Lembra-se do rapaz alto, louro e cabelo rapado que durante quatro anos defendeu a União de Leiria? Pois é, Gabriel Atz está de regresso a Portugal, depois de passagens pela Rússia, Espanha, Bulgária e depois Brasil.
Aos 36 anos, o defesa-central, que trabalhou com Manuel Cajuda, Vítor Pontes, José Gomes e Jorge Jesus, ainda se sente em forma e com experiência para jogar. “Neste momento, estou a manter a minha condição física e estou em conversações com uma equipa. Vim a Portugal para tratar de assuntos pessoais e o bichinho do futebol bateu.
Para recuperar a forma, treinei junto do Sindicato dos Jogadores e no Atlético Clube Marinhense – aproveito para deixar um agradecimento pela recepção e por ter tido oportunidade de manter a minha forma física com eles. Estou já numa melhor condição física e com mais ritmo do que estava quando cheguei há 20 dias”, revela o brasileiro ao JORNAL DE LEIRIA.
O jogador conta que a sua experiência e capacidade física lhe permitem jogar “mais alguns anos”. “Defesa-central é uma posição que, tendo um bom posicionamento e uma boa leitura de jogo, permite esticar a carreira na idade. A minha experiência ainda pode ajudar muitas equipas. Tenho qualidade e potencial e todo esse lastro de experiência que obtive em diferentes países e culturas, que me capacitam hoje ser uma mais-valia para a equipa onde for jogar”, garante.
No primeiro semestre do ano, Gabriel fez um interregno na carreira de futebolista e trabalhou no Lajeadense como analista de jogo. O defesa- -central filmava todos os jogos da sua equipa e dos adversários para fazer uma análise detalhada dos jogadores e de tudo o que se passa no jogo.
Considerando um “trabalho de grande valia”, Gabriel adianta que a análise de jogo acompanha-o desde o tempo da União de Leiria. “Quando estava em Leiria fiz um curso de análise de jogo. Mesmo estando a jogar sempre procurei fazer mais cursos. Isso tem a ver com a forma como um defesa-central vê o jogo, porque organiza a equipa de trás e tem de ter uma noção de posicionamento muito forte.”
[LER_MAIS] Apesar da ascendência alemã, Gabriel Atz prefere Portugal para viver. “Pretendo fazer a minha vida aqui, com a minha família. Vejo os meus filhos a crescerem e a estudarem aqui e eu também quero fazer isso. “Apesar da Alemanha ser um grande país, com uma grande organização e economia, prefiro o calor humano dos portugueses aos alemães que são pessoas um pouco frias.”
Depois das várias passagens pela Europa, Gabriel Atz regressou ao Brasil por um projecto familiar, onde se fixou em Santa Clara do Sul, no Rio Grande do Sul, a 120 quilómetros de Porto Alegre. Não se arrepende de ter trocado a União de Leiria pelo Rubin Kazan, uma vez que a proposta era irrecusável, “quer em termos financeiros quer de desafio, de jogar noutra Liga e conhecer uma nova língua e cultura”. Mas lamenta não ter regressado mais cedo a Portugal, “porque houve convites para vir jogar”.
“Adoro Portugal e Leiria. Tenho muitas boas lembranças, principalmente da cidade de Leiria, onde vivi quatro anos, onde nasceu um dos meus filhos e onde tive uma relação muito boa com o clube e com os adeptos. Por onde andei ou onde quer que vá estou sempre a falar de Portugal, nas pessoas, da maneira como se joga e se treina e da qualidade do futebol português. Os resultados mostram isso: Portugal foi campeão europeu”, salienta o jogador.
A insegurança que se vive no Brasil, a redução do poder de compra com o quase desaparecimento da classe média, pressionam ainda mais Gabriel a querer regressar a um País que já é seu, já que tem dupla nacionalidade.
De Manuel Cajuda a Jorge Jesus
Aos 20 anos, Gabriel Atz chegou a Leiria pelas mãos de Manuel Cajuda. Foi na cidade do Lis que cresceu como jogador. Disputou a Taça Intertoto e esteve na final da Taça de Portugal, prova que perdeu diante do FC Porto. O defesacentral não esquece os treinadores com quem trabalhou. “Manuel Cajuda, Vitor Pontes, José Gomes e Jorge Jesus foram muito importantes para a minha formação enquanto atleta e como homem. Aprendi muito com todos, precisamente por todos terem diferenças nos seus métodos de treino.” O atleta agradece a Cajuda ter-lhe aberto as portas da 1.ª Liga. “Ensinou-me muitas coisas, como a perseverar e a ser 'rijo'. Era um treinador que deixava a equipa no seu melhor fisicamente e tirava o melhor de cada atleta.” Vítor Pontes mostrou ser “uma grande pessoa e ter uma excelente gestão de equipa”. Trabalhava o grupo “para um jogo apoiado, mais ou menos a seguir os métodos de Mourinho”. “Acima de tudo destacaria o lado humano e a sua humildade.” O pouco tempo que trabalhou com José Gomes (substituído nas primeiras jornadas) deu para perceber “métodos inovadores”. “Jorge Jesus foi uma das grandes influências na minha vida. Foi a época mais bem conseguida no Leiria e onde pude aprender muito ao nível do jogo. É um treinador com uma enorme capacidade na leitura do jogo e na forma como monta as equipas e nas informações que obtém. Ele consegue ser um treinador completo e passar detalhes para cada posição do jogador.” Olhando para trás, o central entristece-se com a posição da União de Leiria. “Foi uma equipa que sempre acostumou toda a gente a jogar um bom futebol e a fazer equipas competitivas. Mesmo sendo um clube pequeno metia-se a 'brigar' com os grandes. Desejo que a União de Leiria possa estar o mais rápido possível no primeiro escalão, que é o seu lugar e do qual nunca deveria ter saído.”