Depois da notícia do JORNAL DE LEIRIA da semana passada, o Município de Ourém lançou um alerta para a presença de vespas asiáticas no concelho.
Matam as abelhas, alteram a relação de forças no ecossistema, prejudicam a polinização e ameaçam os rendimentos dos produtores de mel. Ninhos de vespa velutina, mais conhecida como vespa asiática, foram identificados pela primeira vez este ano no distrito de Leiria. A espécie entrou em Portugal em 2011 – pelo Alto Minho – e tem vindo a expandir-se para Sul. Nas últimas semanas, os serviços municipais de protecção civil detectaram colónias em Alvaiázere e Ansião, uma em cada concelho, entretanto destruídas.
No portal SOS Vespa, que é gerido pelo Estado, através do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), estão sinalizados dois avistamentos de vespas asiáticas, no arquipélago das Berlengas e no concelho de Leiria, ambos em 2015, num total de 13 exemplares. Mas nenhum ninho. E os ninhos validados em Alvaiázere e Ansião, os primeiros no distrito de Leiria a chegar aos canais oficiais, continuavam ontem, quarta-feira, pela manhã, sem registo na plataforma. INCF, Direcção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) não responderam ao pedido de informação do Jornal de Leiria.
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A vespa asiática não é considerada mais perigosa para os seres humanos do que a vespa europeia. No entanto, é uma espécie predadora de outras vespas, de abelhas e de outros insectos. Representa um risco para a apicultura, a produção agrícola e para o próprio meio ambiente, devido ao sucesso na reprodução e na conquista de território. Cada ninho alberga até 2.000 vespas e 150 fundadoras, que no ano seguinte criam pelo menos seis ninhos. Quando não matam as abelhas, as vespas asiáticas levam-nas a restringir a actividade, o que também afecta a produção de mel e a polinização.
Na última sexta-feira, 25, funcionários da Câmara de Alvaiázere acompanharam a destruição da primeira colónia no concelho, na zona da Várzea dos Amarelos. "Estava dentro de um anexo. As pessoas estão no estrangeiro, vieram passar férias e aperceberam-se do ninho, com cerca de um metro de altura", explicou Isabel Pimenta, técnica do gabinete municipal da Protecção Civil. Também no concelho vizinho de Ansião, o comandante dos bombeiros voluntários, António Marques, confirma uma outra ocorrência, na freguesia de Chão de Couce. E a poucos quilómetros, em Figueiró dos Vinhos, têm surgido suspeitas a motivar a intervenção dos bombeiros.
Esta semana, em declarações à rádio TSF, o presidente da associação ambientalista Quercus acusou o Governo de falhar no Plano de Acção para a Vigilância e Controlo da Vespa Velutina em Portugal. "Em 2012 começámos com nove ninhos e passado cinco anos temos milhares de ninhos (…) Os resultados falam por si, é um fracasso", afirmou João Branco, considerando que o modelo peca por excesso de burocracia. Além do ICNF, DGAV e INIAV, o Plano envolve municípios e juntas de freguesia, GNR, direcções regionais de Agricultura e Pescas, associações, proprietários e apicultores. A comunicação do avistamento da vespa asiática é obrigatória – através do portal www.sosvespa.pt, linha SOS Ambiente (808 200 520), via smartphone (aplicação SOS Vespa) ou directamente nas autarquias. E é responsabilidade da Protecção Civil zelar pela destruição dos ninhos.
Segundo Anabela Mendes, técnica da Associação de Apicultores da Região de Leiria, Ribatejo e Oeste (AARL), o ano de 2017 marca a entrada da vespa asiática no distrito de Leiria. Até à data, o efeito na produção de mel "não é significativo", esclarece. "Nesta campanha passada notou-se mais o impacto da seca e dos incêndios. E há outra doença, que é grave, a varroose, bastante mortífera". Os 950 associados da AARL mantêm, em média, 25 mil colmeias e produzem 100 a 120 toneladas de mel por campanha.
Como identificar a vespa asiática?
A vespa asiática distingue-se da vespa europeia porque tem as patas amarelas (e não castanhas), o tórax muito escuro quase preto (e não castanho) e a cabeça castanha ou preta (e não amarela). É uma vespa de grandes dimensões, com face laranja ou amarelada, corpo castanho-escuro ou preto, delimitado por uma faixa fina amarela e um único segmento abdominal amarelado-alaranjado, o que a diferencia de qualquer outra. As asas são escuras e as patas castanhas com as extremidades amarelas. As vespas nativas europeias são aliadas no combate à vespa asiática. Daí a importância de distinguir as duas espécies. A comunicação de avistamentos, ou suspeitas, é obrigatória. A subespécie de vespa asiática introduzida na Europa é a a vespa velutina nigrithorax, também chamada de vespa das patas amarelas. É originária do norte da Índia, Butão, China e Indonésia.