra.
Apesar da satisfação, o treinador não quer que o grupo embandeire em arco. Realça o grande equilíbrio da série, onde “toda a gente pode roubar pontos a toda a gente”. “As épocas não se podem ver por meias épocas”, alerta.
[LER_MAIS] “Só no final podemos fazer as contas. As coisas estão a correr bem e conseguimos surpreender algumas equipas. Vamos acabar o ano com dois jogos muito difíceis fora, com o Benfica B e os Marienses, e depois vamos ver.”
No entanto, respira-se um ar saudável no balneário. “É fácil construir um bom momento sobre vitórias, porque os resultados validam o esforço que fazes”, diz Francisco Aguiar.
“Há dias em que custa treinar porque está frio, há outras coisas que gostava de fazer e a família e os amigos acabam por ser negligenciados. Mas no fundo tem-se a recompensa, quando percebemos que todo o esforço está a valer a pena. Dá um gozo muito grande treinar, evoluir e estar entre os melhores.”
O acesso aos seis que disputam a subida à 1.ª Divisão não é vista com obsessão, mas já é um objectivo do grupo, garante o treinador. “Não podemos olhar para a classificação e dizer que não somos candidatos, embora saibamos que não somos favoritos. Quem lidera no final da primeira volta, já jogou contra todos os adversários e só perdeu um jogo, não pode fugir a essa responsabilidade. Vamos tentar ir à fase final. Se conseguirmos óptimo, se não conseguirmos paciência.”
Subir à 1.ª Divisão, algo que uma equipa de Leiria não consegue há 39 anos, é que nem vale a pena falar. Pelo menos para já. “Vamos com calma. Se formos à final já é um feito histórico. O grupo é muito jovem, os jogadores mais experientes são jovens e os jogadores mais influentes também. Na maioria dos jogos isso faz diferença.”