Que impressão lhe proporcionou a visita a Leiria?
A visita foi curta, mas muito intensa e fiquei agradavelmente surpreendido com as pessoas. As pessoas são muito simpáticas e têm necessidade de nos ver e de sentir a televisão mais próxima delas. Fui muito bem recebido. Não ia a Leiria há muito tempo. Tenho amigos de Leiria, mas que estão a viver em Lisboa. Por isso, não tenho por hábito ir até lá. A última vez que o fiz foi em 2009, para o campeonato da Europa de atletismo por equipas, no Estádio Magalhães Pessoa
Portugal continua a ser Lisboa e o resto paisagem?
Não, não faço essa leitura. E se alguém a fez está completamente errado. Portugal é muito mais do que Lisboa. De Junho a Outubro estamos precisamente a provar isso. A SIC está todas as sextas-feiras ns capitais de distrito a mostrar às pessoas que elas não estão esquesão apenas um número quando olhamos para audiências. É preciso estar próximo dessas pessoas. E cada vez que saímos de Lisboa – e contra mim falo, porque raras vezes saio quer profissionalmente quer até do ponto de vista pessoal, devia sair mais – encontramos coisas maravilhosas fora das cidades, em todos os distritos.
Há alguma coisa que o tenha surpreendido particularmente nesta região? Surpreendeu-me muito o passeio que fiz até ao Castelo de Leiria e gostei muito do jantar. Comi como não comia há muito tempo. A gastronomia local é maravilhosa.
O que aprendeu com a imprensa regional que tenha transportado para a televisão? Quase tudo. Eu comecei por trabalhar na imprensa regional. Primeiro em jornais e depois na rádio, antes de chegar à televisão em 1999. Tenho seis anos de imprensa regional e, para mim, foi a melhor escola. Mais do que a universidade, onde supostamente se aprende. [LER_MAIS]
E nem me posso queixar muito, porque fiz o curso numa universidade que tinha uma componente prática bastante acima do que era habitual nessa altura. Aprende-se mesmo é a trabalhar na imprensa regional. Tenho a perfeita noção de que se tivesse feito apenas um percurso académico, sem essa experiência, hoje não estaria a fazer o que faço. É essa experiência que pesa em ficar ou não num projecto com a dimensão da SIC.
O mudou na televisão desde os tempos em que trabalhava no Canal de Notícias de Lisboa?
Mudou muita coisa. Eu mudei muito. Estou mais velho e ainda bem. Porque convivo melhor hoje com a minha imagem e estou também mais experiente. O momento em que começo a fazer televisão é um momento de viragem na televisão portuguesa. Aparecem os primeiros canais por cabo e as notícias por cabo. E na altura havia muitas dúvidas se haveria espaço para um canal de notícias em Portugal. E não havia espaço para um, havia espaço para os cinco ou seis canais que existem hoje em dia. A principal diferença foi o facto de o público passar a ter outras opções para ver televisão, além da televisão generalista.
Que espaço há para o jornalismo, num momento em que todos são produtores e difusores de informação?
Há espaço. As redes sociais são cada mais um veículo de informação. Se olharmos bem, todas as grandes empresas de comunicação social estão a apostar cada vez mais nessa área. Temos é de nos adaptar para chegar a novos públicos.
Quais são as notícias mais difíceis de dar?
Infelizmente quase todas, porque quase todas as notícias que damos são más. São poucas as boas notícias que damos. A mim, tocam- me particularmente as notícias que dizem respeito a maus tratos e a condições de vida difíceis de idosos e de crianças.
Há como deixar a emoção de lado em casos dramáticos, como o de Pedrógão Grande? Não se consegue. O jornalista não é totalmente imparcial em qualquer trabalho que faz. Nem num trabalho de grande comoção, como esse, nem numa simples conferência de imprensa. Ao construir um texto está a deixar um cunho seu. Num caso desses é ainda mais complicado. Mas o público aí também percebe e quase que exige que nós exprimamos as nossas emoções, os nossos sentimentos. Naturalmente que de uma forma controlada, dentro do bom senso, sem exageros como por vezes são cometidos.
Que notícia gostaria de ter dado e ainda não deu? Gostava muito de vir a dar notícias sobre a cura para o cancro e sobre a vacina contra a Sida. Espero ter carreira suficiente para isso.
O seu dia tem que começar bem cedo… O meu dia começa às 3 das manhã.
E que tipo de amizades se travam a essa hora?
Só com o pessoal da equipa e por vezes com alguns amigos que sei que estão acordados a essa hora, através das redes sociais.
Não deve ser fácil conciliar a sua vida profissional com família e amigos…
É. Tenho uma vida familiar muito presente, diariamente, pelo menos com a família que me é mais próxima: a minha mãe, o meu cunhado, os meus sobrinhos… Com este horário tenho a vantagem de sair relativamente cedo e tenho o resto do dia todo para mim. Posso jantar fora? Não posso. Mas posso almoçar quando outros não podem.
Em que ocasiões consegue despir o fato de pivot?
Quem é jornalista é jornalista a vida toda e em todos os momentos. Mas sim, consigo despir o fato de pivot e ser uma pessoa um pouco mais relaxada do que as pessoas conseguem ver lá em casa, e com gostos que as pessoas desconhecem lá em casa, e com um quotidiano normal.
Num rectângulo tão pequenino como o nosso, como é se lida com o mediatismo?
É não dar muita importância ao facto de as pessoas nos conhecerem. Senão vivemos em função disso e não pode ser.
Corridas, ginásio e comida
João Moleira nasceu em Vila Franca de Xira há 39 anos. Formou-se na Universidade Independente e faz jornalismo há 24 anos. Estreou-se na imprensa regional, no jornal Notícias de Alverca, fez rádio e começou a trabalhar em televisão no Canal de Notícias de Lisboa, de onde passou para a SIC. O apresentador admite que as situações mais constrangedoras nos directos são as de riso, que é preciso aprender a controlar, a pensar em situações tristes. Se não fosse jornalista? Teria sido chef de cozinha, acredita João Moleira, que tem por passatempos as corridas, o ginásio, as viagens, a leitura, estar com amigos e, lá está, comer muito.