Terão sido queimados nos incêndios oito milhões de metros cúbicos de madeira de pinho, o que representa prejuízos de 360 milhões de euros, segundo Vítor Poças, presidente da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP).
“Estas árvores tinham diâmetro para serem usadas já nas fábricas, mas a estas juntam-se as que estavam em fase de crescimento, que também arderam, e esse prejuízo ninguém consegue identificar”, explicou o dirigente ao JORNAL DE LEIRIA.
Para que estas árvores queimadas não “apodreçam de pé”, nos pinhais, é preciso começar a proceder entretanto ao seu corte. Mas como a indústria “não tem capacidade produtiva para escoar num tempo aceitável” a madeira ardida, é preciso encontrar soluções para o seu armazenamento. Uma das sugestões, apresentadas ao secretário de Estado das Florestas,
Miguel Freitas, numa reunião realizada a semana passada em Pombal, é a criação de parques submersos, em zonas relativamente próximas das áreas ardidas. “Esta madeira queimada pode ser utilizada, mas sem chuva vai apodrecer muito rapidamente, daí a importância dos parques submersos”, diz Vítor Poças, explicando que dessa forma a madeira poderia conservar-se até dois anos. À Lusa, o secretário de Estado disse que a medida está a ser equacionada pelo Governo.
[LER_MAIS] Na perspectiva da associação que representa as indústrias de madeira, o corte de árvores deve centrar-se nas zonas afectadas pelos incêndios, de forma a “aproveitar ao máximo o património florestal danificado, evitar perdas e danos ainda mais significativos para os proprietários e indústria com base no pinho e permitir a salvaguarda das árvores verdes que não foram afectadas”, aponta uma nota enviada no início desta semana ao secretário de Estado das Florestas, e citada pela Lusa.
No documento, o presidente da AIMMP reitera as sugestões apresentadas por algumas empresas para que sejam abertos concursos de venda dos lotes de madeira queimada no Pinhal de Leiria, “com facilidades de pagamento em prestações, para que os operadores possam acelerar a sua actividade industrial, comercial e consumo imediato, além de adquirirem capacidade para armazenamento em parques próprios durante dois anos”.
Na reunião da semana passada em Pombal, onde estiveram 150 pessoas, sobretudo empresários, foram identificados os grandes problemas das serrações, das indústrias de madeira e dos resineiros, que assentam sobretudo nos prejuízos e na falta de matéria-prima. Vítor Poças estima que muitas serrações possam fechar nos próximos cinco anos, levando a uma perda directa de cinco mil empregos.
Sector “sob grande ameaça”
“Totalmente dependente” da floresta nacional de pinheiro bravo, o sector da resinagem perdeu, com os últimos incêndios, “algumas das melhores áreas de pinhal que existiam” e ficou “sob grande ameaça”. Destruída entre 20 e 25% da área resinada, ou seja duas mil toneladas de resina, estando em causa 200 postos de trabalho e prejuízos directos superiores a três milhões de euros, a associação Resipinus frisa que “urge agilizar esforços” para apoiar o sector. Para a viabilidade da resinagem, aponta a necessidade de criar compensações financeiras para os resineiros que perderam resina e equipamentos; a abertura à resinagem das áreas de pinhal administradas pelo ICNF; a renegociação dos contratos para zonas ardidas; a redução de custos com a Segurança Social; e o enquadramento da resinagem como actividade produtiva de protecção florestal. “Esperemos que os fatídicos acontecimentos deste ano despertem finalmente a necessidade de implementação de medidas adequadas que permitam não só a manutenção da resinagem, mas também a sua valorização e o seu desenvolvimento, permitindo o seu adequado enquadramento e aproveitamento”, diz em comunicado datado desta terça-feira.