As receitas da Mata Nacional de Leiria chegavam para gerir, cuidar e planear? Chegavam e sobravam. Mas eram aplicadas noutras regiões. Os próprios técnicos do ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas admitem que o problema é sobretudo a falta de orçamento exclusivo para o Pinhal do Rei, com poder de decisão local, o que explica o défice de investimento e meios humanos ao longo dos últimos anos.
Afinal quanto rendia a Mata Nacional de Leiria? Aproximadamente 2 milhões de euros por ano. Mas o investimento não chegava a 200 mil euros por ano.
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As contas datam de 2009, mas fonte do ICNF garante que se mantêm actuais. Entre 2000 e 2009, o Estado encaixou 20.627.176 euros com a venda de material lenhoso (para a produção de móveis, pavimentos em madeira e estacaria) e mais 277.412 euros com outros produtos do Pinhal do Rei. No mesmo período, o investimento em arborização e beneficiação não somou mais do que 1.756.697 euros. Ou seja, para uma receita média de 157 euros por hectare e por ano, o Estado investiu 13 euros por hectare e por ano. Mesmo acrescentando o custo da estrutura (8 euros por hectare e por ano), o valor fica muito aquém do rendimento obtido. Os dados são do ICNF e são públicos.
Na década de 1970, o Pinhal de Leiria era gerido pelos serviços florestais com sede na Marinha Grande, que respondiam a Lisboa. Tinham 180 trabalhadores, 25 guardas florestais e cinco técnicos superiores. E um orçamento. Hoje não há guardas florestais e os trabalhadores não chegam a dezena e meia, comandados por um técnico. Sem dinheiro para mais do que pequenas operações de rotina.
Tudo começou a mudar em 1994, com a criação da Zona Florestal do Pinhal Litoral, com sede na Marinha Grande, mas na dependência de Coimbra. O esvaziamento da representação da Marinha Grande acentuou-se em 1997, quando a Direcção Regional de Agricultura da Beira Litoral absorveu os serviços florestais regionais.
Mas as reformas orgâncias não ficaram por aqui: em 2003 foi criada a Autoridade Florestal Nacional no Ministério da Agricultura. E em 2013, deu-se a fusão dos serviços do ambiente e da floresta no ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, a quem está hoje entregue a gestão do Pinhal de Leiria: a delegação da Marinha Grande responde a Coimbra, que depende do Departamento de Conservação da Natureza e Florestas do Centro, com sede em Viseu, debaixo da tutela do Ministério da Agricultura, em Lisboa.