Leiria é a terceira cidade do País a dispor de uma associação de doentes da dor. Chama-se Da dor para a dor e 'nasceu' dos desabados feitos por pacientes e familiares na sala de espera e nas consultas da especialidade do Centro Hospitalar de Leiria (CHL). E surgiu precisamente com o objectivo de aconselhar, apoiar e escutar os doentes com dor e melhorar o seu acesso aos tratamentos.
“Encontrar em conjunto algumas soluções, ainda que mínimas, que possam contribuir para melhorar a qualidade de vida dos doentes com dor e seus familiares é o grande objectivo”, explicou Teresa Fernandes, presidente da associação, durante a sua apresentação pública, que aconteceu no último sábado, no decorrer das comemorações do Dia Mundial da Anestesiologia.
Na ocasião, Teresa Fernandes, que integra o grupo de cerca de 2500 pacientes acompanhados pela Unidade de Dor do CHL, frisou os impactos da doença, numa sociedade que “nem sempre reconhece o sofrimento causado pela dor, não só a dor física, mas também A psicológica”.
“A dor provoca sofrimento geral. É causadora da alteração da qualidade de vida dos doentes, gera incapacidade, depressão E angústia”, explica, admitindo que, muitas vezes, quem sofre de dor crónica “tornase um fardo para a família e para a sociedade”.
[LER_MAIS] “Viver com a dor não me prejudica só a mim, mas também à minha família. Não é fácil ouvir-me dizer que estou sempre com dores”, reforçou Sara Soares, outra das doentes acompanhadas pela Unidade de Dor, que destacou também a “incompreensão” da sociedade.
“É muito complicado ouvir frequentemente perguntas do tipo: ' então ainda não trabalhas?' ou 'O que tens?'. Temos de dar a conhecer a doença e mostrar que não é preciso sofrer tanto”, defendeu.
Ana Pedro, presidente da Associação Portuguesa para Estudo da Dor, realçou, por isso, o papel das associações de doentes, considerando-as “fundamentais para chegar à população, através da educação para a saúde, para a doença e para a prevenção”.
Além disso, funcionam como “força de pressão para alterações legislativas”, no sentido de “dotar todos os médicos da formação necessária para perceberem melhor o doente com dor” e, dessa forma, poderem “tratá-lo melhor”.
Durante as comemorações do Dia Mundial da Anestesiologia, Helder Roque, presidente do Conselho de Administração do CHL, revelou que a instituição devia ter “mais oito anestesiologias”, a juntar aos actuais 18, que, em breve serão 17.
“Exigimos uma política de distribuição de médicos baseada no rácio de médicos por habitante e que se inicie, o quanto antes, a correcção de assimetrias”, defende.
“A dor fazia parte da minha vida”
Um acidente deixou-o tetraplégico aos oito anos. Nuno Prazeres, empresário de Fátima, recuperaria a mobilidade, assim como a visão e a fala, que também perdera. Voltou a andar, ainda que com algumas limitações, e a fazer uma “vida normal”. Frequentou a licenciatura em gestão e abraçou a actividade empresarial. “A dor fazia parte da minha vida. Vivia com ela desde pequeno”.
Começou a queixar-se aos médicos e, há três anos, foi aconselhado a ir à consulta da dor, onde iniciou tratamentos que lhe devolveram qualidade de vida. “Vive-se melhor sem dor. Ao início, até estranhei a adaptação. Reduzi o absentismo ao trabalho.
Antes, quase todos os Invernos ficava um mês de cama, devido à dor física”, conta Nuno Prazeres que, além da actividade empresarial, tem-se dedicado a várias causas públicas, nomeadamente à política, como dirigente do CDS-PP e deputado municipal em Ourém.