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Não foi um final de mandato para arrumar a secretária. Fernando Lopes enfrentou um dos maiores desafios enquanto presidente da Câmara de Castanheira de Pera com o incêndio de 17 de Junho, que se iniciou em Pedrógão Grande e que se estendeu aos dois concelhos vizinhos, provocando a morte de 64 pessoas.
“Não foi nada fácil. Ninguém imagina um final assim, mas há que arregaçar as mangas e ir à luta”, afirma, uma semana depois de deixar o cargo de presidente. “Agora vou descansar. Tenho direito ao descanso, depois de um período conturbado. Durante o tempo autárquico quase não gozei férias. Vou optar por um período sabático, ler coisas que nunca tive tempo para o fazer e até viajar”, revela Fernando Lopes.
Chegou o momento da família, tantas vezes prejudicada pela causa política, ser compensada. “Arrependo-me de alguma ausência que causei à família para exercer a função com mais profundidade, mas sempre existiu uma retaguarda e compreensão. Agora estou mais disponível para fazer várias coisas, como ter alguns fins-de-semana livres.”
Depois de duas décadas ligado à política, o ex-presidente admite que ainda não sente saudades da vida autárquica, porque “passou muito pouco tempo” e é como se “estivesse numa fase de férias”. Mas, garante que não pretende regressar à política.
“Vinte e quatro anos de política, chega. Estou na Assembleia Municipal como forma de me desligar lentamente e para que o corte não seja tão repentino. Sou um cidadão activo e vou continuar a preocupar-me com o concelho”, confessa.
Professor aposentado, vai avaliar possíveis projectos para poder abraçar no futuro. Deixar de ser presidente da Câmara “é o mais natural do mundo”. “Há pessoas que me continuam a chamar presidente e sou eu que digo: ‘já não sou’.” Fernando Lopes salienta que sai de “consciência absolutamente tranquila” com a certeza de que fez “em cada momento aquilo que era necessário fazer”.
[LER_MAIS] Deixa o Município de Castanheira de Pera com o “reequilíbrio financeiro assegurado”, com várias candidaturas aprovadas – “algumas delas com financiamento garantido a 100%” – e com 2,1 milhões de euros em caixa. “Até podia ter amortizado mais, mas a palavra de ordem é fazer investimento.”
Paddle e projectos ‘na água’
É um homem do mar, cujo nome já é conhecido além-fronteiras, sobretudo no mundo do surf. António José Correia está de férias. Atrasou uns dias para estar presente na etapa do circuito mundial de surf, que decorreu na semana passada em Peniche, apesar de ter deixado de ser presidente da Câmara no sábado, dia 20.
Desde que assumiu a presidência do Município, que colocou Peniche na rota do surf e do bodyboard, tornando a cidade na ‘capital da onda’. Findas as responsabilidades políticas, Tozé, como é conhecido, está de férias e a estudar propostas de projectos ligados ao oceano. “Já tratei da reforma, mas não vou atracar ao cais nem encalhar. É preciso fazer mais uma viagem.”
A nova viagem terá o mar como caminho. “Adquiri competências em torno da questão do mar. Vou encontrar um local que seja um desafio e onde me sinta bem. Há muita coisa para fazer na área náutica e na literacia para o oceano, em diferentes vertentes, como educação e ambiente, por exemplo.”
Agora terá também mais tempo para dedicar ao surf, mas também ao stand up paddle, onde a neta mais velha, já faz inveja ao avô pela forma como se equilibra na prancha, apesar dos seus 4 anos. “Posso dedicar-me mais aos netos e à família.”
A saída da Câmara foi emocionalmente dolorosa, a que não ficaram alheias mensagens recebidas. “Fartei-me de chorar nos últimos dias. Houve muita emoção e reconhecimento. É gratificante sentir que as pessoas tiveram respeito pelo cargo que tive”, revela.
E volta daqui a quatro anos? “É claro que não. É um acordo familiar. Há muitas mais coisas para fazer. Não é que não tenha gostado da função, mas posso ser útil ao meu município e à região noutros cargos.”
Com formação na área financeira, António José Correia afirma que lhe foi útil para a gestão autárquica. “Deixei uma situação invejável no Município, mesmo tendo a segunda taxa de IMI mais baixa do Oeste”, adianta, admitindo que irá acompanhar o que se passa à sua volta.
Considera que foi uma experiência “muito enriquecedora” e que contribuiu para um maior desenvolvimento de Peniche, através do surf. “Tive surpresas fantásticas e algumas decepções também. O balanço é extremamente positivo.”
