Um milhão de bicas queimadas, ou seja, entre 20 e 25% do total resinado em Portugal, 2500 toneladas de resina perdida, pelo menos três milhões de euros em prejuízos e 200 postos de trabalho directamente ameaçados, em cerca de 50 empresas.
Estes são alguns dos números que ajudam a perceber os impactos dos incêndios no sector da resinagem, de acordo com a Associação de Destiladores e Exploradores de Resina (Resipinus), sediada em Leiria.
Leonel Bento, de Porto de Mós, resineiro há 30 anos, é um dos empresários afectados. Das 80 mil bicas que tinha, perdeu 50 mil nos incêndios. Se lhe juntarmos os materiais que também perdeu, os prejuízos ascendem a 130 mil euros. “Não há seguros e quem sofre sou eu”, lamenta.
“Vai ser complicado, tanto para mim como para o pessoal”, disse ao JORNAL DE LEIRIA. Tem sete empregados e admite que não sabe como será daqui para a frente. “O futuro depende do facto de o Governo vir a disponibilizar, ou não, mais pinhais para resinagem em vida [durante o crescimento do pinheiro]”.
Esta é, aliás, uma das pretensões saídas de uma recente reunião extraordinária da Assembleia Geral da Resipinus. Os resineiros querem que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) disponibilize pinhais para o sector poder manter a resinagem, sob pena de empresas encerrarem.
[LER_MAIS] “Exigimos ao ICNF a disponibilidade absoluta das áreas que têm sob a sua jurisdição e que não estão a ser resinadas, como forma de compensar as áreas e os postos de trabalho perdidos pelos resineiros e uma forma de minimizar os prejuízos”, disse à Lusa Hilário Costa, explicando que o objectivo é que haja mais atribuição de lotes de pinheiros para resinar em vida, e não apenas quando se aproxima o corte da árvore. É que, se os resineiros “não tiverem áreas para resinar, nem apoios, vão desaparecer".
Para já, a estimativa é a perda de 200 postos de trabalho nos distritos de Leiria, Coimbra e Viseu, que “poderão ser permanentes se não houver apoios”. “Um pinheiro só daqui a 20 ou 30 anos é que dá de novo resina”, diz o empresário.
Hilário Costa adiantou à Lusa que o sector em Portugal produzia na ordem dos 15 milhões de euros, mas a produção “não chega a 10% das necessidades” da indústria transformadora. Manuel Capela, do concelho de Leiria, resineiro há mais de 40 anos, acredita que as empresas que transformam a resina “vão ter dificuldades” em obter matéria-prima.
No seu caso, a resina que colhia era vendida a uma empresa de Leiria. Perdeu nos fogos 15 mil bicas, das 160 mil que tinha em exploração. O prejuízo ronda dos 15 mil euros, estima. Emprega 12 pessoas, e por enquanto não tenciona despedir nenhuma, porque “já eram insuficientes”.
Octávio Ferreira, silvicultor, diz igualmente que, em termos económicos, as consequências dos fogos são “um desastre”, pela “matéria-prima de qualidade, designadamente madeira, que desaparece do mercado nos próximos 50 anos, pela resina que somente nessa ocasião será explorada, pelas indústrias que irão fechar se não se reconverterem, pela madeira que o País terá de importar, pelos prejuízos que o Estado e particulares acumularão”.
Sector florestal exige medidas
“A situação actual é de um cenário de pós-guerra, as medidas em curso são insuficientes para a resolução do problema e os representantes do sector florestal não estão a ser ouvidos”. É esta a posição de um conjunto de associações ligadas à floresta, que defendem que há medidas urgentes que têm de chegar ao terreno a curto prazo e solicitaram audiências, com carácter de urgência, ao Parlamento e ao primeiro-ministro. Em comunicado, as seis organizações subscritoras frisam que o total da produção da silvicultura e exploração florestal foi de 1241 milhões de euros, enquanto o Valor Acrescentado Bruto (VAB) da silvicultura registou, em 2015, cerca de 893 milhões de euros. No ano passado, “as exportações florestais totalizaram 4,7 mil milhões de euros, enquanto que o saldo da balança comercial dos produtos de origem florestal registou um excedente de 2,5 mil milhões de euros”.